Publicamos uma matéria sobre casos de Mucormicose pós-Covid na Índia. Por isso, em nossa publicação semanal de conteúdos compartilhados do Whitebook Clinical Decision vamos falar sobre a apresentação clínica dessa doença.
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Mucormicose
Quadro clínico:
Caracteriza-se por infarto e necrose dos tecidos do hospedeiro, e se baseia na localização anatômica. A mucormicose pode ser classificada em:
- Rino-orbital-cerebral: Inicialmente mimetiza sinusite, geralmente unilateral, com cefaleia retro-orbitária, febre, dor em face, vertigem, hiposmia e congestão nasal, com progresso para descarga necrótica e ulceração nasal. Os sintomas tardios com edema orbitário e celulite facial são progressivos e podem indicar invasão da órbita com diplopia e perda visual, evoluindo com alteração do nível de consciência. Proptose, ptose, quemose e oftalmoplegia indicam extensão retro-orbitária. Os nervos cranianos V e VII são os mais frequentemente acometidos. A perda visual pode ocorrer com trombose arterial na retina.
- Pulmonar: Apresentação rapidamente progressiva com febre, dispneia e tosse. A hemoptise pode ocorrer na presença de necrose em parênquima. O acometimento pulmonar geralmente ocorre concomitante com o envolvimento dos seios paranasais. Os sinais são inespecíficos com febre frequentemente presente. Eventualmente a celulite em parede torácica pode ocorrer adjacente à doença parenquimatosa. A infecção pode se propagar para estruturas contíguas como mediastino e coração, ou apresentar disseminação hematogênica para outros órgãos;
- Cutânea: Manifesta-se como celulite com progressão para necrose dérmica e formação de escara. A lesão necrótica progressiva indica invasão vascular. Geralmente esta relacionada a inoculação dos esporos na derme. A mucormicose cutânea está frequentemente associada com traumas ou feridas;
- Gastrintestinal: Afeta principalmente o estômago, íleo e cólon, apresentando-se com dor abdominal, distensão, náusea e vômitos. Podem ocorrer hematêmese, hematoquezia ou obstrução. A peritonite é uma possível evolução do quadro devido a perfuração intestinal;
- Disseminada: Pode acometer rins, ossos, coração e outras localizações;
- Manifestações incomuns: A afecção isolada do sistema nervoso central parece decorrer da fungemia intermitente, e se manifesta com cefaleia, alteração do nível de consciência e sinais ou sintomas neurológicos focais ao acometimento de nervos cranianos.
As complicações incluem:
- Disseminação para órgãos adjacentes (ex.: osteomielite);
- Cegueira após invasão do globo ocular;
- Trombose do seio cavernoso com paralisia de nervos cranianos e possível extensão da infecção para o cérebro e meningite;
- Abscesso cerebral: Infarto do sistema nervoso central com isquemia e necrose;
- Infiltração pulmonar;
- Lesões cavitárias pulmonares;
- Hemorragia pulmonar;
- Perfuração intestinal;
- Sepse.
Marcadores de gravidade: Extensão da doença, especialmente acometimento cerebral na mucormicose rinocerebral (invasão orbitária, alteração do nível de consciência e outros), doença pulmonar ou gastrintestinal avançada, doença disseminada.
Fatores de risco: Imunocomprometimento incluindo diabetes descompensada especialmente em cetoacidose, neutropenia em uso de antimicrobianos de amplo espectro, pacientes hemato-oncológicos ou transplantados em reação ao enxerto, desnutrição, quebra da barreira hematoencefálica (trauma, queimaduras, cirurgias, uso de drogas intravenosas), tratamento com deferoxamina, excesso de ferro sérico e desnutrição. Poucos casos de mucormicose têm sido descritos em pacientes com AIDS.