O novo coronavírus (SARS-CoV-2) já trouxe grandes problemas para a humanidade. O adoecimento e a morte chegaram rapidamente e o mundo teve que lidar com diversos impactos da pandemia. Pessoas ao redor do mundo sofrem antes, durante e depois do adoecimento, já que essa doença é multifacetada e multifatorial.
Um dos grandes desafios que profissionais do serviço de saúde e a população têm enfrentado após a fase aguda da infecção é a síndrome pós-Covid-19, que afeta milhões de pessoas e gera preocupação no sistema de saúde que aposta suas fichas na prevenção e no tratamento de milhões de pessoas. Classicamente, os sinais e sintomas podem ser mais abrangentes ou de menor impacto, de acordo com a gravidade da infecção, bem como suas complicações. Podemos observar alguns sinais e sintomas importantes, que geram necessidade de cuidados físicos, psíquicos e sociais, são eles:
Respiratórios
- Pessoas que tiveram quadros mais complicados possuem maior necessidade de cuidado. Os seguintes cuidados são mais comuns: cuidados respiratórios como suporte de oxigênio, cuidados à saúde pulmonar com exercícios fisioterápicos, cuidados à traqueostomia, assim como as suas feridas, dificuldade de se alimentar, dificuldade de realizar atividades mesmo aquelas simples, tosse crônica e dificuldade de respirar ao esforço, fibrose pulmonar e bronquiectasia. Os enfermeiros podem realizar diversos exercícios, principalmente em ambiente domiciliar. Esta ação deve ser coordenada com a equipe multidisciplinar. Vamos considerar alguns cuidados:
- Avalie a condição respiratória do usuário sempre levando em consideração SPO2 superior a 94%. Abaixo desse valor temos uma resposta negativa as atividades;
- Registre a progressão ou regressão de SPO2 em repouso ou ao esforço;
- Realize atividades respiratórias coordenadas com a equipe multidisciplinar;
- Estimule a respiração lenta e estabeleça junto a pessoa o limite necessários de atividade física, avaliando SPO2 em repouso e em movimento.
Neuromusculares
- Um dos maiores problemas da síndrome pós-Covid-19 é a fraqueza muscular que pode permanecer por meses. As pessoas relatam em diversos estudos que se sentem muito cansadas ao realizar atividade instrumentais cotidianas. Quanto a atividades físicas, podem levar bastante tempo para conseguirem o rendimento de outrora. Pessoas que tiveram formas graves de Covid-19, podem necessitar de reabilitação, principalmente aquelas que necessitam de intubação orotraqueal. Essas podem demorar meses para voltar a realizar movimentos simples da vida cotidiana e vão necessitar de cuidados específicos de enfermagem, na alimentação e em cuidados com o corpo. Além disso, neuropatias graves podem acontecer e devem ser avaliadas pelos enfermeiros. Vamos sugerir alguns possíveis cuidados:
- Estimule atividades motoras;
- Realize o registro de progressão das atividades;
- Utilize atividades da vida instrumental estimulando a independência;
- Sempre avalie SPO2 em repouso e em movimento;
Cardiológicos
- Muitas complicações cardíacas foram mencionadas em estudos na síndrome pós-Covid-19. Alteração na pressão arterial foi verificado em diversos casos, principalmente em casos mais graves da doença. O controle rigoroso da pressão arterial é muito importante. Outras complicações cardíacas foram observadas ou com alteração pró-trombóticas, vasculares e miocárdicas. O uso de medicamentos nos casos graves, podem contribuir para as complicações. Mas são observadas até nas formas leves da doença. Vamos conferir algumas medidas que podem ser realizadas:
- Verificação dos sinais vitais, principalmente da pressão arterial regularmente ajustada a cada caso e complicação;
- Realize o registro de todas as aferições e compreenda a progressão e regressão de dados, desenvolvendo cuidados mais efetivos;
- Avalie a pressão arterial e a frequência cardíaca em repouso e quando a pessoa realizar atividades.
Endocrinológicas
- Estudos mostram que uma das complicações mais graves no pós-Covid-19 é a alteração da glicemia, o que pode provocar casos de diabetes. Muitas pessoas no pós-Covid-19 tiveram alterações importantes nas taxas de glicemia. As pessoas que já sofrem com a diabetes além de temer a doença por estarem no grupo de risco, uma vez que a diabetes é uma terrível comorbidade, para os que passam pela doença, podem ter complicações sérias pelo aumento da taxa de glicose, necessitando de cuidados disciplinado. Vamos ver alguns cuidados possíveis:
- Realize o hemoglicoteste (HGT) e eduque o paciente e a família de como realizar o teste, orientando ainda sobre as taxas esperadas em jejum (inferior a 99mg/dl)
- Oriente o usuário que a taxa de glicose pode alterar de acordo com o período de alimentação, por isso avalie sempre em jejum e em outros períodos onde a alimentação não fará alteração natural da taxa de glicose, para que se tenha melhor avaliação;
- Avalie o histórico glicêmico e registre todos os helicolestes para que se possa compreender a progressão ou regressão da complicação;
- Eduque a família e a pessoa quanto a necessidade do controle glicêmico através da alimentação.
Neuropsíquicos
- Muitos pacientes desenvolvem diversos problemas neuropsíquicos. Os problemas psicóticos, demência, problemas cognitivos graves e principalmente a amnésia transitória ou temporária tem sido relato frequente de pessoas acometidas pela doença. Outros problemas são comuns como estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. É importante que a equipe de enfermagem possa compreender quais os principais problemas para desenvolver cuidados singulares. Podemos propor alguns cuidados, tais como:
- Na amnésia, anotar os afazeres e não mudar bruscamente a rotina das atividades. É importante alertar a família e realizar o registro dos episódios;
- É possível que a pessoa desenvolva demência ou letargia, para tal, quando necessário deve o profissional realizar atividades, mas sempre estimulando a emancipação das atividades;
- Nas questões de adoecimento psiquiátrico, o enfermeiro deve analisar o quadro e criar junto a equipe multidisciplinar uma linha de cuidado, que deve ser construída com o usuário.
- Os principais problemas psiquiátricos foram relatados na literatura como estresse, ansiedade e depressão, no pós-Covid-19.
Outros problemas são comuns, como problemas sociais causados por essa crise humanitária que causa problemas econômicos e de diversas ordens em todos nós. É importante que o enfermeiro realize o acolhimento e valorize o cuidado domiciliar dessas pessoas, diminuindo a possibilidade de reinfecção. Em casos leves, quando não é fundamental a presença física dos profissionais de enfermagem, pode-se explorar a tele-enfermagem no cuidado e orientação.
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A síndrome de Guillain-Barré apareceu nos estudos como possibilidade e quando está presente deve haver cuidados específicos. A perda do olfato e paladar comum mas não causa tantos problemas instrumentais para a maioria da população, devemos avaliar como se dá a ingesta nutricional depois do fenômeno. Outros problemas foram relatados, mas o de maior incidência foi a fadiga. Esse sintoma não deve ser negligenciado e cuidados de enfermagem podem ser propostos, lembrando que é um sintoma causado pela debilidade do corpo. Alguns pacientes possuem esse sintoma por meses. Lembre-se que a sensibilidade de ouvir o usuário é sempre o melhor caminho junto ao conhecimento de construir cuidados mais efetivos.
Referência bibliográficas
- Afonso, T. de O . et. al. Síndrome de Guillain-Barré na síndrome pós-COVID-19: Revisão da literatura. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento , [S. eu.], v. 10, n. 7, pág. e18910716480, 2021. DOI: 10.33448 / rsd-v10i7.16480.