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Psiquiatria25 setembro 2023

O que é preciso entender sobre a vacina contra a cocaína, a Calixcoca

A inspiração para a criação de uma vacina contra cocaína vem da observação da produção espontânea de anticorpos em usuários pesados da droga.

Por Tayne Miranda

O transtorno por uso de cocaína é um importante problema de saúde pública. A proliferação de cenas de uso urbanas de crack e cocaína, popularmente nomeadas de Cracolândia, atestam a insuficiência das intervenções sociais e de saúde que empregamos nos últimos anos para tratamento da questão. Dados do Relatório Mundial sobre Drogas – 2023, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNOD) indicam que 22 milhões de pessoas usaram cocaína em 2021. Estima-se que um em cada quatro usuário de cocaína tenha um transtorno por uso de cocaína.  

As estratégias corriqueiramente empregadas para o tratamento do transtorno por uso de substâncias envolve o uso de medicações que substituem a droga por possuírem efeito farmacológico análogo; medicações que atuam no sistema de recompensa e medicações visando diminuir impulsividade / comportamentos compulsivos.  

 Saiba mais: Caso clínico: Paciente com queixa de palpitações após uso de cocaína

O que é preciso entender sobre a vacina contra a cocaína, a Calixcoca

O que é preciso entender sobre a vacina contra a cocaína, a Calixcoca

Outros tratamentos 

Não há tratamentos específicos para o transtorno por uso de cocaína, sendo as vacinas antidrogas uma estratégia promissora. Neste contexto se insere uma vacina em desenvolvimento pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chamada Calixcoca (UFMG-VAC-V4N2).  

A vacina induz a produção de anticorpos anticocaína, capazes de se ligarem a cocaína e diminuir a passagem da cocaína pela barreira hematoencefálica, diminuindo a atividade da droga no cérebro. A vacina é composta por uma plataforma imunizante, uma plataforma vacinal sintética – ou seja, ao invés das típicas moléculas proteicas usadas em vacinas, trata-se de uma molécula farmoquímica, altamente lipofílica, ligada a quatro moléculas de cocaína. 

Reação fisiológica 

A inspiração para a criação de uma vacina anticocaína vem da observação da produção espontânea de anticorpos em usuários pesados da droga. A despeito da cocaína ser uma molécula pequena e, portanto, pouco imunogênica, imagina-se que a presença de contaminantes incidentalmente misturados a cocaína em sua cadeia de produção ilegal fosse responsável por transformar a droga em imunógeno.   

A vacina já foi testada em modelos animais, com demonstração da sua eficácia e segurança. A ideia é que a vacina impeça a reativação do sistema de recompensa, facilitando a manutenção da abstinência.  

A vacina também foi testada em modelos animais gestantes, uma vez que, a cocaína é uma droga vasoconstritora, que atua não só inibindo o receptor de recaptação da dopamina, mas também age no receptor alfa-1, levando a contração arterial, que é um grande problema para as gestantes que consomem cocaína durante a gravidez, uma vez que seu consumo aumenta o risco de doença hipertensiva específica da gravidez, descolamento da placenta, aborto espontâneo e crescimento intrauterino restrito. Nos modelos animais o imunizante reduziu os abortos espontâneos e melhorou o ganho de peso nos fetos. 

Leia também: Você conhece os efeitos do uso da cocaína no coração?

Em que estágio está a vacina? 

No momento o grupo de pesquisa da UFMG está finalizando Dossiê de Desenvolvimento Clínico de Medicamento, já tendo concluído a avaliação dos aspectos de segurança, restando inconcluso partes relativas ao plano de desenvolvimento do medicamento e dossiê do medicamento experimental para que possam realização a petição na Anvisa que autorizará o início dos testes clínicos em humanos.  

O desenho do estudo de fase I/IIa já está feito – a equipe pretende avaliar pessoas que foram dependentes, estão no momento abstinentes e desejam permanecer em abstinência. 

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