Caso clínico: Paciente feminina com dor abdominal em baixo ventre

Inicialmente, a dor em baixo ventre era intermitente. Atualmente, é diária com irradiação para membro inferior esquerdo. 

Mulher, 26 anos, G3P2C2A1 procura atendimento médico por dor abdominal em baixo ventre há dois anos atualmente diária. Tem ciclos menstruais regulares com duração de 32 dias, fluxo moderado, duração de cinco a sete dias e dismenorreia incapacitante há dez anos com necessidade frequente de medicações via endovenosa.

Relata dificuldades conjugais por não conseguir completar relações sexuais devido a dor intensa de penetração e profundidade. Nega queixas urinária. É predominantemente constipada, porém tem períodos de diarreia liquida e dor ao evacuar quando menstruada. Inicialmente, a dor em baixo ventre era intermitente, atualmente é diária com irradiação para membro inferior esquerdo.   

Antecedentes pessoais:

G3P2C2A1  

DUM: há 12 dias  

Método anticoncepcional: parceiro vasectomizado  

Sem patologias ou uso de medicações, três laparotomias prévias por gestação ectópica, apendicectomia supurativa e ooforectomia por cisto hemorrágico roto.  

 Ao exame físico:  

PA: 120X80    FC: 82   T: 36,2 

BEG, hidratada, consciente e orientada 

Abdome, RHA+, doloroso a palpação profunda em hipogastro, DB negativo 

Especular: colo sem lesões, conteúdo fisiológico, mucosa trófica, sem prolapsos genitais.  

Toque: musculatura vaginal tensa, colo fixo com dor a palpação de fundo de saco vaginal. 

Quiz 1/

Assinale a alternativa que melhor traz o diagnóstico clínico sindrômico e o diagnóstico etiológico mais provável:

Comentários

Dor pélvica crônica

O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) que visa padronizar a terminologia em ginecologia e obstetrícia, define dor pélvica crônica (DPC) como “presença de dor percebida como originária de órgãos/estruturas pélvicas, tipicamente com duração maior que seis meses. Está frequentemente associada a consequências negativas dos pontos de vista cognitivo, comportamental, sexual e emocional, bem como com sintomas sugestivos de disfunção do trato urinário inferior, sexual, intestinal, assoalho pélvico, miofascial ou ginecológico”.

Endometriose

Endometriose é uma doença ginecológica crônica, benigna, estrogênio-dependente e de etiologia multifatorial que acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva. Pode ser definida pela presença de tecido endometrial fora do útero, com predomínio na pelve feminina. Os principais sintomas associados são dismenorreia, dor pélvica crônica ou dor acíclica, dispareunia de profundidade, alterações intestinais cíclicas (distensão abdominal, sangramento nas fezes, constipação, disquezia e dor anal no período menstrual), alterações urinárias cíclicas (disúria, hematúria, polaciúria e urgência miccional no período menstrual) e infertilidade.

O exame físico é fundamental na suspeita clínica da endometriose. Nódulos ou rugosidades enegrecidas em fundo de saco posterior ao exame especular sugerem a doença. Ao toque, útero com pouca mobilidade sugere aderências pélvicas, nódulos geralmente dolorosos também em fundo de saco posterior podem estar associados a lesões retrocervicais, nos ligamentos uterossacros, no fundo de saco vaginal posterior ou intestinais. Anexos fixos e dolorosos, assim como a presença de massas anexiais, podem estar relacionados a endometriomas ovarianos.

Dismenorreia

A dismenorreia é caracterizada por dor uterina importante durante o período menstrual, podendo ser primária ou secundária (decorrente de causas orgânicas). A dismenorreia é dita primária quando não há doença orgânica evidente.

Qual é o próximo passo na investigação desse caso?  

Comentários

O quadro clínico associado ao exame físico traz a hipótese de endometriose, mas é necessária a utilização de ferramentas diagnósticas auxiliares. O ultrassom pélvico e transvaginal e a ressonância magnética com protocolos especializados são os principais métodos por imagem para detecção e estadiamento da endometriose e deverão ser realizados por profissionais com experiência nesse diagnóstico.

A videolaparoscopia tinha, no passado, papel no diagnóstico da endometriose. Porém, atualmente, com o avanço dos métodos por imagem, é indicada, para o diagnóstico, apenas a pacientes que apresentam exames normais e falha no tratamento clínico.

O único biomarcador sérico usado com certa frequência em pacientes com endometriose é o CA-125, que mostrou potencial diagnóstico para endometriose moderada/grave. No entanto, o CA-125 apresentou baixa sensibilidade.

Referências bibliográficas:

  • Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Endometriose. São Paulo: FEBRASGO, 2021 (Protocolo FEBRASGO-Ginecologia, n. 78/Comissão Nacional Especializada em Endometriose).
  • Rosa e Silva JC, Valerio FP, Herren H, Troncon JK, Garcia R, Poli Neto OB. Endometriose – Aspectos clínicos do diagnóstico ao tratamento. Femina. 2021;49(3):134-41.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.