AAP 2023: Escroto agudo e as principais orientações no paciente pediátrico

Dr. Albert Lee, do departamento de Urologia Pediátrica do Texas Children´s Hospital, abordou os principais diagnósticos diferenciais no escroto agudo pediátrico.

O escroto agudo é uma emergência urológica definida pelo quadro súbito de dor escrotal, e que pode ser acompanhada por outros sintomas como edema e eritema local, além de sinais sistêmicos. É um quadro relativamente comum na faixa etária pediátrica e deve ser encarado como uma emergência, pois dependendo da etiologia, pode haver perda da função testicular se não houver uma abordagem rápida e eficaz.

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A aula do Dr. Albert Lee, do departamento de Urologia Pediátrica do Texas Children´s Hospital, abordou os principais diagnósticos diferenciais no escroto agudo pediátrico, com ênfase na torção testicular, e a acurácia da ultrassonografia no diagnóstico dessas condições.

“Time is testicles”

O urologista lembrou na aula que um dos principais pontos de importância na abordagem da dor testicular é que, assim como na cardiologia o “tempo é músculo”, nos casos de dor testicular, o tempo para o diagnóstico e a abordagem fazem toda a diferença no prognóstico do paciente. Dessa forma, todos os quadros de dor testicular súbita devem ser encarados como uma emergência médica.

Podemos pensar em quatro grandes síndromes como principais diagnósticos do escroto agudo na pediatria:

  1. Isquemia: Torção do testículo espermático, testículo apendicular, epidídimo apendicular;
  2. Trauma: Ruptura testicular, hematocele;
  3. Infecciosa / inflamatória: Epididimite, epidídimo-orquite, vasculites inflamatórias etc.;
  4. Hérnias (encarceradas ou estranguladas).

Dentre esses diagnósticos, os mais comuns na pediatria são a torção de apêndice testicular (46%), epididimite (35%) e torção testicular (16%).

Ao nos depararmos com um paciente com dor testicular aguda, devemos nos atentar à história e ao exame físico. Na história, coletar dados como relato de traumas na região genital, alterações miccionais, sensação de estrangúria e qualidade e grau de dor. O palestrante mencionou que, na experiência dele, a dor abdominal é um achado bastante comum em pacientes com torção testicular, principalmente em crianças pequenas que não conseguem localizar adequadamente a dor, e por isso, dor abdominal também deve levantar a suspeita de escroto agudo, principalmente se não há outros achados importantes que sugiram doença abdominal. 

Uma ferramenta interessante para auxiliar no diagnóstico da torção testicular é o TWIST score. Esse escore pontua achados do exame físico, conforme abaixo: 

  • Edema testicular – 2 pontos
  • Testículos endurecidos – 2 pontos
  • Reflexo cremastérico ausente – 1 ponto
  • Náuseas ou vômitos – 1 ponto
  • Testículos elevados ou horizontalizados – 1 ponto

Pacientes com 5-7 pontos apresentam torção testicular em sua totalidade, enquanto 0-2 pontos exclui a torção testicular. Lembrar que o reflexo cremastérico não está presente em todas as crianças, e com isso, sua ausência não pode ser considerada como patognomônica da torção testicular.

O ultrassom é nosso amigo

Outro ponto de destaque da palestra foi a importância do ultrassom (US) nos diagnósticos do escroto agudo. Pacientes com risco intermediário (3-4 pontos no TWIST Score), além de pacientes em que o exame físico pode estar prejudicado, inclusive pela dor, se beneficiam do US testicular. O professor enfatizou que se deve manter um limiar baixo para a indicação de US na suspeita do escroto agudo, uma vez que a sensibilidade para torção testicular é de 100% e a especificidade é de 97,9%.

 

Em outras condições, como ruptura testicular, hematocele, hematoma testicular e avulsão testicular, o US também apresenta excelentes sensibilidades e especificidades. Outros exames que podem ser realizados no escroto agudo para auxiliar no diagnóstico diferencial incluem urina tipo 1, urinocultura e testes de infecções sexualmente transmissíveis, esses últimos principalmente em adolescentes com vida sexual ativa. 

A questão é: tratamento cirúrgico ou não cirúrgico?

Uma das mensagens mais importantes da palestra é a de que, todos os meninos pré-puberais, assim como os adultos jovens com dor escrotal aguda devem ser considerados como tendo torção testicular, até que se prove o contrário. A abordagem e o manejo adequado de pacientes com torção testicular deve ser realizada o mais precocemente possível, uma vez que, se houver demora em no tratamento, a probabilidade de preservação testicular cai de 100% nas primeiras 6 horas, para menos que 20 % após 48 horas da torção. No entanto, em neonatos, a torção testicular quase nunca possibilita a preservação do testículo. 

A tentativa de redução manual da torção deve ser realizada apenas nos casos em que não há disponibilidade de tratamento cirúrgico imediato. Nesses casos, mesmo que haja resolução da torção, o paciente deve realizar precocemente tratamento cirúrgico para exploração do escroto e fixação do testículo, uma vez que o quadro pode recorrer. 

Mensagens para casa

  • Tempo é testículo! Dor escrotal aguda é uma emergência médica.
  • Em meninos pré-púberes, adolescentes e adultos jovens, considerar que existe torção testicular até que se prove o contrário.
  • O TWIST score é uma boa ferramenta para se excluir ou confirmar o diagnóstico de torção testicular.
  • Nos casos duvidosos, ou quando não é possível utilizar o TWIST score, a ultrassonografia testicular é um exame imprescindível para o diagnóstico, devido à sua alta sensibilidade e especificidade.
  • Na torção testicular, o tratamento cirúrgico precoce é o indicado. Nos casos em que não é possível a realização do tratamento cirúrgico rápido, é possível tentar a redução manual, mas nunca atrasando o tratamento cirúrgico.
  • Mesmo que haja resposta na redução manual, todos os pacientes devem realizar procedimento cirúrgico para exploração testicular e fixação do testículo, devido à alta recorrência do quadro.

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