Cuidando de quem cuida: considerações para a equipe de saúde

O oitavo texto da Série Comunicação Médica trata do apoio à equipe de saúde, o que fazer quando esta se sente ameaçada, impotente e frágil?

Segurança e cuidado são necessidades que permanecem ao longo de toda vida, sendo mais frequentes em momentos de vulnerabilidade como, por exemplo, doenças. Para existir um cuidado efetivo, é importante que exista uma conexão da equipe de saúde com as necessidades do paciente e, nesse caso, as atitudes são mais relevantes do que as palavras, destacando-se:

  • Aceitar a história do indivíduo com os sentimentos e as dificuldades que ele possui;
  • Ter curiosidade e interesse para saber o que ele te conta, afinal, ele é quem conhece o próprio corpo e a própria história. Não se deve pressupor respostas;
  • Ser empático;
  • Aprender a ouvir, acolher e respeitar valores dos pacientes/familiares que sejam diferentes dos seus como profissionais;
  • Expressar emoções de maneira suave e conectada, buscando prazer na relação com o cuidado.

Cuidando de quem cuida considerações para a equipe de saúde

O profissional de saúde também merece cuidado

A equipe de saúde, ao escolher o hospital como ambiente de trabalho, lida com duas experiências antagônicas: por um lado, experimentar a vulnerabilidade em se manter próximo a contextos permeados por sofrimento de diferentes naturezas e finitude; por outro lado, a satisfação em ofertar conforto para o paciente. Além disso, o profissional de saúde é visto pelo paciente e por sua família como aquele que irá restabelecer sua segurança e saúde, diminuindo a sensação de vulnerabilidade e sofrimento experimentados.

Nessa conjuntura, o cuidado pode despertar diversos sentimentos entre os profissionais de saúde. Frente a uma doença grave, paciente e familiares tendem a ficar inseguros e aumentam a demanda ao profissional. Por sua vez, isso gera grande sobrecarga física e emocional, podendo interferir diretamente na disponibilidade deste profissional para essa relação de cuidado, principalmente o médico não tem autopercepção dessa sobrecarga.

Diante disso, quem ou o que pode dar apoio ao profissional de saúde quando este se sente ameaçado, impotente e frágil diante da tarefa de cuidar?

Reasseguramento do cuidador

Ferramentas de reasseguramento para o profissional de saúde podem auxiliá-lo nesses processos de vulnerabilidade relacionados ao ato de cuidar, como:

  • Conhecimento técnico: a fundamentação técnica propicia um melhor cuidado.
  • Conhecer a própria história: ao refletir a própria maneira de enfrentar situações de adoecimento/morte, compreender que essa forma não necessariamente será igual para o paciente e para seus familiares.
  • Reconhecimento da cultura e significado da morte para si, para o paciente e seus familiares, sem críticas ou julgamentos: afinal, diferentes crenças podem trazer conflitos se não forem respeitadas.
  • Equipe: é ideal no processo de cuidado uma relação entre a equipe de saúde quanto à confiança e troca, tanto na tomada de decisões técnicas, quanto no compartilhamento de sentimentos difíceis.
  • Discutir e conversar sobre o luto: é saudável os profissionais de saúde reconhecerem lutos vividos durante seu trabalho que por vezes não são reconhecíveis, como: luto pela morte do paciente ou pela relação estabelecida com ele e com os familiares.
  • Manter constante o exercício de não entrar em funcionamento automático durante o cuidado: esse fato pode evitar alto nível de estresse e colapso.
  • Relembrar o objetivo do cuidado: promover controle da situação e adaptação ao adoecimento gerando menos desconforto, físico e emocional, para o paciente, frente à finitude.
  • Avaliar constantemente a disponibilidade emocional para o cuidado: é difícil realizar um bom cuidado se houver comprometimento de disponibilidade emocional para tal. Um exemplo disso seria cuidar de um paciente com câncer de pâncreas após um ente querido ter falecido recentemente por essa mesma doença.
  • Reação à raiva, comportamentos agressivos ou a reatividade do paciente: os pacientes podem apresentar comportamento rude diante do medo, ou revolta com a aproximação da morte. Ao invés de reagir, o recomendado é reconhecer a emoção dele, acolher e reforçar o compromisso de cuidar dele.

Aprimorando o cuidado 

A melhor forma para aprimorar o cuidado ocorre a partir de atualização técnica e de autocuidado. Além disso, reconhecer a própria vulnerabilidade é o que permite identificar recursos e potenciais para lidar com a escolha de trabalhar na área de saúde. A construção do senso de equipe é outro ponto relevante, de forma que pedir e oferecer ajuda façam parte da cultura de trabalho.

Mensagens finais 

  • A atualização profissional é um grande redutor de angústias ao propiciar maior confiança no trabalho executado;
  • O autocuidado, ao focar em atividades que proporcionam seu bem-estar, é importante para auxiliar na redução de sobrecarga física e emocional associada ao processo de cuidado;
  • As instituições devem incluir capacitação profissional, não só em nível técnico, como também em nível emocional, estimulando o autoconhecimento e reflexões da sua própria história de vida, para uma melhor abordagem dos profissionais que atuam na rede de cuidado.

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