Não é de hoje que as infecções fúngicas são uma ameaça na terapia intensiva. Contudo, com a pandemia de Covid-19 e o elevado número de pacientes em ventilação mecânica, esse assunto se tornou o foco de muitas discussões nos rounds de CTI.
No simpósio no congresso da American Thoracic Society – ATS 2021, o Dr. Matteo Bassetti discursa sobre as dificuldades de diagnosticar, identificar e tratar as infecções fúngicas intra-hospitalares. Fato é que os fatores de risco são inespecíficos e a apresentação clínica é muitas vezes atípica. Contudo, são infecções de fácil contaminação cruzada, associada à alta mortalidade, principalmente para o gênero Candida com cerca de 30 a 60% de mortalidade.
As infecções fúngicas na pandemia
Desde 2009, há elevada preocupação com o surgimento das Candidas sp panresistentes, como a Candida auris, sendo considerado uma grave ameaça à saúde pública. Com a pandemia, em 2020, houve um aumento importante no número de casos registrados. Nos EUA, por exemplo, o estado americano com maior incidência foi o de Nova York, mostrando relação direta com o elevado número de casos de Covid-19 grave, necessidade de suporte avançado de vida e o uso elevado de antibioticoterapia de amplo espectro.



Diversos trabalhos foram publicados no último ano, descrevendo os surtos de C.auris nos centros de terapia intensiva ao redor do mundo. O estudo do centro do Dr. Matteo traz a investigação molecular do grupo de C.auris que houve em seu CTI, revelando a facilidade de transmissão durante a pandemia. É sim uma ameaça global, principalmente relacionado ao não descalonamento adequado de terapias antibióticas em centros de terapia intensiva.

Nos últimos anos, surge luz no fim do túnel, segundo Dr.Matteo. Há novos antifúngicos em desenvolvimento, alguns em fase 3 de estudo, outros em fase 2, com um bom espectro de atuação, contemplando inclusive a C.auris, como ibrexafungerpe e rezafungina.
Considerações
Dr. Matteo termina a palestra citando as 10 regras mais valiosas para o desenvolvimento de um programa de descalonamento de antifúngicos no CTI:
- Evitar ou restringir a profilaxia antifúngica
- Diferenciar infecção de colonização
- Usar métodos diagnósticos para a detecção precoce de candidíase invasiva
- Limitar o uso de terapia empírica para casos baseados nos fatores de risco
- Promover a terapia precoce baseado nos fatores de risco e biomarcadores
- Tratar de forma adequada em primeira tentativa (ecnocandinas)
- Ter controle do sítio (cateteres, abscesso, controle cirúrgico)
- Usar dose adequada e evitar subdose
- Descalonar dentro de 5 dias, se possível
- Interromper terapias desnecessárias e reavaliar o tempo de tratamento sempre
Estamos acompanhando o congresso da ATS 2021. Fique ligado no Portal PEBMED!
Veja mais do congresso:
- ATS 2021: novos tratamentos contra patógenos resistentes – uma pitada de esperança
- ATS 2021: abordagem de nódulos e massas pulmonares – práticas atuais
- ATS 2021: novidades na abordagem de tromboembolismo pulmonar
- ATS 2021: síndrome pós-Covid-19 e reabilitação pulmonar
Referência bibliográfica:
- Bassetti M, Kollef MH, Poulakou G. Principles of antimicrobial stewardship for bacterial and fungal infections in ICU. Intensive Care Med. 2017;43(12):1894-1897. doi:10.1007/s00134-017-4922-x
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