A reunião familiar consiste em um evento programado entre a família do paciente (pessoas com vínculo biológico, ou não, que estão emocionalmente ligadas ao paciente) e a equipe médica. Trata-se de instrumento terapêutico de cuidado, sendo um momento para compartilhamento de informações, decisões, escuta ativa da família, auxílio na resolução de problemas e planejamento de cuidados. É uma forma de garantir segurança emocional à família, já que nesse momento eles podem perceber a disponibilidade da equipe de saúde para ouvi-los e esclarecer dúvidas em relação aos cuidados prestados ao paciente.
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O vínculo entre a equipe e a família do paciente pode fazer toda a diferença na agenda de cuidados. No momento mais adequado, a reunião familiar, com ou sem a presença do paciente, a depender do contexto clínico, pode ser extremamente benéfica. Geralmente, este tipo de reunião é solicitada quando existem eventos sérios a serem discutidos, por exemplo, quando a proposta de cuidado precisa mudar da intenção curativa para maior proporção de cuidados paliativos, ou quando o paciente apresenta um quadro clínico que o impede de tomar decisões. Este texto propõe um roteiro que pode ser utilizado para organizar a realização de uma reunião familiar.
Roteiro para reunião familiar
1. Prepare as pessoas e defina o que deverá ser discutido
Convide toda a família para a reunião (lembre-se do conceito de família apresentado anteriormente). Todos aqueles que se sentirem aptos devem comparecer. A exceção a essa regra são pessoas que o paciente sinalizou de forma explícita que não gostaria que participassem. A equipe assistencial que participa deve ter sua mensagem alinhada de modo clara, a fim de evitar discussões perante a família. O facilitador da reunião deve ser o profissional que se sinta mais capacitado para tal, não necessariamente o médico. Escolha um ambiente calmo, agradável e que permita privacidade para a realização da reunião.
2. Apresente todos os participantes e o objetivo da reunião
O facilitador da reunião deve agradecer a presença de todos e solicitar aos participantes que se apresentem. Os profissionais de saúde envolvidos devem dizer seus nomes e funções no atendimento ao paciente. Os familiares devem dizer seus nomes, qual a sua relação com o paciente e em relação ao seu cuidado.
O objetivo da reunião deve ser esboçado pelo facilitador, por exemplo: “Quero lhes contar como seu pai está evoluindo clinicamente; também quero ter certeza de que vocês entendem o que estamos fazendo por ele e como ele está respondendo. Por fim, quero aprender com vocês sobre os seus valores e objetivos, para que possamos tomar decisões que o seu pai tomaria se pudesse estar conosco agora, sentado nesta sala”.
3. Avalie o que a família sabe e espera
Confirme o entendimento da família sobre o quadro clínico atual do paciente. Pergunte o que eles esperam que possa ocorrer daqui para a frente. Essa fase da reunião serve como parâmetro para entender a expectativa e comprometimento emocional da família, adaptando o andamento da conversa.
4. Descreva a situação clínica
Peça permissão à família para compartilhar a sua visão. Faça uma explanação geral sobre a evolução do paciente. Evite uso de termos técnicos e parâmetros complexos. Seja assertivo e garanta nessa etapa que a família entenda a evolução clínica do paciente até o momento e quais as possibilidades de desfechos em breve. Não se prolongue mais do que alguns minutos.
5. Pergunte a cada membro da família sobre as suas preocupações
É importante sanar as dúvidas de todos após a explanação do quadro clínico do paciente. Convide os familiares a se expressarem e pergunte se há algo que pode ser feito para ajudá-los a passar por esse momento difícil.
6. Delimite os valores do paciente e como eles devem influenciar a tomada de decisão
Queremos saber o que o paciente provavelmente faria nesse momento, levando em conta os seus valores. É comum que a família transfira os valores dela, e não os do paciente, para essa conversa. Nesse momento devemos focar na vontade e valores do paciente, aliviando o fardo da família “em decidir algo”.
7. Proponha metas para o cuidado do paciente
As recomendações médicas deverão ser expostas de modo claro, sempre com base nos valores do paciente. Proponha um plano que honre os valores e objetivos do paciente. Aponte quais terapias não se encaixam no atual contexto.
8. Forneça um plano de acompanhamento para a família
Resuma o que a família deve levar dessa reunião. Foque no consenso que se obteve. Fale sobre os marcos que podem afetar a tomada futura de decisões e como isso poderá alterar a evolução clínica e o conforto oferecidos ao paciente. Deixe claro em que momento novas informações importantes serão repassadas para a família (ex: próxima visita de rotina ou uma data para a próxima reunião familiar).
É fundamental para a equipe assistencial que o andamento da reunião familiar seja discutido posteriormente entre si, como estratégia de melhoria contínua. Verifiquem se o objetivo da reunião foi atingido, qual a percepção sobre a dinâmica familiar e como podemos ajudar a família na situação atual. Registre a reunião em prontuário, incluindo o nome dos participantes, o conteúdo da discussão em linhas gerais e quais decisões foram tomadas.
Mensagem final
A reunião familiar é uma ferramenta fundamental para garantir o melhor cuidado aos seus pacientes. Dessa forma, podemos alinhar expectativas e valores entre equipe médica, paciente e familiares. A realização de uma reunião adequada exige treinamento e preparação prévia. Note que o roteiro apresentado pode ser adaptado para a individualidade de cada paciente ou situação.
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