Um grande problema enfrentado por pacientes e médicos de pessoas que vivem com HIV (PVHIV) são questões relacionadas à saúde mental. A prevalência de transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão, em PVHIV é maior do que na população geral e essa tendência tende a se manter com o envelhecimento.
A 12ª Conferência do IAS 2023, que acontece na Austrália, também abordou esse importante tema.
Confira os principais pontos a seguir
- O bem-estar mental está relacionado a fatores como apoio social, econômico e emocional, que agem em conjunto com fatores intrínsecos ao indivíduo, na forma de lidar com fatores estressores.
- O isolamento social – em contraste com apoio social – esteve significativamente relacionado à presença de maiores níveis de marcadores de inflamação no LCR, representados por MCP-1 e IL-6, tanto em pacientes com infecção pelo HIV, quanto nos sem infecção.
Depressão
A presença de um diagnóstico de depressão, prévio ou recente, esteve mais fortemente relacionado com diminuição de independência nas atividades diárias e queixas cognitivas do que a performance neuropsicológica basal.
A performance neuropsicológica basal foi influenciada por fatores como ausência de remissão completa, instabilidade no tratamento e gravidade dos sintomas.
O risco de depressão com um novo diagnóstico de HIV aumenta com a idade (≥ 80 anos versus 65 – 69 anos), principalmente em mulheres.
Ansiedade
Para o diagnóstico de transtornos de ansiedade, há muito menos informação disponível do que para depressão.
Em um estudo com indivíduos mais novos e mais velhos, com e sem HIV, PVHIV apresentaram maiores taxas de sintomas ansiosos e de diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada e distúrbio do pânico. Não houve relação com a idade entre as PVHIV.
Outro estudo com 152 homens com HIV mostrou maiores níveis de ansiedade em PVHIV do que em homens sem a infecção. Homens com menos de 50 anos e com diagnóstico recente de HIV tiveram maiores índices de ansiedade, o que sugere que indivíduos mais idosos podem ter maior capacidade adaptativa.
De forma semelhante, um estudo conduzido na Guinea em 160 PVHIV evidenciou uma prevalência de 13,8% de sintomas ansiosos mensurados na escala HADS. Ter < 40 anos esteve significativamente associado com maiores níveis de ansiedade (OR ajustada = 2,81; IC 95% = 1,04 – 7,58).
Em relação ao transtorno do abuso de substâncias, diversos estudos têm demonstrado uma redução em sua prevalência com o aumento da idade. Entretanto, estudos iniciais não mostraram a mesma tendência em PVHIV.
Estudos norte-americanos encontraram uma prevalência próxima a 25% de transtorno de abuso de substâncias em indivíduos idosos com HIV. Assim como em pacientes mais jovens, o abuso de substâncias é um preditor de envolvimento em relações sexuais de risco e de falta de adesão à TARV.
Internações e casos graves
Entre os pacientes com doença mental grave que precisaram ser internados, estima-se que somente 39% recebam prescrição de terapia antirretroviral. A prescrição de TARV foi mais comum em pacientes admitidos com diagnóstico de HIV e > 29 anos e menos comum em pessoas admitidas especificamente por diagnóstico de psicose.
Indivíduos com doença mental grave apresentam maior risco de ter comorbidades, além de HIV e HCV, como HAS e DM, mas também estão sob maior risco de perda de seguimento no acompanhamento dessas doenças. Esses pacientes também apresentam uma alta taxa de mortalidade precoce. Intervenções específicas para essa população devem ser estudadas com o objetivo de alcançar melhores desfechos.
Indivíduos mais velhos apresentam menores taxas de descontinuação de PrEP, podendo ser uma estratégia de prevenção nessa população.
3 abr. 2024 
5 min. 
