A volta ao trabalho depois que o bebê nasce pode ser um momento doloroso para mãe e, por isso, é importante o apoio de todos, inclusive dos empregadores, para que as dificuldades deste período sejam superadas tendo em vista que o desmame precoce e/ou ter a introdução alimentar antecipada não são recomendados e devem ser desaconselhados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério de Saúde (MS) do Brasil orientam que o aleitamento materno deve ser exclusivo até os primeiros 06 (seis) meses de vida da criança, mas as mulheres que trabalham com carteira assinada no Brasil têm direito a 04 (quatro) meses de licença maternidade e após o final desse período a lactente tem respaldo por lei (artigo 396 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT) a dois intervalos de 30 (trinta) minutos cada para amamentar, até que o bebê complete os 06 meses de idade ou a sair uma hora mais cedo do trabalho para amamentar. Além disso, de acordo com a Lei nº 13.467/2017, que dispõe sobre a reforma trabalhista, esse direito pode ser prorrogado, a critério médico, quando a saúde da criança exigir.
Pensando na importância dessa temática e em como o enfermeiro pode atuar e empreender nesse campo de atuação, convidamos a Olga Carpi, graduada em enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que hoje atua como consultora em amamentação no Amamente Mais, para responder algumas perguntas:
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Quais são os benefícios de continuar a amamentação após a volta ao trabalho?
Atualmente, no Brasil, a licença maternidade de trabalhadoras que estão vinculadas ao CLT é de 4 meses, a recomendação oficial dos principais órgãos de saúde no Brasil e no mundo é de se manter o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida do bebê, logo, essa conta não fecha. Não amamentar após a volta ao trabalho significa ofertar de forma indiscriminada a fórmula artificial, que é um ultraprocessado, podendo aumentar os riscos do bebê desenvolver alergias de pele, gastrointestinais e alimentares. Portanto os benefícios de continuar amamentando englobam a saúde do bebê do ponto de vista nutricional, imunológico, além de favorecer o vínculo entre mãe e bebê, já que estes, passarão horas afastados.
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Como deve ser a preparação para a volta ao trabalho?
A mulher que precisará retornar precisa de planejamento, aliado a rede de apoio e ajustes de expectativas, desta forma, munida de informações ela começará a agir, para iniciar o estímulo ao seu corpo, aumentando a produção de leite com o objetivo de estocá-lo, organizar estoque de forma otimizada, evitando o desperdício do leite extraído, e entendendo o processo de oferta de leite materno de forma segura, para seguir amamentando em livre disponibilidade sempre que estiver com o bebê.
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Como fica a produção do leite sem a livre demanda?
Nosso corpo tem a incrível habilidade de se ajustar, se calibrar de acordo com a demanda, que na falta da sucção potente do bebê, é substituída pelo estímulo da rotina de extração de leite.
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Qual a melhor forma de armazenar, preparar e oferecer o leite para o bebê?
Idealmente armazenar em frascos de vidro com tampa plástica de rosca, congelados no freezer por 15 dias, ou na geladeira por 12 horas. Descongelar o leite em geladeira e ofertar uma porção, essa oferta pode ser com leite gelado mesmo, ou amornado em banho maria, com fogo desligado e com água morna. A oferta pode ser feita em copo de dose/pinga para proteger a amamentação e não interferir no padrão de sucção do bebê, o que acontece com a mamadeira, por exemplo, e que pode levar a uma confusão de bicos e fluxos, e posteriormente a um desmame precoce (todo desmame antes dos 2 anos de vida do bebê).
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Até que idade do bebê é necessário manter a rotina de extração do leite materno?
Pelo menos até 1 ano de vida do bebê, é aconselhável, considerando que o leite é o principal alimento até então, e que os bebês estão em processo de introdução alimentar. Claro que vale observar individualmente cada caso, e fazer essa transição gradualmente, após os 12 meses. Lembrar que em muitos momentos, o bebê pode aceitar apenas o leite materno, como no caso de viroses, incômodo por dentes nascendo e etc.
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O que você considera como mais importante nesse processo da volta ao trabalho da mulher que amamenta?
O acesso a informação de qualidade, relevante e atualizada. Muitas, por desconhecer as possibilidades, ou por orientações equivocadas de profissionais que banalizam a amamentação, atrelam o retorno ao trabalho ao desmame, introdução de fórmula, ou pior: introdução alimentar precoce. Munidas de informação, essas mulheres se empoderam, entendem o processo de produção de leite, começam a confiar na potência de seus corpos, e vivenciam a revolução na cultura da amamentação.
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Como foi a sua experiência de retornar ao trabalho depois de ser mãe?
Voltei a trabalhar quando Olívia tinha de 4 para 5 meses, passava cerca de 12 horas fora todos os dias. Consegui mantê-la em aleitamento materno exclusivo até os 6 meses. Fiz minha rotina de extração até os 18 meses dela, e sigo amamentando, hoje ela tem 3 anos e 2 meses e sem sinais de desmame por aqui! Na época, como eu não estava munida de informações, foi bem caótico. Demorei para começar a estimular meu corpo, não entendia a oferta do leite como um processo, e nutria expectativas completamente irreais. Só depois de voltar a trabalhar e entender onde eu tinha acertado, e onde eu tinha muito a melhorar que foi ficando mais proveitoso esse momento. Sempre gostei muito de trabalhar, mas a insegurança de pensar que minha filha poderia passar fome, não me deixava focar no trabalho. Foram longas semanas, meses assim. Sem contar na privação de sono, e o cansaço de horas de trânsito diariamente. Posteriormente, vi que não me encaixava mais naquelas metas, ambiente corporativo e viagens, congressos e jantares intermináveis. Fundei a Amamente Mais, empresa que tem como objetivo levar informação para mulheres que desejam amamentar após o fim da licença-maternidade. Hoje são mais de 2500 alunas espalhadas por mais de 12 países, e mais de 40 mil pessoas impactadas pelos conteúdos disponíveis nas redes sociais.
Através das menções legislativas citadas e as experiências descritas pela entrevistada, o presente texto visa corroborar com mulheres que vivenciam o processo de amamentação e que tiveram que retornar ao mercado de trabalho assim como os profissionais de saúde que no desenvolvimentos de suas atividades poderão orientar sua clientela sobre seus direitos e ao mesmo tempo promover a amamentação.