O transtorno do espectro do autismo (TEA), uma das morbidades infantis mais comuns, é caracterizado por dificuldades de comunicação e socialização, déficit no domínio da linguagem e uso da imaginação, associado a um padrão de comportamento restritivo e repetitivo. Estudos recentes sugerem que fatores ambientais pré‐natais, perinatais e pós‐natais contribuem para o transtorno.
Para identificar quais são os fatores pré, peri e pós‐natais relacionados ao TEA, pesquisadores compararam crianças com o transtorno com seus irmãos saudáveis, que não sofrem de autismo.
No total, 101 crianças participaram do estudo transversal e comparativo, dividas em dois grupo: 50 crianças autistas, entre 3 e 7 anos, previamente identificadas e acompanhadas regularmente em uma clínica; 51 irmãos não afetados, com idades entre 3 e 12 anos.
Os pais dos participantes preencheram um questionário sobre o histórico de saúde, gravidez, parto e complicações durante e após o nascimento. Os fatores considerados foram:
- Fatores dos pais: idade materna e paterna avançada no momento da concepção (≥ 35 anos), consanguinidade.
- Fatores pré‐natais: doenças que surgem durante a gravidez, como diabetes gestacional, pressão arterial alta e baixa, infecções gestacionais, sofrimento fetal que induz condições de aborto iminente como perda de líquido amniótico e sangramento durante a gestação, bem como condições intrauterinas subideais.
- Fatores perinatais: características do parto como nascimento a termo, tipo de parto, incluindo parto com fórceps ou cesárea, sofrimento fetal agudo e peso ao nascer (baixo peso ao nascer<2.500g e macrossomia>4.000g).
- Fatores pós‐natais: todas as doenças que ocorrem nas primeiras seis semanas após o nascimento, como infecções respiratórias e urinárias, déficit auditivo (perda de 30dB) e doenças hematológicas, como anemia e trombocitopenia.
Resultados:
As principais conclusões foram:
– Nenhuma correlação foi encontrada entre a gravidade do TEA e fatores pré‐natais, perinatais e pós‐natais.
– Uma correlação clara entre a idade avançada dos pais no momento da concepção e o TEA não foi encontrada. No entanto, a frequência de pais com mais de 35 anos foi mais alta em crianças com TEA (24%, em comparação com 19,6% para idade materna; 67%, em comparação com quase 50% para idade paterna).
– A ocorrência de infecção materna foi mais alta entre casos de TEA (12% em comparação com 3,9% para o grupo de controle).
– A frequência de diabetes gestacional foi mais alta no grupo com TEA (8% vs. 2% no outro grupo).
– Hipertensão, hipotensão e aborto iminente foram mais frequentes no 1° grupo (10% vs. 5,9%; 2% vs. 0%; e 10% vs. 5,9%).
– Fatores perinatais estavam associados ao TEA de maneira muito significativa (p=0,03).
– Acontecimentos pós‐natais podem aumentar o risco de TEA em algumas crianças (p=0,042).
Veja o estudo completo aqui.
Referências:
- Pediatr (Rio J) 2016;92:595-601 DOI: 10.1016/j.jpedp.2016.08.011