Zika: estudo da UFRJ revela que vírus também afeta cérebro de adultos

Cientistas da UFRJ descobriram que o vírus da zika também é capaz de infectar o tecido que cobre o sistema nervoso dos pacientes adultos.

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Cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram que o vírus da Zika também é capaz de infectar o tecido que cobre o sistema nervoso central dos pacientes adultos em fase aguda – e não apenas de fetos.

O novo estudo, que foi publicado na revista Nature Communications, explica as complicações neurológicas apresentadas por adultos durante o surto da doença em 2015. Alguns pacientes apresentaram confusão mental, perda de memória e até dificuldades motoras.

“Foram relatadas complicações neurológicas que afetam o sistema nervoso central em pacientes adultos infectados pelo vírus Zika (ZIKV), mas os mecanismos subjacentes permanecem desconhecidos”, diz o estudo.

A descoberta revela que a infecção pode ter sérios desdobramentos, ainda desconhecidos, a longo prazo. Os recentes cortes das bolsas do CNPQ e da Capes, no entanto, devem interromper a continuidade da pesquisa.

Os pesquisadores infectaram com o vírus da Zika amostras de tecido cerebral de adultos humanos. Para a surpresa dos autores do estudo, o vírus se mostrou capaz de infectar os neurônios e se multiplicar.

Alguns estudos anteriores já indicavam a presença do vírus no tecido que cobre o sistema nervoso central em fase aguda. Mas, agora, a pesquisa também mostra que os problemas neurológicos podem continuar até 30 dias depois do início dessa infecção.

“A descoberta esclarece como o vírus induz o surgimento de complicações neurológicas, conforme observado em adultos durante o surto de Zika de 2015, o que ainda não era conhecido pela literatura médica. Pensava-se que o vírus atacava apenas os neurônios imaturos dos bebês”, destacou a autora principal do artigo, a neurocientista Claudia Pinto Figueiredo, professora do Departamento de Biotecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da UFRJ.

A pesquisadora coordenou o estudo junto com o também neurocientista Sergio Teixeira Ferreira, professor do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM/UFRJ) e do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), e a virologista Andrea Thompson da Poian, também professora do IBqM/UFRJ.

Veja também: Qual a relação entre a infecção por Zika e a infertilidade masculina?

mosquito causador da zika picando uma pessoa

Medicamento reduz complicações da zika

Uma segunda descoberta importante deste estudo é que um medicamento anti-inflamatório usado para o tratamento da artrite reumatoide, cujo nome genérico é infliximabe, pode reduzir as complicações neurológicas causadas pelo vírus da Zika em adultos na fase aguda.

“Já utilizávamos o infliximabe para testar caminhos para amenizar a perda de memória relacionada ao Alzheimer. Esse medicamento inibe a molécula TNF-alfa, envolvida no processo da inflamação cerebral e na ativação das microglias. Outro medicamento testado foi o antibiótico minociclina, que impede que as microglias (tipo de célula do sistema nervoso central que tem função similar à dos glóbulos brancos na corrente sanguínea) sejam ativadas pela inflamação”, explicou a pesquisadora Fernanda Barros.

Desenvolvimento de novas terapias

Os cientistas acreditam que as descobertas podem contribuir para o estabelecimento de políticas públicas de tratamento e para o desenvolvimento de novas terapias.

“Embora a onda inicial das recentes epidemias de Zika nas Américas já tenha passado, o fato de as populações de mosquitos não estarem sob controle sugere que o número de indivíduos infectados provavelmente permanecerá elevado nos próximos anos e poderá se espalhar para áreas geográficas adicionais. Do ponto de vista da saúde pública, é importante avaliar a memória e a cognição em adultos infectados como uma comorbidade potencialmente significativa da infecção pelo vírus. Estudos futuros com o objetivo de examinar o impacto neurodegenerativo a longo prazo da infecção pelo vírus são necessários, não apenas no desenvolvimento de cérebros, mas também no sistema nervoso central adulto”, alerta o estudo.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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