Xenoscópio: cirurgia minimamente invasiva a todos?

Grande parte de seu sucesso está relacionado aos potenciais benefícios como redução do tempo de internação hospitalar, redução da dor pós-operatória, etc.

O advento da cirurgia minimamente invasiva representou um marco na história da cirurgia moderna. Apesar de inicialmente apresentar certa resistência em sua utilização por parte de alguns cirurgiões mais experientes, hoje tal modalidade cirúrgica configura importante opção terapêutica ou até mesmo padrão-ouro de cuidado para determinadas doenças cirúrgicas.

Grande parte de seu sucesso está relacionado aos potenciais benefícios trazidos pela técnica como redução do tempo de internação hospitalar, redução da dor pós-operatória, redução da resposta inflamatória ao trauma, entre outros.

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Todavia, apesar de tal técnica já compor o arsenal terapêutico de grande parte dos cirurgiões de todo o mundo, ainda são elevados os custos empregados com o material, acessórios, indo além da mera aquisição dos mesmos e incluindo sua manutenção.

Aliado a tal fato, cerca de dois terços da população mundial não possui nem sequer acesso aos cuidados cirúrgicos, sendo o acesso mundial à cirurgia minimamente invasiva na ordem de 18% (segundo o Comitê do Lancet). Por conseguinte, a disponibilização de materiais de menor custo, mais acessíveis, poderia ser uma alternativa para garantir a melhoria no cuidado dos pacientes cirúrgicos em todo mundo, principalmente em países de terceiro mundo, nos quais a necessidade de redução de custos hospitalares e tempo de internação hospitalar é ainda mais crítica.

Foi nesse sentido que o Dr John Langell, cirurgião que dirige o Centro de Inovação Médica da Universidade de Utah (EUA), iniciou seu projeto para a confecção de um laparoscópio de baixo custo, utilizando partes de um telefone celular, com o objetivo de ampliar o acesso a cirurgia laparoscópica em todo o mundo.

Tal dispositivo médico de ultra-baixo custo, nomeado pelo grupo de criação como Xenoscópio, foi desenhado com o auxílio de estudantes da graduação nas aulas de Bio-inovação da Universidade, consistindo em uma óptica com uma câmera digital e um processador próprio, sensor de imagem e luz de LED, com a transmissão da imagem obtida em um laptop ou mesmo na tela de um smartphone, o qual pode ainda prover a luz necessária para o laparoscópio por mais de oito horas. A ideia do grupo é que o dispositivo seja de uso único (descartável) para limitar o risco de transmissão de infecções.

Normalmente o investimento inicial para se obter um laparoscópio e os materiais de processamento de vídeo gira em torno de $ 700.000, acrescentando-se mais centenas de dólares com contratos de serviço de manutenção anual. A alternativa criada pela equipe do Dr. Langell, o Xenoscópio, tem um custo de produção de apenas $85, com a proposta de custo de venda pela empresa fundado pelo grupo (Xenocor Inc.) de aproximadamente $300 a $500.

Veja também: ‘Invenções médicas de baixo custo estão ajudando milhares de pessoas no mundo’

Traspassados os problemas iniciais de engenharia, o próprio Dr. Langell realizou uma cirurgia invasiva experimentalmente em um porco, transcorrendo o procedimento sem problemas até o uso do eletrocautério o qual gerou interferência no processamento da imagem, sendo então necessários novos estudos. Feitos os reparos, uma nova tentativa foi realizada com sucesso em carcaças de animais.

Já em maio deste ano, a primeira cirurgia em humanos foi realizada com o dispositivo, consistindo em uma salpingectomia em uma paciente na Índia. Todo procedimento transcorreu sem problemas, tendo esta alta no dia seguinte ao procedimento, sem queixas. Nos próximos dias, o Dr Ray Price, co-chair de cirurgia global da Sociedade Americana de Cirurgiões Gastrointestinais e Endoscópicos (SAGES), planeja utilizar o aparelho para a realização de uma colecistectomia minimamente invasiva na Mongólia.

Tal mecanismo é tão inovador que cirurgiões da Nigéria, Gana, China e Marrocos, além da própria NASA (possíveis cirurgias realizadas no espaço), têm expressado interesse no projeto.

Ainda há algumas limitações ao emprego ampliado do Xenoscópio, tendo inclusive a própria equipe solicitado ao FDA (U.S. Food And Drug Administration) e União Europeia que o dispositivo seja classificado com tecnologia, dispensando a necessidade de diversos estudos clínicos. Ademais, a própria empresa necessita levantar um capital de cerca 15 milhões de dólares para a produção em larga escala, sendo necessário o apoio de diversos setores.

Já há a proposta de realização de um estudo clínico na cidade de Salt Lake em três unidades hospitalares, comparando o Xenoscópio com os equipamentos de laparoscopia tradicionais.

Agora basta esperarmos pelos próximos resultados do grupo. Se possível, em breve teremos mais pessoas beneficiando-se dos avanços tecnológicos da medicina contemporânea.

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Referências:

  • Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Programa de Auto avaliação em cirurgia: Cirurgia Minimamente Invasiva, Set. 2004.
  • Beck, New low–cost surgical tool could help patients in Third World. The Wall Street Journal sept 23, 2016

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