Nações Unidas: Mais de 30% das gestações em países em desenvolvimento são de adolescentes

A gravidez na adolescência é um grande desafio para a saúde pública de um país. No Brasil, 57% das gestações indesejadas terminam em aborto.

A gravidez na adolescência é um tema de saúde pública muito presente nos países em desenvolvimento. Segundo o relatório Estado da População Mundial 2022 do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), divulgado no início de julho, um terço das mulheres que se torna mãe nessas regiões tem menos de 17 anos.

Mais de 60% das gestações indesejadas terminam em aborto e 45% deles são realizados de forma insegura, representando de 5 a 13% de todos os óbitos maternos registrados. No Brasil, essa taxa é de 57%, apenas um pouco menos que nos países da África Subsaariana. 

Isso também impacta fortemente na capacidade do planeta de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS ) até a data prevista de 2030.  

Outra preocupação é que a guerra na Ucrânia e outros conflitos e crises levem a um aumento de gestações indesejadas, à medida que o acesso à contracepção é interrompido e a violência sexual cresça.    

Leia também: Violência Obstétrica e a percepção de pacientes e profissionais

mulher com gravidez na adolescência

Aumento de partos infantis 

O Brasil, na América Latina, e o Iêmen, na Ásia, possuem o mesmo cenário: além de altos níveis de gestações infantis, a tendência tem sido de aumento ao longo do tempo. No período avaliado, o Brasil registrou um crescimento de 10% de partos entre as meninas adolescentes. 

A líder do Fundo, Satvika Chalasani, explicou que o resultado do Brasil é consistente com pesquisas regionais. A América Latina e o Caribe são as únicas regiões do mundo onde a idade da primeira relação sexual está caindo, ou seja, os adolescentes estão se relacionando cada vez mais cedo. 

Assim, Satvika Chalasani afirma que o acesso ampliado e mais igualitário à educação de qualidade, educação sexual abrangente e serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo serviços contraceptivos, pode contribuir muito para abordar a questão. 

Complicações no parto 

Segundo o UNFPA, complicações no parto são as principais causas de óbito e danos para a saúde nas gestações infantis. Ademais, o Fundo ressalta que ser mãe adolescente também pode levar a outras graves violações de direitos humanos e consequências sociais, incluindo casamento infantil, violência entre parceiros íntimos e problemas de saúde mental. 

Embora o relatório aponte para o crescimento desses casos no Brasil, os números mostram que globalmente o número de maternidade na infância e adolescência vem caindo. Para os representantes do UNFPA, no entanto, o declínio é “assustadoramente lento”, muitas vezes apenas cerca de 3% por década. 

Avanços em Moçambique 

Um outro país de língua portuguesa que aparece no estudo é Moçambique, ao lado de Bangladesh, no sudeste da Ásia, por terem visto os dois maiores declínios em pontos percentuais de qualquer país estudado na proporção de primeiros nascimentos de adolescentes entre meninas com 14 anos ou menos. 

De acordo com o levantamento, os países ainda têm níveis muito altos de gravidez na adolescência. Em Moçambique, enquanto o número de gestações caiu entre as crianças moçambicanas de 14 anos ou menos, ocorreu um aumento entre as meninas de 15 a 17 anos. 

Para a diretora executiva do Fundo, Natalia Kanem, o número alarmante de quase um terço de todas as mulheres nos países em desenvolvimento se tornarem mães durante a adolescência é um alerta. 

“Esse relatório é um alerta, o número impressionante de gestações indesejadas representa um fracasso global em defender os direitos humanos básicos de mulheres e meninas”, enfatizou Kanem, 

Gravidez adicional 

Conforme mostra o relatório, depois de ter seu primeiro filho, a tendência é que a menina tenha mais filhos. 

Entre crianças com o primeiro nascimento aos 14 anos ou menos, quase três quartos também têm um segundo parto na adolescência, e 40% das que têm dois filhos progridem para um terceiro antes de sair da adolescência. 

Na avaliação de Natália Kanem, as gestações repetidas são um sinal claro de que as meninas “precisam desesperadamente de informações e serviços de saúde sexual e reprodutiva”. 

Recomendações

O relatório apresenta recomendações para legisladores e gestores de saúde pública, incluindo a necessidade de fornecer educação sexual abrangente, apoio social e serviços de saúde de qualidade, além de apoio econômico às famílias e envolver organizações locais. 

Segundo os especialistas do UNFPA, uma política de apoio e estrutura legal que reconheça a direitos, capacidades e necessidades de adolescentes, particularmente meninas adolescentes marginalizadas, também podem contribuir para reduzir as gestações precoces. 

Para Natália Kanem, os governos precisam investir na educação sexual de meninas adolescentes para ajudar a expandir as suas oportunidades, recursos e habilidades, contribuindo assim para evitar gestações precoces, indesejadas e numerosas. “Quando as meninas poderem traçar significativamente seu próprio curso de vida, a maternidade na infância se tornará cada vez mais rara”. 

*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Take Action for the Sustainable Development Goals. Nações Unidas. Disponível em: https://www.un.org/sustainabledevelopment/sustainable-development-goals/
  • ‘Staggering number’ of unintended pregnancies reveals failure to uphold women’s rights. Nações Unidas. Disponível em: https://news.un.org/en/story/2022/03/1115062
  • Mais de 30% das gestações em países em desenvolvimento são de adolescentes. Nações Unidas. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2022/07/1794642