A adolescência é uma fase complexa, onde ao mesmo tempo que estamos crescendo temos uma necessidade imposta pelo mundo para que planejemos todos os nossos passos futuros. Há uma pressão social para que o adolescente tenha suas escolhas que podem determinar o rumo de suas vidas. Na maioria das vezes isso também se dá na sexualidade, onde a sociedade muitas vezes provoca nos adolescentes uma necessidade de definição de sua existência através da sexualidade, principalmente da expressão de gênero e orientação sexual. Parece que essas definições não são tão importantes assim, até porque mulheres e homens podem desempenhar as mesmas funções sociais. A necessidade da sociedade por definições parece se balizar em necessidade de e encorajamento para a ocupação de espaços sociais, mas isso vem mudando.
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A sexualidade do outro não deveria ser um problema e não deveria ser objeto de violência, mas também não é assim que acontece. A adolescência é época de muitas mudanças e precisamos discutir aspectos importantes. Muitas famílias têm dificuldades de tratar assuntos que envolvam o inicio da vida sexual. A escola que deveria ser um local potente para tais discussões, se faz historicamente um local de educação de proibições e punibilidade. Atualmente temos ações educacionais que vêm melhorando esse panorama, mas é de fato um tabu falar de sexo, mesmo esse assunto tendo evoluído. A família muitas vezes não possuem orientação sobre sexo ou sexualidade e isso complica todo um processo de construção de entendimento de si. A sexualidade não se relaciona apenas com o que sentimos frente aos outros, ou seja, a atração, mas quanto a nossa relação com o nosso próprio corpo. E, se esse é nosso, ninguém deveria dizer como ele deve ser.
É importante que os profissionais de saúde saibam as seguintes informações:
O motivo das informações se relacionam é que não apenas com os jovens que devemos aprender, afinal eles podem ter um peso sobre a descoberta e nessa fase muitas vezes não podem nos ensinar sobre algo que nem eles sabem. Falhas na comunicação também podem ser constantes devido a dificuldade de comunicação que adolescentes possuem, mas afinal, quem as não possui? Acho que na verdade, nós, adultos, possuímos mais problemas na comunicação que surgem a partir de ficarmos engessados e higienizados com conceitos paradigmáticos sobre a existência e o viver em sociedade. Por esse motivo, temos, nós, profissionais de saúde, que levar informação e na verdade nos vigiar para que os aspectos históricos, culturais e sociais de nossas vidas, não sejam uma barreira estrutural do sistema de saúde.
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O adolescente se debruça em relações de confiança, de respeito, cumplicidade e de troca de experiências, com outros adolescente, assim como nós adultos, que gostamos desse tipo de relação, mas desenvolvemos personas e barreiras ao longo da vida. Isso não quer dizer que nós profissionais de saúde temos que tratar os adolescentes como imaturos, desvalorizando suas experiências, frustrações ou como seres confusos. Lembre-se que também temos problemas enquanto adultos, apenas são outros problemas. Acredito que alguns de nós repetem o movimento que foi feito conosco na adolescência e muitas vezes reproduzimos o que observamos, vivemos ou experimentamos. Mas podemos mudar, enquanto pais, profissionais ou sociedade. Talvez isso gere menos impacto negativo na saúde de todos nós.
O que fazer?
Quando os adolescentes não possuem suporte da família, da escola ou de profissionais de saúde, podem transformar o desenvolvimento e as descobertas em um problema. Por isso, podemos contribuir, enquanto profissionais e não necessariamente de forma direta, mas indireta também, levando conhecimento até as famílias e a escola e sendo um instrumento de diminuição do preconceito e violência. A saúde comunitária é o caminho! Ela possui seu campo de trabalho no território, sendo estratégico para as concepções de competência necessária a instrumentação do saber sobre sexualidade e sobre as dúvidas dos adolescentes sobre sexo e satisfação sexual. É importante que possamos tratar o tema de forma ampla e para isso precisamos construir nos territórios, espaços capazes de acolher tais demandas.
Por tanto, construa espaços na escola e nas unidades de saúde, principalmente na relação de grupo. Importante também levar informações ao domicilio e a espaço mais comunitários, respeitando sempre as questões culturais e religiosas. Lembre-se que hoje temos muitas informações na internet, mas não é uma construção que muitas vezes se faz no diálogo. Além disso, temos que considerar que há muito conteúdo mas nem todo o conteúdo é bem compreendido pelos adolescentes. É importância se discutir sobre as descobertas do corpo, do sexo e das consequências, mas sem falas de culpabilidade ou punibilidade, mas de trocas que possam solidificar conhecimento e evitar adoecimento sexual e psicológico. Para isso, se faz necessário que esses temas sejam tratados sem tabus e com as melhores construções de acordo com a participação de todos os atores envolvidos.
Referências Bibliográficas
- Jesus J. G. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Brasília. 2012.
- Moreira LI. Vozes transcendentes: os novos gêneros na música brasileira. HooEditora. São Paulo. 2018.
- Spargo T. Foucault e a Teoria Queer: seguido de Ágape e êxtase: orientações pós-seculares. Autêntica Editora. Belo Horizonte. 2017.