* Este artigo foi escrito em parceria com a colunista Mariana Marins (Saúde da Família e Ensino na Saúde).
As mulheres são as principais usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) e de acordo com dados da PNAD Contínua – 2019 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) 51,8% da população brasileira é composta pelo sexo femenino. No país, em 2004, foi lançada a Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) que propunha diretrizes para a humanização e a qualidade do atendimento a esse público, questões essas que ainda hoje estão pendentes na atenção à saúde das mulheres.
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É notório que ao falar em humanização e qualidade de atendimento às mulheres é preciso citar a integralidade da assistência e do cuidado à saúde, visto que uma mulher não deve ser atendida somente com foco em seu ciclo gravídico-puerperal. Existem outras questões além da gestação, métodos contraceptivos e saúde reprodutiva que precisam e devem ser trabalhados com a mulher: violência no namoro, violência de gênero, vulnerabilidade feminina, vida sexual satisfatória, doenças cardiovasculares, câncer de mama, câncer uterino, entre outros. O fato é que todos esses temas citados perpassam pela promoção e incentivo ao empoderamento feminino. A Organização das Nações Unidas (ONU) também destaca essa temática, por meio do 5º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que trata a igualdade de gênero e empoderamento feminino na Agenda 2030.
O que pode ser feito?
Em um contexto em que é preciso criar estratégias para alcançar a autonomia feminina, é necessário criar ações que contribuam e criem as condições adequadas ao empoderamento: o conhecimento, além da força política e social. Pensando na relevância do conhecimento para o empoderamento feminino com foco na saúde da mulher, podemos citar a importância do autoexame das mamas. Atualmente o INCA não recomenda essa técnica como rastreio para o câncer de mama, entretanto o autoexame das mamas deve ser orientado como uma estratégia para a mulher conhecer o seu corpo, reconhecer alterações que chamem a atenção e assim, levar a suspeita a um profissional de saúde o mais breve possível, em busca de um diagnóstico precoce.
Ou seja, ao levar o conhecimento para a mulher, e incentivar que ela faça a palpação e observação do seu próprio corpo, em suas mamas, sem necessidade de ter uma periodicidade, mas que ela reconheça qualquer alteração aparente, já se está promovendo o empoderamento feminino, porque assim, a mulher saberá discernir e reconhecer uma mudança e então buscará do atendimento profissional.
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Da mesma maneira, pode-se falar sobre a coleta do material citopatológico, conhecido popularmente como exame preventivo. Não é de conhecimento de todas as mulheres o motivo pelo qual ela deve se submeter a esse exame, que para muitas é incômodo. Então, pela vergonha e desconhecimento, a mulher pode acabar adiando ou evitando a realização de um exame que pode prevenir que ela venha ter o câncer de colo uterino (CCU). Outra opinião equivocada é que o exame deve ser realizado apenas em mulheres que tenham a vida sexual ativa no momento ou que apresentam alguma leucorreia. O enfermeiro deve orientar a mulher que a indicação de realizar a coleta citológica de colo uterino é para rastreio do câncer de colo uterino na faixa etária de 25 a 64 anos, pois é quando ocorre maior risco de desenvolver lesões malignas. Também vale informar que as mulheres fora dessa faixa etária com queixas ginecológicas devem ser avaliadas sem a necessidade de realizar a coleta do material citopatológico, visto que a ausência de orientação às mulheres pode resultar em um diagnóstico tardio e em estágio avançado do CCU.
Mensagem final
Por fim, afigura-se indispensável a educação em saúde para as mulheres, em todas as faixas etárias, a fim de aumentar a autonomia em saúde e gerar o empoderamento feminino.
Referências bibliográficas:
- Baptista CS, Queiroz NDA, Panozo FG, Cardoso ACO, et al. A saúde das mulheres em atenção primária à saúde: estratégias de cuidado a parir do empoderamento feminino. In: Anais do 8º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, 2019, João Pessoa. Anais eletrônicos. Campinas, Galoá, 2019.
- Azevedo MA, Sousa LD. Empoderamento feminino: conquistas e desafios. Sapiens – Revista De divulgação Científica, 2019.
- Catanante GV, et al. Participação social na Atenção Primária à Saúde em direção à Agenda 2030. Ciência & Saúde Coletiva. 2017;22: 3965-3974, 2017. doi: 10.1590/1413-812320172212.24982017
- INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. 2ª. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: INCA, 2016
- Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004.