AAP 2022: Recomendações para reduzir riscos de violência por arma de fogo em crianças e jovens

Aproximadamente 85% das mortes por armas de fogo em crianças com 12 anos ou menos acontecem em casa. Confira recomendações atualizadas da AAP.

A American Academy of Pediatrics (AAP) divulgou, em 8 de outubro de 2022, recomendações atualizadas para a redução dos riscos de violência por arma de fogo em crianças e jovens através do relatório Firearm-Related Injuries and Deaths in Children and Youth: Injury Prevention and Harm Reduction, publicado também no periódico Pediatrics, por Lee e colaboradores.

Segundo o relatório, as armas de fogo são as principais responsáveis por morte em suicídios e homicídios pediátricos. O aumento do acesso às armas de fogo está associado ao aumento das taxas de óbito por esses dispositivos. Além disso, existem disparidades substanciais em ferimentos e mortes por armas de fogo por idade, gênero, raça, etnia, orientação sexual e identidade de gênero e para mortes relacionadas à intervenção legal.

Leia mais: Confira a cobertura completa do congresso da American Academy of Pediatrics

AAP 2022

Epidemiologia

Diariamente, 28 crianças e adolescentes morrem devido à violência armada nos Estados Unidos. A taxa de mortalidade nacional americana é significativamente elevada, maior que a de todos os países desenvolvidos somadas, em grande parte devido a um aumento alarmante de suicídios e homicídios que não chegam às manchetes.

As taxas de homicídios e suicídios por armas de fogo em jovens americanos, especialmente com idades entre 15 e 24 anos, aumentaram 14% e 39%, respectivamente, nos últimos dez anos. Entre todos os óbitos por armas de fogo, os homicídios respondem por 58%, os suicídios por 37%, 2% são não intencionais e a intervenção legal representa 1%.

Além disso, aproximadamente 85% das mortes por armas de fogo em crianças com 12 anos de idade ou menos acontecem em casa. Inclusive, de acordo com pesquisas baseadas em dados de 2014, os adolescentes de 13 a 17 anos têm a mesma probabilidade de serem mortos em casa (39%) ou na rua/calçada (38%).

Dados coletados

Lee e colaboradores descreveram números alarmantes: em 2020, as armas de fogo resultaram em 10.197 mortes (taxa de mortalidade 9,91/100.000 jovens de 0 a 24 anos). No mesmo ano, mais de 6.000 jovens americanos de 15 a 24 anos de idade morreram por suicídio. As armas de fogo, o meio mais letal, são responsáveis em um terço dos suicídios entre os 10 a 14 anos de idade e metade de todos os suicídios entre os 20 a 24 anos de idade. Embora os suicídios de jovens com armas de fogo tenham diminuído de 1994 a 2007, eles aumentaram 53% desde então. Já o homicídio relacionado a arma de fogo representou a terceira principal causa de morte de jovens nos Estados Unidos em 2020 e as taxas aumentaram mais de 60% de 2014 a 2020.

Os tiroteios em escolas representam um fenômeno relativamente novo no último meio século, e os Estados Unidos têm a maior taxa do mundo. A frequência aumentou dramaticamente. Entre 1966 e 2008, houve 44 tiroteios em escolas documentados nos Estados Unidos, com média de 1 por ano. Entre 2013 e 2015, houve 154 eventos relatados, com média de um por semana. Embora tiroteios em escolas sejam responsáveis por menos de 1% de todos os óbitos por armas de fogo entre crianças de 0 a 17 anos de idade nos Estados Unidos, eles recebem muita atenção do mundo todo.

Suicídios

Por fim, Lee e colaboradores relataram que a maioria dos suicídios relacionados a armas de fogo em jovens ocorre no sexo masculino (89%) e jovens mais velhos (33% entre jovens de 15 a 19 anos e 61% de 20 a 24 anos). Em 2019, jovens lésbicas, gays ou bissexuais tentaram suicídio com taxas 4,5 vezes maiores do que jovens heterossexuais, e jovens transgêneros tentaram suicídio com taxas 6,3 vezes maiores do que homens cisgêneros. Entretanto, os dados sobre suicídios por armas de fogo entre jovens LGBTQ+ são limitados.

Recomendações da AAP

A AAP ressalta que pesquisas e publicações sobre lesões, mortes e intervenções relacionadas a armas de fogo ficaram muito aquém de outras áreas de estudo, o que prejudica a capacidade de aplicar abordagens baseadas em evidências para diminuir lesões e óbitos em crianças e jovens americanos. Dessa forma, as recomendações em níveis local, estadual e federal incluem as seguintes:

  • Instruir médicos de uma forma geral (e não somente o pediatra) a orientar sobre prevenção de acidentes;
  • Orientação antecipatória aos pacientes sobre armas de fogo e aconselhamento, exames de saúde mental e educação sobre armazenamento seguro de armas como parte das visitas de rotina ao médico;
  • Aumento do financiamento para programas de intervenção contra a violência em ambientes hospitalares e comunitários;
  • Normas para que as armas de fogo sejam regulamentadas por segurança, como outros produtos de consumo, incluindo veículos motorizados. Requisitos nacionais poderiam ser estabelecidos para treinamento, licenciamento, cobertura de seguro e registro de indivíduos que compram armas de fogo e requisitos para armazenamento seguro;
  • Projetos e regulamentação de segurança para armas de fogo, com defesa do projeto e venda de armas “inteligentes” personalizadas a preços acessíveis e tecnologia de segurança, que permitem que apenas usuários autorizados acionem o gatilho da arma de fogo;
  • Legislação que inclui verificações universais de antecedentes usando bancos de dados federais e informações das autoridades locais antes de todas as compras de armas de fogo;
  • Legislação que incentiva o armazenamento seguro de armas de fogo;
  • Leis de ordem de proteção contra riscos extremos, também conhecidas como “leis de bandeira vermelha”, que proíbem indivíduos em risco de prejudicar a si mesmos ou a outros ao comprar ou possuir uma arma de fogo por ordem judicial;
  • Mais financiamento para pesquisas de prevenção e lesões por arma de fogo.

A palestra contou com a participação de Lois Lee (presidente do Conselho da AAP sobre Lesões, Violência e Prevenção de Intoxicações) e de Farideh Moharer Arianpour, representante do movimento Moms Demand Action. Arianpour deu seu emocionante depoimento sobre o falecimento de seu filho, Roozbeh, assassinado aos 23 anos em 2003, e participa ativamente de medidas educativas para a redução da violência em território americano.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • LEE, Lois; LAU, May; ARIANPOUR, Farideh Moharer. Firearm-Related Injuries and Deaths in Children and Youth: Injury Prevention and Harm Reduction. 2022 AAP Experience. Anaheim, California, 08 de outubro de 2022
  • LEE, Lois et al. Firearm-Related Injuries and Deaths in Children and Youth: Injury Prevention and Harm Reduction. Pediatrics, 2022
  • AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. “American Academy of Pediatrics: Firearms violence prevention demands a public safety approach like regulation of motor vehicles”. 2022. Disponível em: https://www.eurekalert.org/news-releases/966494

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