Essa semana, falamos no Portal PEBMED sobre o controle glicêmico no paciente hospitalar. Por isso, em nossa publicação semanal de conteúdos compartilhados do Whitebook Clinical Decision, vamos apresentar a melhor maneira de identificar uma hiperglicemia hospitalar.
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Fisiopatologia
A hiperglicemia pode ser um determinante independente do prognóstico de pacientes críticos, ou apenas um marcador de gravidade da doença. Alguns dos mecanismos responsáveis pela hiperglicemia em pacientes gravemente enfermos são: liberação de hormônios de estresse contrarregulatórios (corticosteroides e catecolaminas) e mediadores pró-inflamatórios; administração de corticosteroides exógenos, drogas vasoativas e soluções parenterais contendo dextrose.
A fisiopatologia da hiperglicemia de estresse é complexa, envolvendo a associação de resistência à insulina e supressão da liberação de insulina pelo pâncreas.
Os resultados dos efeitos associados da hiperglicemia e da enfermidade grave são disfunções do sistema imunológico e das respostas inflamatórias, amplificando fatores como: estresse oxidativo, disfunção mitocondrial, morte celular e lesão tissular, podendo culminar com insuficiência orgânica.
Abordagem Diagnóstica
Exames laboratoriais:
- Glicemia: todos os pacientes, independentemente de um diagnóstico prévio de DM, devem ter a glicemia dosada nos exames de admissão hospitalar;
- Hemoglobina glicada (HbA1C): todos os pacientes internados com DM conhecido ou com hiperglicemia (> 140 mg/dL) devem ter HbA1C avaliada, caso isso não tenha sido realizado nos 2 a 3 meses anteriores. A dosagem da HbA1C permite avaliar o controle glicêmico prévio e auxilia no planejamento da alta.
- Dosagem de corpos cetônicos: recomendada no caso de portadores de diabetes mellitus tipo 1 (DM1), patologias do pâncreas, acidose ou glicemia > 300 mg/dL.
Critérios Diagnósticos
- A hiperglicemia em pacientes hospitalizados é definida como níveis glicêmicos > 140 mg/dL;
- Hiperglicemia de estresse: nível glicêmico > 140mg/dL sem história prévia de diabetes ou hemoglobina glicada (HbA1c) > 6,5%;
- Nos pacientes hiperglicêmicos sem diagnóstico prévio de DM, níveis de HbA1C superiores a 6,5% permitem estabelecer o diagnóstico de DM. Observar que perdas e transfusões sanguíneas, hemoglobinopatias, insuficiência renal e uso prolongado de corticoides reduzem a sensibilidade da HbA1C.
Acompanhamento
- Monitoramento da glicemia capilar (GC):
- Glicosímetros capilares de ponta de dedo: observar possibilidade de resultados errôneos em casos de anemia, acidose, edema, hipoperfusão periférica ou choque. É possível substituir pela dosagem de glicemia feita em aparelhos de gasimetria, método mais confiável;
- Os glicosímetros de “ponta de dedo” têm limitações para medir a glicose no sangue. Antes de escolher um dispositivo para uso hospitalar, considere seu status de aprovação e precisão;
- Glicemia a partir de coletas de amostras de cateter venoso ou arterial. Cuidados: evitar contaminação com soluções ricas em glicose infundidas em região próxima ao sítio da coleta;
- Testes de glicemia frequentes são necessários em pacientes que recebem insulina EV. Verificar a glicose 1 hora após cada alteração da taxa de infusão até estabilizar (pelo menos dois valores entre 140-180). As verificações da glicemia podem então ser reduzidas para 2/2 horas. Quando os valores estiverem dentro do intervalo desejado por 12 horas, reduzir as verificações para 4/4 horas.
- Monitorização contínua da glicose em tempo real (CGM): Até que mais dados de segurança e eficácia estejam disponíveis, o uso de CGM em adultos em ambiente hospitalar não deve ser recomendado.
Alvos Glicêmicos
- A meta glicêmica recomendada está entre 140-180 mg/dL;
- No caso de diabéticos com bom controle e sem hipoglicemia frequente ou em pós-operatório de cirurgia cardiovascular, as metas glicêmicas podem ser mais baixas, entre 100-150 mg/dL;
- Em pacientes com doenças incuráveis progressivas sob cuidados paliativos na fase final de vida, a meta pode ser mais alta.