AIDS 2023: Controladores de elite podem desvendar o caminho para a cura do HIV?

Controladores de elite são indivíduos com infecção pelo HIV que conseguem obter um controle virológico mesmo sem uso de terapia antirretroviral (TARV).

O congresso AIDS 2023, promovido pela International AIDS Society, em uma de suas plenárias especiais, tratou de um tema que é alvo de estudos e de interesse mundial há décadas: a busca pela cura do HIV. 

Embora alguns casos de cura já tenham sido descritos, ainda não há uma terapia específica efetiva e segura que possa ser fornecida a pessoas com a infecção pelo vírus disponível. Uma das características que dificultam um tratamento definitivo é a capacidade do HIV de estabelecer latência em células distribuídas em vários tecidos do corpo humano, tornando-se uma fonte de possibilidade de perpetuação da infecção. 

IAS 2023

Controladores de elite: quem são

Alguns indivíduos com infecção pelo HIV conseguem, naturalmente, obter um controle virológico mesmo sem uso de terapia antirretroviral (TARV) ou manter esse controle por décadas após sua interrupção. Essas pessoas – conhecidas como “controladores de elite” – também podem ser uma fonte de informações para estabelecer possíveis caminhos a serem explorados como estratégias para a cura. 

Algumas características já investigadas dos controladores de elite foram discutidas e podem ser conferidas a seguir.

Características dos controladores de elite 

  • Os indivíduos que apresentam controle natural/espontâneo da infecção pelo HIV representam < 0,5% de todas as pessoas infectadas pelo HIV-1, sendo mais frequentemente mulheres. Caracterizam-se por pico de viremia de baixa intensidade, infecção primária assintomática e um estabelecimento progressivo de controle virológico que pode durar por décadas. 
  • Entre fatores virais que poderiam justificar a ocorrência desse controle natural de infecção, destacam-se algumas mutações e polimorfismos que são encontrados mais frequentemente nesses casos – como os associados à proteína Nef. Também já está estabelecido que o controle da infecção é mais comum em infecções pelo HIV-2 do que pelo HIV-1, com frequências que variam de 10 – 30% em comparação com < 0,5%, respectivamente. 
  • Contudo, progressão ocorre mesmo em pessoas com vírus inicialmente menos patogênicos. Além disso, a maioria dos indivíduos que controlam o HIV apresentam vírus patogênicos capazes de replicação competente. 

Predisposição genética e interrupção de TARV

Fatores do hospedeiro também foram investigados, com achados que parecem estar associados aos controladores de elite: predisposição genética a menor expressão de CCR5 e alta frequência de alelos de HLA considerados protetores. Entretanto, esses fatores genéticos não são suficientes e nem necessários para atingir o controle da infecção pelo HIV. 

Outra forma de controle virológico observada é a que ocorre após interrupção de TARV. Nesses casos, diferente do que acontece com o controle natural/espontâneo, indivíduos apresentam altos níveis de viremia e infecção primária sintomática. Aproximadamente 6% dessas pessoas iniciaram TARV precocemente e o controle de HIV após sua interrupção pode durar décadas. Também de forma diferente, a frequência de alelos HLA considerados protetores não é maior nessa população. 

Considerações

Esses achados sugerem que deve haver caminhos diferentes no organismo para obter o controle da infecção e para manter esse controle uma vez que ele é obtido. 

A imunidade inata parece ter um papel importante para a obtenção de controle virológico: respostas de inteferon tipo I decorrentes da estimulação de TLR7 podem explicar as diferenças entre os sexos o controle de infecção pelo HIV, produtos virais são detectados de forma aumentada por células dendríticas convencionais em controladores de elite infectados por HIV-1 e na infecção pelo HIV-2, e células NK parecem contribuir para um controle precoce da infecção pelo HIV. 

Os controladores de elite apresentam também uma resposta humoral de magnitude robusta e uma larga capacidade de neutralização associada à exposição de antígenos. Apesar de viremia baixa, essas pessoas possuem alta frequência de células B de memória específicas para o HIV e respostas efetoras de anticorpos polifuncionais. 

As respostas celulares de controladores de elite são outro aspecto que diferem essa população. As células T-CD8 apresentam maior capacidade de eliminar células infectadas, com maior capacidade de sobrevivência e auto-renovação, multipotência, ampla atividade antiviral, alto potencial citotóxico, plasticidade metabólica e capacidade de migrar através do sistema linfoide. 

Essas diferenças parecem ser estabelecidas muito precocemente na memória das células T-CD8. 

Estudos mostram que os controladores de elite possuem níveis baixos de células infectadas, mas relativamente um alta proporção de provírus intactos. Parece haver também uma seleção progressiva para provírus localizados em áreas com menor potencial de transcrição. 

Aplicação prática

O início de TARV durante ou próximo à infecção primária pelo HIV-1 parece aumentar a probabilidade de controle pós-tratamento, ocorrendo quando há diversidade e disseminação limitadas de HIV-1 e reservatórios virais mais lábeis e quando há possibilidade de preservação de órgãos linfoides e de estabelecimento de respostas de memória que permitem uma resposta secundária mais eficiente contra rebote viral. 

Entretanto, a janela de oportunidade para estabelecer essa terapia pode ser muito estreita, de apenas algumas semanas, o que dificulta sua aplicação na prática. 

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