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A International Association for Study Pain (IASP) define a dor como uma “experiência sensorial e emocional desagradável, associada a uma lesão tecidual real, potencial ou descrita nos termos dessa lesão e que a inabilidade de senti-la não exclui que esteja precisando de alguma intervenção para o seu alívio”. Ela é um mecanismo básico de sobrevivência por três motivos: a dor sentida causa uma ação de defesa contra algum estímulo doloroso, evitando lesão posterior mais grave; por conta de experiência anterior, durante o desenvolvimento neuropsicomotor, as crianças evitam situações que possam resultar em dor e, por último, a dor nos impõe limitações físicas evitando que aconteça uma piora da lesão ou do quadro clínico.
Quando a dor não é percebida ou não é tratada pelos profissionais de saúde, a confiança do paciente nos profissionais de saúde e na instituição diminui, além de trazer repercussões para a saúde do paciente (aumento da pressão arterial, taquicardia, taquipneia e alteração dos níveis séricos de catecolaminas, além do aumento do consumo metabólico). O enfermeiro é o profissional de referência para a identificação e manejo da dor. A identificação adequada da dor é passo fundamental para uma assistência integral e humanizada. Recomendada pela IASP, pelas sociedades profissionais e de especialidades da saúde e diversas agências de acreditação hospitalar, a dor foi introduzida pela American Pain Society como 5º sinal vital desde 1996. Por isso, é necessária a avaliação objetiva e sistematizada da dor.
Para auxiliar na tarefa de identificação de maneira sistematizada e objetiva, temos diversos instrumentos de medição da dor (escalas, inventários, etc). Há uma grande variedade de mecanismos de avaliação, que podem ser unidimensionais e multidimensionais. Os unidimensionais preocupam-se apenas em avaliar a intensidade da dor, enquanto os multidimensionais avaliam também a duração e localização da dor, características somatossensoriais e emocionais. Apesar dos multidimensionais serem maiores e possuírem uma aplicação mais complexa, o uso desses instrumentos é recomendado para o acompanhamento ambulatorial de pacientes com doenças crônicas e/ou em cuidados paliativos, porque demandam de mais tempo para o seu uso.
Uma vez que a dor é uma experiência pessoal e emocional, os melhores instrumentos de avaliação da dor são os instrumentos que utilizam o autorrelato como fonte de informação. Entretanto, nem sempre é possível esse autorrelato, como é o caso de recém-nascidos, crianças pré-verbais, crianças e adultos com deficiência cognitiva e pacientes críticos, com infusão contínua de sedação. Então, o que fazer nesses casos?
Como alternativa aos instrumentos que utilizam o autorrelato, temos os instrumentos que avaliam a dor por procuração, que consiste na avaliação da dor por terceiros. Esses mecanismos podem utilizar comportamentos e/ou sinais vitais. Para a escolha do melhor método de avaliação da dor, devemos ter especial atenção ao desenvolvimento cognitivo, idade, condição clínica e tipo de dor a ser investigada. Considerando os requisitos anteriormente citados, criamos a lista abaixo com os instrumentos recomendados para cada público:
Neonatos: NIPS – Neonatal Infant Pain Scale. Possui seis indicadores de dor, avaliados de 0-2 pontos. Trata-se de uma escala de avaliação rápida, que pode ser utilizada em recém-nascidos a termo e pré-termo. Uma pontuação igual ou maior a 4 indica presença de dor.
Crianças Pré-verbais: FLACC. Instrumento composto por cinco itens, pontuando de 0-2 cada item. Pontuações acima de 4 sugerem dor moderada e, acima de 7, dor forte.
Crianças, adolescentes e adultos com deficiência cognitiva: ICDDN – Inventário de dor na doença neurológica. Instrumento composto por 20 itens, pontuando de 0-3 cada item. Pontuações acima de 14 sugerem dor. Pode ser utilizado por profissionais de saúde e cuidadores. Para utilizá-la, se faz necessária a avaliação prévia, através do cuidador de referência do paciente, sobre quais os comportamentos normais em um dia em ausência de dor.
Adultos críticos (sedados e em ventilação mecânica): Behavioural Pain Scale. Três itens são avaliados, pontuando de 1-4 cada item. A pontuação total varia entre os 3 pontos (sem dor) e os 12 pontos (dor máxima). Pontuação acima de 6 sugere que a dor precisa ser tratada.
Idosos: PAINAID- Br composta por cinco itens, cada um deles pontuando de 0-2 pontos, em uma escala métrica de zero a dez pontos. Pontuação maior é indicativa de maior intensidade da dor: 1-3 dor leve; 4-6 dor moderada e 7-10 dor intensa.
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Referências:
- Duarte AS. Instrumentos de avaliação de dor em idosos com prejuízo cognitivo: revisão sistemática. Clinical & Biomedical Research, [S.l.] 2013; 33 (2).
- Correia LL, Linhares MBM. Avaliação do comportamento de crianças em situações de dor: revisão da literatura. Jornal de Pediatria 2008; 84: 477–486.
- IASP. Core Curriculum for Professional Education in Pain. 3a. ed. Seattle: IASP Press, 2005.
- IASP. Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos. Seattle: IASP Press 2010.
- Morete, MC. Tradução e adaptação cultural da versão portuguesa (Brasil) da escala de dor Behavioural Pain Scale [Internet]. Rev. bras. ter. intensiva 2014 Dec; 26( 4 ): 373-378. [cited 2019 May 24].
- Herr, K. Pain Assessment in the Patient Unable to Self-Report: Position Statement with Clinical Practice Recommendations. Pain Management Nursing 2011; 12 (4): 230-250. Linhares MBM, Doca FNP. Dor em neonatos e crianças: avaliação e intervenções não farmacológicas. Temas em Psicologia 2010; 18 (2): 307–325.
- Motta GCP. Adaptação transcultural e validação clínica da Neonatal Infant Pain Scale para uso no Brasil. Rio Grande do Sul. Tese [Doutorado em Enfermagem] – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, 2013