Whitebook: hipertensão pulmonar

Confira dicas sobre a condição, como fatores de risco e definições hemodinâmicas, com informações exclusivas do Whitebook.

Como você provavelmente já sabe, a hipertensão pulmonar é a elevação da pressão arterial pulmonar média ≥ 20 mmHg em repouso, obtida por meio de cateterismo do coração direito. No conteúdo de hoje do Whitebook Clinical Decision, falaremos da apresentação clínica e de possíveis abordagens diagnósticas da condição.

Leia também: Nova opção de tratamento para hipertensão arterial pulmonar é incorporada ao SUS

É importante lembrar que a condição pode ser uma elevação primária da pressão na circulação arterial pulmonar (hipertensão arterial pulmonar, hipertensão pulmonar pré-capilar) ou secundária a elevações de pressão na circulação venosa e capilar pulmonar (hipertensão venosa pulmonar, hipertensão pulmonar pós-capilar).

Apresentação clínica da hipertensão pulmonar

Quadro clínico: inicialmente, os pacientes costumam apresentar dispneia aos esforços e fadiga. Com a progressão da doença, podem ocorrer dor torácica atípica, síncope, palpitações e congestão (edema periférico, ascite e derrame pleural), por acometimento de ventrículo direito. Anorexia e dor em quadrante superior direito de abdome por congestão hepática também são manifestações possíveis.

Marcadores de gravidade:

  • Cor pulmonale com hepatomegalia, ascite e anasarca;
  • Classes funcionais III e IV;
  • Falha terapêutica inicial.

Fatores de risco:

  • Distúrbios do coração esquerdo (ex.: insuficiência cardíaca, valvulopatia mitral e/ou aórtica, cardiomiopatia restritiva, pericardite constritiva, mixoma atrial);
  • Pneumopatia crônica e/ou hipoxemia (ex.: doença pulmonar obstrutiva crônica, pneumopatia intersticial, fibrose pulmonar, apneia do sono);
  • Tromboembolismo pulmonar crônico;
  • Drogas e toxinas (ex.: supressores de apetite, cocaína, anfetaminas, inibidores seletivos da recaptação de serotonina);
  • Doenças do tecido conjuntivo (ex.: esclerodermia, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico);
  • Infecção pelo HIV;
  • Hipertensão portal;
  • Cardiopatia congênita (ex.: shunts intracardí­acos esquerda-direita);
  • Esquistossomose;
  • História familiar positiva (hipertensão pulmonar hereditária);
  • Anemia hemolí­tica crônica (ex.: anemia falciforme, betatalassemia, esferocitose);
  • Doenças mieloproliferativas;
  • Sarcoidose;
  • Doença renal crônica;
  • Doenças metabólicas (ex.: tireoidopatias).

O exame inicial quando se suspeita de hipertensão pulmonar (HAP) é o ecocardiograma; quando este não é sugestivo, é bem provável que não haja HAP. Caso ainda haja suspeita e o ecocardiograma não seja suspeito, pode-se recorrer ao cateterismo das câmaras direitas.

Leia também: Como abordar dor torácica?

Abordagem diagnóstica

Exames de rotina:

  • Radiografia de tórax: pode mostrar aumento do tronco da artéria pulmonar, além de aumento das cavidades direitas;
  • Eletrocardiograma: há padrão de hipertrofia ventricular direita, com R > S em V1 e sinais de aumento atrial direito (onda P de maior amplitude). Pode também ocorrer bloqueio de ramo direito de diversos graus;
  • Ecocardiograma com Doppler: exame inicial para o diagnóstico de hipertensão pulmonar, pode estimar a pressão na artéria pulmonar através da fórmula: PSAP = (4 x [TRV]²) + RAP; em que TVR é a velocidade máxima do jato regurgitante da valva tricúspide e RAP corresponde à medida da variação da veia cava (estimativa da PVC). O ecocardiograma ainda pode fazer o diagnóstico de doenças cardíacas responsáveis pelo quadro de hipertensão pulmonar. Sua grande vantagem é de ser um exame não invasivo, porém, caso não haja regurgitação tricúspide, a avaliação fica prejudicada;
  • Cateterismo cardíaco direito: deve ser solicitado se o ecocardiograma e outros exames forem inconclusivos e houver alta ou intermediária suspeição clínica de HP (além de confirmar o diagnóstico, ainda avalia sua gravidade). O exame é capaz de medir diretamente a pressão pulmonar; além disso, permite a classificação da HP como pré-capilar, pós-capilar ou ambas (ver tabela abaixo). O cateterismo é indispensável antes de se iniciar o tratamento específico para hipertensão pulmonar quando indicado.

Definições Hemodinâmicas da Hipertensão Pulmonar

Definição Características Grupos Clínicos
Hipertensão
pulmonar
PAPm ≥ 20 mmHg Todos
Pré-capilar PAPm ≥ 20 mmHg
POAP ≤ 15 mmHg
Grupo 1 – Hipertensão arterial pulmonar
Grupo 3 – HP associada à doença pulmonar
Grupo 4 – HP tromboembólica crônica
Grupo 5 – multifatorial/
desconhecido
Pós-capilar PAPm ≥ 25 mmHg
POAP > 15 mmHg
Grupo 2 – associado à insuficiência de VE
Grupo 5 – multifatorial/ desconhecido
Pós-capilar isolada GPD < 7 mmHg e/ou RVP ≤ 3 WU Grupo 2 – associado à insuficiência de VE
Grupo 5 – multifatorial/ desconhecido
Pré e pós-capilar combinadas GPD ≥ 7 mmHg e/ou RVP > 3 WU Grupo 2 – associado à insuficiência de VE Grupo 5 – multifatorial/ desconhecido

Legenda:

  • PAPm: pressão arterial pulmonar média;
  • POAP: pressão de oclusão de artéria pulmonar;
  • GPD: gradiente de pressão diastólica;
  • RVP: resistência vascular pulmonar.
Exames complementares para investigação de possível causa (ex.: espirometria, polissonografia, autoanticorpos, anti-HIV, cintilografia pulmonar ventilação/perfusão, teste ergométrico): se todas as possíveis causas forem excluídas, conclui-se que se trata de hipertensão arterial pulmonar idiopática.
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