Na busca de algumas informações sobre a síndrome de Asperger a literatura nos apresenta uma série de sinais e sintomas que caracterizam o espectro. Mas inicialmente, o que me chamou a atenção foi a lista de celebridades que possuem o diagnóstico da síndrome de Asperger, como por exemplo, o bilionário Bill Gates e o grande diretor de cinema Steven Spielberg. Mas essas não são as únicas celebridades com o diagnóstico de síndrome de Asperger. Tim Burton, Elon Musk, Anthony Hopkins, Susan Boyle e até o grande surfista Clay Marzo sofrem da condição. Os cientistas acreditam que Albert Einstein e Isaac Newton também possuíam a síndrome de Asperger, de acordo com a descrição dos seus comportamentos.
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Mas afinal, o que é a síndrome de Asperger?
A síndrome de Asperger é uma classificação para autismo leve. É importante compreender sua história de origem. O termo autismo foi utilizado a primeira vez em 1911 por um médico psiquiatra, Eugen Bleuler. Ele considerava pessoas autistas aquelas que tinha contato reduzido com a realidade, apresentando dificuldade de comunicação. Casos dessa natureza na época eram considerados muitas vezes como esquizofrênicos. Cabe ressaltar que esse último termo é estigmatizado e traz problemas sociais para o indivíduo. Alguns anos depois de Bleuler, Kanner e Hans Asperger, se propuseram a realizar estudos sobre crianças ditas como retardadas, que em sua maioria apresentavam distúrbios sociais, emocionais e comportamentais. Kanner estudaria o autismo clássico e Asperger, estudava as formas mais brandas da síndrome. Assim, a síndrome de Asperger leva o nome do pesquisador e trata-se de um distúrbio no desenvolvimento neurológico, classificado como um dos transtornos do espectro autista.
Atualmente considera-se síndrome de Asperger, o autismo leve, aquele que não possui retardo mental associado, ou prejuízos para sua vida e não pode haver atraso importante na fala. Mas os outros sintomas do autismo ocorrem: o isolamento social ou dificuldade de se relacionar com pessoas, falas inapropriadas à situação, por exemplo. A retração social é percebida, sendo comum o isolamento. É necessário ter interesses restritos e estereotipados, com a presença de hiperfoco. Dessa forma, a pessoa fica repetidamente se estimulando em um assunto ou mexendo repetidamente em objetos. Portanto, possui a características do autismo mas de forma leve. Enfatiza-se a ausência do problema de fala.
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Deve-se contrapor a ideia que a pessoa com Asperger necessariamente é excepcional, com alto rendimento em dada atividade, ou que sejam gênios. Esta associação se torna comum e a literatura aponta casos de excepcionalidade nas atividades, mas também atribui a sintomática que promove uma imersão em dado assunto, provocando desenvolvimento social com melhor resposta, assim como as celebridades citadas. A literatura afirma que não há necessariamente uma relação entre a síndrome de Asperger e uma inteligência acima da média e tal proposição pode ser um peso para aqueles que possuem o diagnóstico e não alcançam tal resultado.
O novo DSM é o manual diagnóstico e estatístico de transtorno mental que desde 2013, não trás mais a síndrome de Asperger de forma isolada, mas sendo incorporado no TEA (Transtorno do Espectro Autista). O mesmo aconteceu no novo CID-11 que unificou Asperger no TEA (Transtorno do Espectro Autista). Por se tratar de um diagnóstico que vem com alteração do comportamento e pensamento (o que provoca grave estigma social), cada vez mais há um interesse social de se discutir o tema para que haja diagnósticos mais eficazes e não se gere capacitismo na sociedade, ou outras barreiras sociais para o desenvolvimento da vida das pessoas que possuem a síndrome de Asperger.
Dia Internacional da Síndrome de Asperger
Nesse sentido, no dia 18 de fevereiro celebramos o Dia Internacional da Síndrome de Asperger. Essa data foi escolhida para homenagear Hans Asperger. Sendo o dia de seu aniversário. Além disso, também busca conscientizar a sociedade a respeito dessa síndrome. O fato dessas pessoas enxergarem o mundo de forma diferente, processando detalhes adicionais do seu redor, não as faz impossibilitadas de viverem na sociedade. Todos somos diferentes, precisamos compreender os indivíduos com equidade. Não podemos considerar a síndrome no processo de compreensão de doença, pois é uma condição, muito embora haja peculiaridades que devem ser trabalhadas em relação ao desenvolvimento. Por isso, temos que incluir e quebrar padrões para essas pessoas.
Cada vez mais temos dispositivos para analisar o outro e nós mesmos. No momento que descobrimos que temos vulnerabilidades e potencialidades em nossa existência, também começamos a ver no outro, seja alguém com diagnóstico de TEA ou não, as mesmas possibilidades. Pessoas com síndrome de Asperger possuem dificuldades específicas, como todos nós. Por outro lado, podem ter excepcional rendimento em áreas específicas da vida. Portanto, o paradigma de uma condição limitadora deve sempre ser discutido. É assim que a sociedade para de olhar, pelo aspecto limitador, negativo e excludente, os supostos defeitos das características individuais e coletivas.
Referências bibliográficas:
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