Zika: descoberto vírus em placentas de gestantes com exame negativo

Foi descoberto o vírus da zika nas placentas de gestantes que tiveram os sintomas da doença na epidemia, mas com resultado negativo em exames anteriores.

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Foi descoberta a presença do vírus da zika nas placentas de gestantes que tiveram os sintomas da doença no período de epidemia, mas com resultado negativo em exames anteriores. Como foram realizadas mais amostras do que o atual protocolo estadual exige, os pesquisadores responsáveis, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), solicitam à Secretaria de Saúde de São Paulo que avalie mudanças nesse processo, principalmente em relação à coleta e ao armazenamento das amostras.

Os exames foram realizados pela então doutoranda Emanuella Meneses Venceslau, que concedeu uma entrevista exclusiva para o Portal PEBMED.

“Descobrimos que a placenta é um tecido que podemos considerar como um reservatório do zika vírus, pois mesmo após um grande período de tempo depois da infecção, é possível encontrá-lo. Tivemos pacientes que foram infectadas no primeiro trimestre da gestação, não foram diagnosticadas durante esse primeiro trimestre (na fase aguda da doença) e, no entanto, conseguimos identificar a presença da zika na placenta mais tarde”, explica Emanuella Meneses Venceslau.

Os resultados do estudo serão publicados na próxima edição do Frontiers in Microbiology.

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Metodologia aplicada

Do total de 77 mulheres identificadas com sintomas, 49 tiveram os seus bebês no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher da Unicamp (Caism). Houve dois casos de microcefalia, ambos evoluindo para óbito neonatal.

Catorze mulheres com falso-negativo deram à luz no Caism. Os tecidos das placentas colhidos e os exames de sangue foram analisados pelo Instituto Adolfo Lutz, que tem o padrão de usar uma única amostra de placenta.

As pacientes autorizaram a coleta também pelos pesquisadores da Unicamp. A diferença do resultado foi grande. A análise foi realizada em 17 placentas e o vírus foi confirmado em 14 delas. Antes, todas estavam com resultado negativo para a zika pelos resultados do Instituto Adolfo Lutz.

As gestantes foram acompanhadas desde a gestação, entre os anos de 2016 e 2017, até os nascimentos dos bebês, que ocorreram entre 2017 e 2018, sem a ocorrência de microcefalia, sintoma característico da zika.

A segunda conclusão do estudo foi em relação à técnica de coleta realizada, que foi uma técnica de coleta estratificada, que pertence à família de amostras probabilísticas e consiste em dividir todo o objeto de estudo em diferentes subgrupos ou estratos diferentes, de maneira que um indivíduo pode fazer parte apenas de um único estrato ou camada.

“Essa técnica foi utilizada seguindo a padrão do Caism, da Unicamp, onde se coletava quatro porções do cordão umbilical, de diversas regiões da placenta. Talvez a coleta mais ampla do tecido dê uma diferença no diagnóstico, assim como o método de armazenamento da placenta, que para a nossa pesquisa foi realizado seguindo altos padrões, mantendo as amostras congeladas a -70º”, conta a pesquisadora.

Próxima fase do estudo

Para dar continuidade ao estudo, os responsáveis pelo Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher da Unicamp estão entrando em contato com as 14 mães que tiveram essas placentas coletadas com resultado falso-negativo.

“Dessas, duas perderam os seus recém-nascidos. Então, restam 12 para entrar em contato e pedir que retornem à instituição para que façam um acompanhamento dessas crianças para verificar se elas ainda podem manifestar algum tipo de alteração visual, auditiva, neurológica, etc. a longo prazo”, conta Emanuella Meneses Venceslau.

Como se falou muito do zika vírus somente pela microcefalia, uma das principais dúvidas entre os pesquisadores é se as arboviroses podem ter outros tipos de consequências.

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Mudança no protocolo do diagnóstico da Zika

Em relação ao protocolo, primeiro é preciso ter a discussão deste estudo com a Secretaria de Estado da Saúde e, posteriormente, do estado de São Paulo com Ministério da Saúde. A Unicamp aguarda retorno do estado sobre essa questão.

A pesquisa foi realizada com uso de recursos, como um freezer a -70º, que não existem atualmente em todas as maternidades. Por isso, será necessário discutir o que será possível fazer para obter o diagnóstico mais acurado.

Segundo a autora do estudo, a coleta da placenta tem que ser realizada de imediato, de preferência na primeira e segunda hora, coletadas as amostras e realizando uma conservação especial.

Para Emanuella Meneses Venceslau, está sendo realizado um bom trabalho em relação à prevenção às arboviroses, mas as autoridades médicas deveriam dar uma atenção maior para a cobertura do saneamento básico no país, que é a fonte da maioria desses problemas. “Acredito que quando tivermos um país com 100% ou até mesmo 90% de cobertura de saneamento básico, 90% das doenças que enfrentamos agora, com esses surtos e epidemias, irão sumir”, conclui.

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*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED.

 

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