No dia 24 de Junho é comemorado o Dia Mundial de Prevenção de Quedas. A data foi instituída pelo Ministério da Saúde, devido o risco de quedas constituir um grave problema de saúde pública que pode ocorrer em qualquer idade. A promoção da segurança do paciente em unidades de saúde, bem como educar para prevenção de quedas no seu dia a dia, são prioridades da assistência de enfermagem que devem ser fundamentadas na redução de riscos e na elaboração de um ambiente seguro.
Entende-se por queda todo deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial provocado por diversas circunstâncias resultando ou não em dano. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a taxa de queda de pacientes em hospitais de países desenvolvidos é de três a cinco por mil pacientes-dia, enquanto pesquisas realizadas no Brasil evidenciaram taxa de 1,37 a 12,6 para cada mil pacientes-dia.
A queda de pacientes no ambiente hospitalar está comumente associada aos fatores de risco intrínsecos (individuais), como idade abaixo de cinco anos e acima de 85 anos, histórico anterior/recente de queda, redução da mobilidade, falta de equilíbrio, uso de medicamentos, presença de doenças crônicas, alterações na funcionalidade, obesidade, uso de dispositivos, uso de medicamentos, depressão, deformidade em membros e extrínsecos (ambiente), com pisos desnivelados, objetos deixados no chão, altura inadequada do leito ou da cadeira e recursos humanos insuficientes.
Nesse sentido, a temática configura uma das Metas Internacionais de Segurança do Paciente preconizadas pela Organização Mundial de Saúde. A queda do paciente internado ocasiona aumento do tempo de permanência hospitalar e de custos, além de impactos de aspectos legais à instituição.
As intervenções iniciam-se na avaliação do risco de queda que deve ser realizada na admissão do paciente através da aplicação de uma escala adequada e preconizada com o perfil de paciente da instituição. Uma escala comumente utilizada é a Escala de Morse, em que quanto maior o escore, maior o risco de queda e conta com seis itens principais, tais como antecedentes de queda, diagnóstico secundário, deambulação, dispositivo intravenoso, marcha e estado mental.
O risco de queda deve ser sinalizado através de pulseira de identificação de risco, placa de identificação no leito, alertas no prontuário, prescrição de enfermagem e impresso de transição do cuidado.
As ações preventivas devem ser adotadas para todos os pacientes, independente do risco de queda e ocorrer tanto na admissão como durante toda a permanência no hospital. Essas medidas abrangem um ambiente de cuidado seguro com pisos antiderrapantes, corredores livres, iluminação, mobiliário e vestuário adequados.
Pacientes com história prévia de queda devem ser alocados o mais próximo possível do posto de enfermagem e avaliados quanto ao nível de confiança, independência e autonomia para deambular, além da necessidade de dispositivo de marcha.
O uso de medicamentos devem ser revistos na prescrição e o paciente/família/acompanhante devem ser orientados quanto aos possíveis efeitos colaterais e potenciais interações medicamentosas que possam desencadear sintomas que aumentem o risco de queda.
Quanto ao ambiente em que encontra-se o paciente, deve ser avaliada a necessidade de uso da grade no leito ou maca, manter leito baixo e travado, manter ambiente livre de obstáculos e bem iluminado, posicionar pertences necessários próximos ao paciente e orientar a levantar do leito progressivamente antes de sair da cama com um calçado adequado e acompanhado por um profissional da equipe.
Os pacientes que apresentam moderado risco de queda devem ser supervisionados durante a higiene, mudança de posicionamento da cabeceira do leito e ida ao banheiro, estabelecer cronograma de eliminação ou permanecer no banheiro enquanto o paciente utiliza o banheiro.
Toda queda representa um evento adverso relacionado à assistência e deve ser notificado ao Núcleo de Segurança do Paciente com as seguintes informações: tipo de queda, local do evento, se a queda envolveu leito, berço, cama, maca, banheiro, equipamentos, diagnóstico, escadas, degraus, o turno em que ocorreu e se havia presença de acompanhante ou profissional. No caso da ocorrência de queda, o paciente deve ser prontamente avaliado para mitigação de possíveis danos e se necessário, solicitar e encaminhar para realização de exames.
Prevenção de quedas em pacientes pediátricos
Além de pessoas idosas, as crianças também fazem parte do grupo de risco para quedas. As peculiaridades relacionadas ao estágio de desenvolvimento motor, bem como a incapacidade de dimensionar riscos e a curiosidade inata são fatores que contribuem para que crianças, principalmente as que ainda não obtiveram aquisição da marcha, estejam mais vulneráveis a essas situações.
No ambiente hospitalar pediátrico, o risco de queda é um diagnóstico de enfermagem que sempre precisa ser avaliado. É extremamente importante que o enfermeiro dimensione todos os fatores que possivelmente aumentem o risco de quedas em crianças, como idade menor de três anos, dispositivos intravenosos, uso de medicações que alterem o equilíbrio, nível de consciência, mobilidade física, presença de acompanhante em período integral e prescreva cuidados que minimizem esses riscos.
Além disso, é fundamental que o ambiente pediátrico esteja adequado de acordo com as necessidades e peculiaridades de cada faixa etária, como berços, camas com grades, sala de brinquedos, banheiro, etc. Uma situação bastante comum é os pais/acompanhantes solicitarem autorização para permanecerem na mesma cama com a criança ou para que possam dormir junto com ela na poltrona de acompanhante. Nessas situações, cabe ao enfermeiro esclarecer o risco de queda e desencorajar essa prática para maior segurança da criança.
A avaliação da susceptibilidade do risco de quedas em unidades pediátricas deve ser feita por enfermeiros a partir da aplicação de instrumentos validados para este fim, que devem ser utilizados no momento da admissão do paciente na unidade. Atualmente existem diversos instrumentos disponíveis, dentre eles a Escala Humpty Dumpty Falls Scale. Essa, em específico, pontua o risco de queda de acordo com parâmetro como idade, sexo, diagnóstico de internação, deficiências cognitivas, uso de medicações e cirurgia/sedação/anestesia. Quanto maior a pontuação maior o risco para quedas.
O plano de cuidados desses pacientes deve sempre contemplar ações de educação em saúde para prevenção de quedas com os pais/acompanhante durante toda a internação, não somente na admissão, uma vez que estudos apontaram que na maioria dos casos a queda ocorre na presença do responsável. As orientações podem estar em panfletos entregues no momento da admissão, mas precisam ser reforçadas verbalmente.
Outros cuidados de enfermagem para prevenção de quedas são a manutenção das grades sempre elevadas, acomodação da criança em leitos próprios para sua idade, berços para crianças até três anos de idade ou camas para crianças maiores. As grades do berço devem cobrir ¾ do a altura da criança em pé. No interior do berço não deve estar presente nada que sirva como degrau para criança, como bolsas ou brinquedos. Os transportes devem ser feitos de forma segura em maca ou cadeira de rodas, manutenção da unidade do paciente organizada e sem obstáculos no em torno do leito.
Entretanto, caso ocorra episódio de queda, o enfermeiro deve acomodar a criança no leito em decúbito dorsal e cabeceira a 30° e realizar exame físico completo. Atentar para os seguintes sinais como sangramentos nasal, boca e ouvido, e contusão cerebral. Avalie as fontanelas e nível de consciência aplicando escala de Glasgow pediátrica. A criança deve permanecer em observação no leito por pelo menos 6 horas e caso apresente alteração de consciência, vômito, sonolência, choro excessivo, deve ser avaliado a necessidade de exames complementares como tomografia computadorizada de crânio, para avaliação de injúria cerebral. Todo caso de queda deve ser notificado.
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