Uma das principais doenças crônicas que acomete crianças e adolescentes é o Diabetes Mellitus tipo 1. A partir de um processo imunomediado, influenciado por fatores genéticos e ambientais, as células beta presentes no pâncreas, responsáveis pela secreção de insulina, são destruídas gradualmente, resultando na perda total da sua função e dependência de insulina exógena.
O início da manifestação clínica da doença, com sintomas como poliúria, polidipsia, hiperglicemia, polifagia, perda de peso, pode ocorrer em qualquer idade, inclusive nos primeiros anos de vida. Diante do diagnóstico de Diabetes Mellitus e apesar de todas as tecnologias existentes para o tratamento dessa condição, um dos maiores desafios e preocupações da família é a manutenção do controle glicêmico.
Nessa perspectiva, é importante que o enfermeiro esclareça todos os cuidados necessários à família, para melhor adesão ao tratamento e promoção de qualidade de vida, sendo tanto no período de aleitamento materno quanto de crianças maiores.
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Amamentação de crianças diabéticas
O cálculo do consumo de carboidratos para dosagem de insulina em lactentes e crianças pequenas é um grande desafio. Isso ocorre por conta da dificuldade em mensurar a ingesta de leite materno diretamente do seio, bem como a variabilidade da aceitação dos alimentos nessa fase.
Estudos mostram aumentos consideráveis na variação das concentrações de carboidratos no leite materno com o passar dos dias de aleitamento, estando predominantemente na forma de lactose, de modo que atingem em média 70g/L de carboidrato ou seja 7g em 100ml de leite.
Em comparação a fórmula infantil, a composição de carboidratos do leite materno é semelhante. Entretanto, o grande diferencial é o teor de gordura maior no leite materno, importante na modulação da absorção de taxas de glicose séricas. Dessa maneira, embora ainda não comprovado em estudos científicos, parece ocorrer uma condição pós prandial mais favorecida em lactentes alimentados com leite materno do que com fórmulas infantis.
Para lactentes que necessitam de doses de insulina e se alimentam de leite materno ordenhado, cálculos considerando o nível de carboidrato em 100ml de leite materno pode ser utilizado. Por outro lado, para lactentes entre 7 a 12 meses amamentados pode ser levado em consideração o volume estimado de produção de leite de 740ml em um período de 24 horas dividido pelo número médio de mamadas.
Apesar do enorme desafio em quantificar o consumo de carboidratos por bebês amamentados, as famílias devem ser esclarecidas sobre as evidências de que o leite materno é o alimento padrão ouro para todos os bebês, inclusive os diabéticos, favorecendo o desenvolvimento da massa branca cerebral, e os protegendo dos possíveis danos cerebrais provocados por quadros de hiper e hipoglicemia. Além disso, o leite materno reduz o risco de infecções, hospitalizações, obesidade na vida adulta e outras condições crônicas de saúde.
Outros cuidados com crianças diabéticas
A criança com diagnóstico de diabetes tipo 1 possui uma rotina adaptada de cuidados, por meio de uma dieta diferenciada, da utilização de insulina e de mudança do estilo de vida. Nesse contexto, é importante que a equipe de saúde esteja presente de maneira interdisciplinar a fim de garantir o cuidado clínico e psicológico da criança visto que ela pode apresentar sentimentos de medo, de insegurança e revolta para aceitar a adaptação.
Nessa perspectiva, a enfermagem tem a possibilidade de orientar a família e a criança por meio de ferramentas lúdicas, como o brinquedo terapêutico (BT). Essa ferramenta possibilita ao profissional de saúde estabelecer um diálogo com a criança, ensinando os cuidados necessários com brincadeiras, como o monitoramento da glicemia, a administração de insulina, a dieta e o exercício, bem como estimulando o vínculo e a expressar suas emoções.
Ademais, é indispensável a participação familiar a fim de auxiliar a adesão ao tratamento. A criança quando pequena não tem possibilidade de cuidar de si e necessita que os cuidadores auxiliem na administração da insulina e no monitoramento glicêmico. Frente a essa realidade, também pode-se observar uma melhora da adesão alimentar quando a família se envolve na mudança, não sendo uma obrigação apenas para a criança e sim uma readaptação familiar.
Diante disso, compreende-se que a participação ativa dos profissionais de enfermagem, o estabelecimento de vínculo e a construção contínua de educação em saúde pautado em um cuidado individualizado conforme cada núcleo familiar garantem uma maior adesão, compreensão e cuidado com a criança.
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Coautora: Nathalia Schuenque Cholbi – Enfermeira Pediatra