O número de brasileiros que considera a saúde mental um dos maiores problemas de saúde do país mais que dobrou nos últimos quatro anos, chegando a quase metade da população, segundo o levantamento Monitor Global dos Serviços de Saúde, de 2022, realizado pela empresa Ipsos, especialista em pesquisa de mercado e opinião pública.
A grande mudança revelada pela pesquisa foi que, pela primeira vez, a saúde mental ultrapassou o câncer como um dos principais problemas de saúde apontados pela população global.
A proporção de pessoas que citou as questões psíquicas, que já vinha aumentando nos últimos anos, passou de 31%, em 2021, para 36% neste ano. Em relação ao câncer, esse índice, que era de 34% no ano passado, manteve-se estável, caindo para o terceiro lugar do ranking.
No Brasil, a apreensão com a saúde mental é ainda maior que a média global, e já era o segundo maior problema mencionado pelos entrevistados desde o ano passado, quando subiu 13 pontos percentuais na pesquisa em relação a 2020, chegando a 40%. Em 2022, esse índice subiu ainda mais, para 49% – o que representa quase metade dos brasileiros e uma taxa mais de 10 pontos superior à média mundial.
Hoje, o Brasil é o sexto país que mais cita o problema, atrás apenas da Suécia, por 63% da população; do Chile, por 62%; da Irlanda, por 58%; de Portugal, por 55%, e da Espanha e dos Estados Unidos, ambos por 51%.
Covid-19
A covid-19 foi apontada como um dos principais problemas de saúde por 47% dos entrevistados, uma queda de 23 pontos em relação à proporção de 2021 – quando era de 7 a cada 10 entrevistados. A preocupação é maior no Japão, Peru, Japão, Tailândia e Indonésia.
No Brasil, essa oscilação foi de 84% para 62%. Apesar da diminuição, assim como no ano passado, o país foi o quinto com mais pessoas preocupadas com o novo coronavírus, empatado com o México.
Câncer
O câncer continuou sendo apontado por três a cada dez entrevistados brasileiros, uma variação de 31%, em 2021, para 29% neste ano. A apreensão com a doença está em queda acentuada no país desde 2018, quando essa era a maior preocupação, sendo mencionada em 57% das respostas. Hoje, o Brasil é o 19º no ranking mundial dos que citam os tumores como um dos principais problemas de saúde.
“A queda da preocupação com a covid-19 reflete uma tentativa de retomada da normalidade, e agora outros fatores gerados pela pandemia passam a ser relevantes ao olhar da população brasileira. Qualitativamente, observamos aspectos relacionados à saúde mental como algo mais relevante na percepção da população. Tanto o isolamento, as perdas e a proximidade com uma pandemia levou a diferentes reflexões sobre saúde. Neste contexto, enfermidades historicamente relevantes, como câncer, são declaradas menos preocupantes pela população. Uma das hipóteses é que a mortalidade por câncer é mais lenta do que a que foi vista pela covid-19, se tornando mais secundária”, avaliou o chefe de cuidados de saúde da Ipsos no Brasil, Cássio Damacena.
Avaliação dos serviços de saúde
A Ipsos fez ainda outras perguntas relacionadas a temas de saúde. Enquanto metade da população global afirma que a qualidade dos serviços de saúde é boa ou muito boa, apenas 29% dos brasileiros concordam com a afirmativa – o quinto país mais insatisfeito. Além disso, embora 19% dos entrevistados pelo mundo classifiquem a qualidade como ruim ou muito ruim, o percentual é de 31% no Brasil.
Em relação a custos, 80% concordam que muitas pessoas no país não conseguem sustentar os gastos com a saúde, enquanto 7% discordam. Ainda assim, 62% dos brasileiros acreditam que a qualidade irá melhorar nos próximos anos, e apenas 8% pensam que irá piorar.
Sobre equidade, três em cada dez pessoas não concordam que o serviço de saúde no Brasil oferece o mesmo serviço a toda a população, e 67% acreditam que o sistema está sobrecarregado. Os entrevistados também concordaram que o tempo para conseguir agendar uma consulta no país é muito longo.
A pesquisa também quis saber os maiores desafios para os sistemas de saúde na percepção das pessoas. Para a maioria da população mundial, assim como no Brasil (ambos por 42%), o mais citado foi o acesso a tratamentos e tempo de espera.
Porém, enquanto a burocracia foi apenas a quarta questão mais citada em âmbito global, por 25%, esse foi o segundo entrave mais mencionado pelos brasileiros, por 28%. Em seguida vieram o custo das terapias, por 25% dos entrevistados no Brasil, e a falta de profissionais, por 24%.
Dados da pesquisa
O levantamento foi realizado entre os dias 22 de julho e 5 de agosto de 2022, com 23.507 entrevistados, em 34 países: África do Sul, Alemanha, Austrália, Argentina, Arábia Saudita, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Holanda, Hungria, Índia, Indonésia, Irlanda, Itália, Japão, Malásia, México, Peru, Polônia, Portugal, Romênia, Suécia, Suíça, Tailândia e Turquia. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.
*Esse texto foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.