Como realizar o protocolo de morte encefálica e a manutenção do potencial doador de órgãos – Parte II

Segunda parte do artigo “Como realizar o protocolo de morte encefálica e a manutenção do potencial doador de órgãos.”

*A primeira parte você de “Como realizar o protocolo de morte encefálica e a manutenção do potencial doador de órgãos” você encontra aqui.*

A nova diretriz de manutenção do potencial doador de órgãos no Brasil

A partir da realização do primeiro exame clínico para diagnóstico de morte encefálica, o paciente é considerado como um potencial doador de órgãos, quando uma série de medidas clínicas devem ser tomadas para garantir a adequada manutenção da função dos diversos órgãos e sistemas que sofrerão com a falta do controle hormonal encefálico, viabilizando assim uma possibilidade de doação efetiva e com bons desfechos1,3.

Quando ocorre a morte encefálica, morrem junto com ele o hipotálamo com a hipófise, causando uma série de desarranjos hormonais e metabólicos que culminam com complicações clínicas que inviabilizam a doação de órgãos pela deterioração rápida dos sistemas4. As principais alterações clínicas a saber são:

  • Insuficiência adrenal pela perda da produção do hormônio adrenocorticotrófico
  • Insuficiência tireoidiana pela perda da produção do hormônio tireotrófico
  • Diabetes insípido (DI) neurogênico pela perda da produção de vasopressina
  • Perda do adequado termostato hipotalâmico com consequente hipotermia
  • Hipernatremia e insuficiência renal aguda com choque hipovolêmico pelo DI não tratado

Uma diretriz recente publicada pela Revista Brasileira de Terapia Intensiva pela equipe do Dr. Glauco Westphal5, sumariza as principais recomendações sobre o manejo desse complexo e delicado paciente. No que diz respeito a aspectos gerais, nada diferente do que um bom serviço de terapia intensiva deveria prestar a seus pacientes5:

  • Evitar transfusões com hemoglobina maior que 7g\dL;
  • Manter terapia nutricional adequada conforme tolerado;
  • Garantir ventilação mecânica protetora;
  • Perseguir controle glicêmico mantendo glicemias entre 140 a 180 mg\dL;
  • Corrigir distúrbios hidroeletrolíticos;
  • Corrigir distúrbios ácido-básicos;
  • Tratar infecções com base em culturas com antibiograma;
  • Garantir adequado controle de temperatura corporal;
  • Prover ressuscitação volêmica guiada por metas, de preferência por parâmetros dinâmicos;
  • Garantir medidas de prevenção de infecções nosocomiais.

Os principais pontos de destaque no manejo desses pacientes dizem respeito ao manejo endócrino-metabólico e hemodinâmico, sumarizados no fluxograma abaixo:

Legenda do fluxograma5: SaO2 – saturação periférica de oxigênio; Vt – volume total; PAM pressão arterial média; ΔPp – variação da pressão de pulso respiratória; PVC – pressão venosa central; AVP – arginina-vasopressina; DDAVP – 1-deamino-8-D-argininavasopressina; IV – intravenoso.

Precisamos ficar atentos para o adequado manejo volêmico e hemodinâmico, sobretudo com adequada manutenção de volemia. Em pacientes com suspeita de DI, a vasopressina ou DDAVp devem ser associados, bem como o início precoce da hidrocortisona.

Em resumo, o paciente potencial doador de órgãos compõe um complexo nicho de complicações e demandas especiais que precisam de atenção especial de toda a equipe assistencial. Apenas através de um bom suporte intensivo dedicado e direcionado, podemos manter adequadamente a viabilidade dos órgãos e sistemas para possível captação e implante.

Referências bibliográficas:

  • Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução CFM nº 1.480/1997. Define critérios para diagnóstico de morte encefálica [Internet]. Brasília (DF): CFM; 1997. [citado 2019 Jul 10]. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/1997/1480_1997.html.
  • Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM nº 2173, de 23 de novembro de 2017. Define os critérios do diagnóstico de morte encefálica [Internet]. Brasília (DF): CFM; 2017. [citado 2019 Jul10]. Disponível em: https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2017/2173.
  • Westphal, Glauco Adrieno, Veiga, Viviane Cordeiro e Franke, Cristiano Augusto Determinação da morte encefálica no Brasil. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online]. 2019, v. 31, n. 3[Acessado 21 Fevereiro 2022] , pp. 403-409. Disponível em:<https://doi.org/10.5935/0103-507X.20190050>. Epub 14 Out 2019. ISSN 1982-4335. https://doi.org/10.5935/0103-507X.20190050.
  • Westphal, Glauco Adrieno et al. Diretrizes para avaliação e validação do potencial doador de órgãos em morte encefálica. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online]. 2016, v. 28, n. 3 [Acessado 21 Fevereiro 2022] , pp. 220-255. Disponível em: <https://doi.org/10.5935/0103-507X.20160049>. ISSN 1982-4335. https://doi.org/10.5935/0103-507X.20160049.
  • Westphal, Glauco Adrieno et al. Diretrizes brasileiras para o manejo de potenciais doadores de órgãos em morte encefálica. Uma força-tarefa composta por Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, Brazilian Research in Critical Care Network e Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online]. 2021, v. 33, n. 1 [Acessado 21 Fevereiro 2022] , pp. 1-11. Disponível em: <https://doi.org/10.5935/0103-507X.20210001>. Epub 19 Abr 2021. ISSN 1982-4335. https://doi.org/10.5935/0103-507X.20210001.

 

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