Exames laboratoriais: qual o tubo de coleta adequado para os testes de hemostasia?

Há diversos tipos de tubos de coleta: como identificar os indicados para cada exame? Descubra mais sobre esta etapa da medicina laboratorial

Os exames laboratoriais (quando bem indicados, realizados e interpretados), oferecem importantes informações adicionais ao médico assistente, auxiliando o raciocínio clínico sob diversos aspectos.  Para que os resultados sejam fidedignos e, desse modo, clinicamente significantes, é crucial que sejam seguidas algumas recomendações básicas como, por exemplo, a escolha do tipo de tubo correto para determinada análise no sangue. 

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Existem diversos tipos de tubos de coleta, cada qual indicado para grupos de exames específicos. Eles são selecionados de acordo com o tipo de matriz biológica pertinente ao ensaio (exemplos: sangue total, soro, plasma), bem como com a eventual presença de estabilizantes e/ou substâncias com a finalidade de acelerar ou inibir a coagulação. 

O tubo para provas de hemostasia 

O tubo de coleta de sangue apropriado para grande parte dos testes de hemostasia é o que contém o anticoagulante citrato de sódio dihidratado 3,2% ou 0.109M, estando disponível em algumas dimensões e volumes. Após a centrifugação da amostra, se obtém o plasma (matriz onde os fatores da coagulação estão presentes).

Devido à uma padronização internacional, esse tubo é facilmente identificado pela cor azul claro de sua tampa/etiqueta. Hoje em dia, a maioria dos fabricantes utiliza o polipropileno para a confecção dos tubos, embora o vidro siliconizado também seja aceito para a fabricação dos mesmos. 

Assim como na maioria dos tubos, os de citrato de sódio vêm, de fábrica, com um vácuo calibrado pré-definido em seu interior (os mais comuns aspiram 2,7 mL de sangue em 0,3 mL de citrato). Desse modo, durante a coleta de sangue em sistema fechado (a vácuo), há o preenchimento correto do volume de sangue, garantindo assim a exata proporção de 9 partes de sangue total para 1 de anticoagulante (9:1). 

Para a tradicional coleta em sistema aberto (seringa e agulha), os tubos para testes de coagulação possuem uma marcação para guiar o seu adequado preenchimento, indicando o volume mínimo e máximo de sangue permitido, assegurando a acurácia dos resultados. 

Esse preenchimento deve ser feito retirando-se a agulha da seringa, para depois adicionar o sangue pelas paredes do tubo previamente aberto, pressionando delicadamente o êmbolo da seringa. A perfuração da tampa do tubo diretamente com a agulha da seringa para a passagem do sangue é totalmente inadequada, já que pode ocorrer uma hemólise durante esse processo. 

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Após a coleta deve-se, delicadamente (evitando a formação de microcoágulos ou espuma), homogeneizar a amostra por inversão completa (5 a 10 vezes), de modo a garantir a adequada mistura do sangue com todo o anticoagulante presente. 

Outra situação relevante, que deverá ser avaliada pelo Laboratório Clínico, é a correção do volume do anticoagulante do tubo quando o hematócrito do paciente estiver acima de 55%, o que pode gerar resultados imprecisos para testes dependentes de cálcio. Para hematócritos inferiores a 30%, ainda faltam dados que suportem alguma conduta específica. 

Em hematócritos superiores a 55%, a correção, por meio da diminuição do volume de citrato no tubo, deve ser feita utilizando-se a fórmula abaixo, onde “C” é o volume de citrato em mL, “V” corresponde ao volume de sangue adicionado em mL, e o “Ht” se refere ao hematócrito em %. 

C= 1,85×10-3 (100-Ht) x V

Sequência correta de coleta do tubo 

Um ponto importante a ser observado é que, durante uma coleta venosa de múltiplas amostras/exames, a ordem de coleta padronizada dos diferentes tubos seja fielmente respeitada, a fim de que não ocorra uma possível contaminação cruzada de aditivos. 

De uma maneira geral, os tubos de tampa azul claro devem ser os primeiros a serem coletados, exceto se houver a solicitação de hemocultura, coleta para metais (elementos traço) ou de testes específicos de hemostasia (exemplo: fatores de coagulação), situações na qual ele deve ser coletado subsequentemente. 

Para provas de hemostasia especiais, recomenda-se a coleta de um tubo de descarte/sem aditivo antes do tubo de coagulação, evitando assim a interferência da tromboplastina tecidual na análise.  

Já para os testes de coagulação mais usuais (exemplos: TAP, TTPa), como a presença da tromboplastina tecidual liberada no momento da flebotomia não impacta nos resultados, pode-se iniciar a coleta diretamente com o tubo citratado. 

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Mensagem final 

Uma das áreas em que o Laboratório Clínico mais contribui para as decisões clínicas são nas provas de hemostasia. Entretanto, para que os resultados reportados sejam acurados, se faz necessário a observação de certos procedimentos, de modo a preservar a integridade da amostra e, por conseguinte, de seus componentes. 

O tubo adequado para a coleta para o coagulograma é que apresenta o citrato de sódio 3,2% em seu interior, representado pela cor azul claro de sua tampa. É importante que ele seja o primeiro tubo coletado (na maioria das situações), sempre respeitando o volume correto de sangue após a coleta, na proporção sangue:anticoagulante de 9:1, evitando assim resultados incorretos dos testes. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Ministério da Saúde (BR). Laboratório de Hemostasia. Gestão da fase pré-analítica: minimizando erros. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/laboratorio_hemostasia_minimizando_erros.pdf
  • CLSI H3-A6, Procedures for the Collection of Diagnostic Blood Specimens by Venipuncture; Approved Standard, 6.ed. Clinical Laboratory Standards Institute, Wayne, PA; 2007. 
  • SBPC/ML, Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): coleta e preparo da amostra biológica. Barueri: Minha Editora; 2014. 
  • SBPC/ML, Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): fatores pré-analíticos e interferentes em ensaios laboratoriais. 1a ed. Barueri: Manole, 2018.