No episódio final do nosso PODCAST sobre avaliação do risco cardiovascular e prevenção da aterosclerose, Dr. Ronaldo Gismondi fala sobre a síndrome metabólica.
Ouça todos os episódios abaixo:
- Episódio 1: a história e o exame físico na avaliação cardiovascular
- Episódio 2: medidas não farmacológicas
- Episódio 3: hipertensão arterial sistêmica
- Episódio 4: colesterol
Confira a transcrição do podcast
Síndrome metabólica
No final, agora, nós vamos falar um pouquinho de síndrome metabólica. A síndrome é uma reunião de fatores de risco. Durante muito tempo se tentou provar que você ter um ponto por ser hipertenso e um ponto por ser diabético e ao juntar isso não daria dois, mas três ou quatro como peso no risco. Ou seja, a agremiação de fatores trouxesse um risco maior que a sua soma isolada. Infelizmente essa evidência científica não veio, não se conseguiu provar que você ter aumento de circunferência abdominal mais hipertensão e diabetes fosse pior que a soma dos fatores, por isso há um grupo de autores que critica você chamar isso de síndrome metabólica.
Mas para a prática diária e principalmente para trabalhar na cabeças das pessoas, esse conceito é muito importante, porque fisiologicamente e clinicamente está muito relacionado quando você tem obesidade visceral – aquela obesidade no mesentério – que faz com que a sua glicemia suba, a sua pressão fica de difícil controle, o seu perfil lipídico piora e tudo isso somado aumenta o seu risco cardiovascular. Então a ideia clínica é muito bacana. Há vários critérios, cada sociedade propôs um: ATP, IDF, critério harmônico.
No Brasil, se você pegar a sociedade brasileira de endocrinologia e metabologia, ela diz o seguinte: “você tem síndrome metabólica se houver três em cinco critérios: um, obesidade central, circunferência da cintura superior der oitenta e oito na mulher, ou cento e dois no homem; hipertensão arterial com sistólica, acima de cento e trinta e diastólica acima de oitenta e cinco, um ou outro. Glicemia alterada, acima de cento e dez, ou diagnóstico de diabetes. Triglicerídeo acima de cento e cinquenta ou um HDL baixo, definido como menos que quarenta no homem, ou menos que cinquenta nas mulheres. Três dentre esses cinco critérios, você tem síndrome metabólica. E o que fazer? Colocar aquelas medias não farmacológicas do nosso episódio dois, tratar a pressão – conforme episódio três – estimar o risco cardiovascular e decidir se usa ou não a estatina, conforme o episódio quatro. Esses são os pontos principais.
Algo mais a fazer? Sim, perder peso. A pesa de peso é o principal tratamento de síndrome metabólica através da redução calórica e principalmente da prática de exercício físico, que é o que conversamos no episódio dois. Vale a pena você usar metformina na pessoa que ainda não é diabética? Aquele cara que tem glicemia de cem a cento e vinte e seis ou uma glicada de cinco ponto seis a seis ponto quatro? Esse cara merece uma metformina? Se você perguntar a um endócrino ele vai dizer que sim. Eu vou dizer que se ele tiver uma síndrome metabólica, ou seja, circunferência abdominal aumentada, eu também acho que sim, porque a metformina, entre outras coisas, vai ajudar a perder peso e ela retarda que você tenha o diagnóstico de diabetes.
Mas a verdade é que a metformina per se não consegue reduzir o risco de doença cardiovascular nessa população submetabólica isoladamente, mas no diabético, controle glicêmico aí é outra história, tá bem? Outra coisa que você precisa estar atento em um cara com síndrome metabólica é a esteato-hepatite, que é um marcador de risco, ao qual você tem que estar especialmente preocupado se as enzimas hepáticas estiverem trocadas e esse doente é candidato a uma imagem do fígado e, principalmente, a saber se ele tem cirrose ou não. Antigamente, você dependia de um fígado irregular ou da presença de complicações de hipertensão, de geral varizes.
Hoje você tem a elastografia hepática para tentar estimar o grau de evolução de uma fibrose hepática. E se você tiver esteato-hepatite se torna ainda mais importante perder peso, não usar álcool, tratar a saúde cardiovascular como um todo e discute-se o uso de vitamina E. Por fim, eu ainda queria falar hoje com vocês um pouquinho sobre o uso do AS para prevenção primária para quem quiser nós temos vídeos e textos sobre isso no portal, lembrar que você deve usar um escore. O escore defendido pelos americanos é ASCVD, se esse escore mostrar alto risco, ou seja, um risco maior ou igual a dez por cento na idade de cinquenta a sessenta e nove anos, ele indica o AS na prevenção primária de eventos cardiovasculares e redução do câncer de colo. Seria essa a população que mais se beneficiaria, mas o AS na prevenção primária ainda é um ponto controverso.
Dúvidas ou comentários vai lá no portal e deixa conosco. Foi um prazer estar com vocês e até a próxima e um abraço.