Desfechos clínicos discordantes em infecções urinárias: possíveis fatores

O sucesso terapêutico das infecções urinárias depende da resolução dos sintomas iniciais ausência de novos e redução de colônias da bactéria.

Infecções urinárias (ITU) são frequentemente vistas na prática clínica diária. Quando apresentam características que as classificam como complicadas (a presença de sinais e sintomas sistêmicos em um hospedeiro com anormalidades funcionais ou anatômicas do trato urinário ou submetido a cateterização), têm um risco maior de falha terapêutica, sendo, em geral, tratadas por mais tempo. 

Os ensaios clínicos que avaliam o tratamento de infecções urinárias complicadas geralmente usam, como desfecho primário, um desfecho composto de respostas clínica e microbiológica, avaliadas em um ponto fixo após o início da terapia. A resposta clínica é avaliada baseada na melhora ou resolução significativa dos sintomas, enquanto a resposta microbiológica é baseada na redução da densidade de bactérias isoladas em amostras de urinocultura. 

Na avaliação desse desfecho composto, alguns pacientes apresentam resposta clínica, porém falha microbiológica. Um estudo publicado na Clinical Infectious Diseases procurou identificar fatores para esses desfechos discordantes. 

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Desfechos clínicos discordantes em infecções urinárias: possíveis fatores

Desfechos clínicos discordantes em infecções urinárias: possíveis fatores

Materiais e métodos 

O estudo foi conduzido por meio da análise dos dados de todos os ensaios clínicos de fase 3 versando sobre ITU complicada submetidos a US Food and Drug Administration (FDA) entre 2011 e 2019. A população de análise consistiu nos participantes com pelo menos um agente infeccioso de ITU complicada e que receberam pelo menos uma dose de antibiótico. 

Os desfechos foram avaliados ao fim da terapia (término de antibioticoterapia), em visita de teste de cura (realizada pelo menos 5 dias após a terapia) e em visita de seguimento tardio (realizada 21 a 28 dias após randomização). O sucesso terapêutico depende da resolução dos sintomas iniciais e ausência de novos sintomas (cura clínica) e demonstração de redução de colônias da bactéria inicialmente isolada para < 10³ UFC/mL (erradicação microbiológica). 

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Resultados 

Um total de 4842 indivíduos foram incluídos, derivados de 13 estudos. Na visita de teste de cura, a taxa de cura clínica total foi de 88,7% e a de erradicação microbiológica foi de 75,3%. No total, 22,6% dos participantes apresentaram discordância entre os desfechos clínicos e microbiológicos (18,0% com cura clínica e falha microbiológica – os quais foram o foco do estudo – e 4,6% com falha terapêutica e erradicação microbiológica). 

Na visita de teste de cura, a presença de sinais e sintomas de infecções urinárias complicada (disúria, dor em flanco, dor suprapúbica, aumento da frequência urinária e urgência urinária) não diferiu significativamente em termos de prevalência e gravidade. Os participantes com falhas discordantes e concordantes apresentavam densidades de patógenos semelhantes nas visitas de randomização e de teste de cura. Contudo, na visita de teste de cura, a mediana da densidade bacteriana entre os participantes com desfechos discordantes foi significativamente maior do que entre os com desfechos concordantes de sucesso, o que não aconteceu quando comparados com os com desfechos concordantes de falha. 

Entre os participantes com desfechos concordantes de sucesso, na visita de seguimento tardio, 85,8% (IC 95% = 84,5 – 87,1%) mantiveram esse status. Um total de 68,5% (IC 95% = 65,0 – 70,1%) das falhas discordantes mantiveram esse desfecho, e 26,7% (IC 95% = 23,6 – 30,1%) experimentaram relapso clínico comparados com 6,2% (IC 95% = 5,4 – 7,2%) de sucesso. A OR ajustada de falha clínica na visita de seguimento tardio foi de 5,51 (IC 95% = 3,81 – 7,88) para os indivíduos com falhas discordantes em comparação com os com desfechos concordantes de sucesso. 

Separando-se os participantes que permaneceram como desfechos discordantes para compará-los com os que apresentaram falha clínica na visita de seguimento tardio, relapso clínico esteve associado a idade ≥ 75 anos, viver na América do Norte, presença de cateterização vesical, presença de alterações estruturais, presença de diabetes e avaliação final mais tardia. Na análise multivariada, o relapso clínico permaneceu associado a idade ≥ 75 anos, diabetes e avaliação final mais tardia. 

Não houve diferenças entre a densidade bacteriana nas visitas de teste de cura e de seguimento tardio entre os participantes que permaneceram discordantes e os que se tornaram falha clínica. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Kadry N, Natarajan M, Bein E, Kim P, Farley J. Discordant Clinical and Microbiological Outcomes Are Associated With Late Clinical Relapse in Clinical Trials for Complicated Urinary Tract Infections. Clin Infect Dis. 2023 May 24;76(10):1768-1775.DOI: 10.1093/cid/ciad010/cid/ciad010