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As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), são responsáveis por 70% de todas as mortes no mundo, o que gera uma estimativa de 38 milhões de mortes anuais. Esse dado se torna ainda mais preocupante quando a análise é feita pelo ponto de vista econômico e percebe-se que 28 milhões dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda onde, muitas vezes, acontece de forma prematura, antes dos 70 anos de idade.
No Brasil, a situação se torna ainda mais complexa, já que vivemos em uma transição demográfica acelerada caracterizada por mudanças constantes no número de pessoas maiores de 65 anos. Em 2000, esse número era de 5,4% e passará a ser de 19% em 2050, superando pela primeira vez o número de jovens. Além disso, quando consideramos o sistema de saúde brasileiro e seus desafios, observamos uma tripla carga de doenças, ou seja, um número ainda significativo de doenças infecciosas, parasitárias e problemas reprodutivos; altas de taxas de problemas relacionados à causas externas (violência, traumas, etc) e o aumento das DCNT.
Muitos são os desafios que se impõem aos profissionais que estão inseridos no sistema de saúde, principalmente, os relacionados ao enfrentamento das condições crônicas. As DCNTs possuem uma série de especificidades em seu percurso como: fatores associados à melhora ou piora das manifestações clínicas; presença de múltiplas comorbidades associadas à doença principal; curso natural da doença longo e irregular; agudizações com necessidade de internações prolongadas e demandas que necessitam de uma abordagem multidimensional e multiprofissional até o fim da vida.
As peculiaridades das DCNTs emergem a necessidade de um profissional da saúde que compreenda a indispensabilidade da continuidade de cuidados e que isso não se estabeleça somente na prática assistencial como usualmente, mas também na coordenação do cuidado. Nesse sentido, destaca-se o profissional da enfermagem como estratégico diante das mudanças demográficas e necessidades em saúde, pois possui competências que, além de práticas, vão ao encontro da demanda por gerenciamento e otimização do uso dos serviços de saúde.
A enfermagem é estratégica uma vez que pode melhorar a qualidade da prestação de cuidados, a resolubilidade dos problemas e a navegabilidade das pessoas que são acometidas por DCNTs dentro do sistema de saúde, visto que:
- É o maior contingente de profissionais da saúde;
- Geralmente, é o primeiro profissional da saúde a entrar em contato com a pessoa que necessita utilizar o sistema de saúde;
- Permanece vinte quatro horas por dia prestando assistência em todos os níveis de atenção à saúde;
- Tem formação ampla baseada, que lhe confere competências gerenciais, assistenciais de pesquisa e ensino;
- É o profissional que está mais próximo para fornecer informações para equipe multiprofissional e dar continuidade informacional dentro das Redes de Atenção à Saúde (RAS), pois está constantemente ao lado dos pacientes e suas famílias;
- E ainda, está presente desde a prevenção e diagnóstico das DCNTs até o final da vida e depois durante o luto com os familiares.
Por fim, os desafios são inúmeros para que se efetive a contribuição da enfermagem de maneira consistente, ao passo que necessitamos, em primeiro lugar, do reconhecimento pela sociedade, gestores e demais profissionais da saúde sobre a importância destes profissionais; uma formação que se atualize cada vez mais e estimule a construção do pensamento clínico longitudinal aliada a uma prática assistencial baseada em evidências científicas e também no princípio da dignidade humana. E o mais importante, que o sentimento de confiança, liderança e autonomia se estabeleça entre a enfermagem exercendo aquilo pelo qual foi designada: o cuidar com excelência.
Não há dúvidas que, uma vez estabelecido o papel da enfermagem como agente de transformação, haverá mudanças profundas no que condiz ao paradigma do cuidado diante das condições crônicas.
Referências:
- World Health Organization. Global status report on noncommunicable diseases. Geneva: WHO; 2014.
- Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Ciência & Saúde Coletiva. [Internet]; 2010; [citado em maio de 2019].
- Gallani MCBJ. O enfermeiro no contexto das doenças crônicas. Rev. Latino-Am. Enfermagem Editorial. [Intenet]; 2015; [citado em maio de 2019]: 23(1):1-2
- Becker RM et. al, Práticas de cuidado dos enfermeiros a pessoas com Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Rev. Bras. Enferm. [Internet]. 2018 [citado em maio de 2019].
- Alleyne G, Hancock C, Hughes P. Chronic and non-communicable diseases: a critical challenge for nurses globally. Int Nurs Rev. [Internet]; 2011; [citado em maio de 2019]: Sep;58(3):328-31.
verdade ,não estamos prontos para a morte ,mesmo ela esta no nosso meio de trabalho.