ESC 2023: Nova diretriz de endocardite infecciosa apresentada foca na prevenção

Nova diretriz de endocardite infecciosa foi uma das cinco apresentadas no primeiro dia de ESC 2023 e um dos maiores destaques do congresso.

A incidência de endocardite infecciosa (EI) aumentou desde a última diretriz de 2015 e a preocupação com a prevenção tomou foco das pesquisas devido à alta morbidade da doença; procedimentos que antes não exigiam profilaxia antibiótica já apresentam tal necessidade, destacando que procedimentos orais não dentários são, também, de alto risco para EI.  

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 Principais atualizações 

Além disso, houve algumas mudanças no perfil microbiológico dos seus agentes e da resistência antibiótica dos estreptococos orais, trazendo necessidade de atualizações sobre a epidemiologia e as indicações e tipos de profilaxias que devem ser realizadas de acordo com o risco do paciente em desenvolver EI.  

Em relação à estratificação de risco do paciente, houve a atualização de seus critérios após novos dados epidemiológicos. São critérios de alto risco para EI: EI prévia, valva protética, cardiopatia congênita cianosante não tratada ou tratada de forma paliativa com shunts e/ou próteses e dispositivos de assistência ventricular como terapia definitiva. Já os critérios de risco intermediário são: valvopatia reumática e degenerativa não reumática, anormalidades valvares congênitas, dispositivos eletrônicos cardíacos implantáveis e cardiomiopatia hipertrófica. 

Revisão dos critérios diagnósticos 

Os critérios diagnósticos foram revisados de forma a aumentar a sensibilidade e especificidade dos mesmos, usando vários métodos de imagem para o diagnóstico de lesões cardíacas e extra cardíacas suspeitas. A tomografia computadorizada (TC) e as técnicas de imagem nuclear aumentaram o número de casos definitivos de EI, particularmente entre pacientes com próteses valvares e dispositivos cardíacos implantáveis e o ecocardiograma transesofágico também ganhou importância e maior nível de recomendação devido ao seu poder não somente diagnóstico porém prognóstico, já que tem papel na identificação de complicações cardíacas. 

No âmbito do tratamento, o POET trial trouxe a inovação de que os pacientes com estabilidade clínica e boa resposta ao tratamento, não necessitam permanecer internados para antibioticoterapia e o tratamento pode ser transicionado para via oral; prolongar a internação pode piorar desfechos clínicos. Em relação ao tratamento cirúrgico, as recomendações tornaram-se mais agressivas quanto as indicações e tempo para intervenção no que tange ao tamanho das vegetações, a precocidade da abordagem pós AVC e a extração de dispositivos implantáveis associados a EI, visando redução de embolia e perpetuação de bacteremia, respectivamente. 

Assim, as novas recomendações para diagnóstico e manejo de EI estão listadas abaixo:

  • Recomendações para profilaxia antibiótica em pacientes com doenças cardiovasculares submetidos a procedimentos oro-odontológicos com risco aumentado de endocardite infecciosa (EI): 

– Medidas gerais de prevenção são recomendadas para indivíduos com risco alto e intermediário de EI (Recomendação I/C), sendo que medidas gerais são higiene oral diária, antissepsia da pele e cirurgia limpa, evitar tatuagens e piercings etc.  

– A profilaxia antibiótica é recomendada em pacientes com dispositivos de assistência ventricular. (Recomendação I/C) 

– A profilaxia antibiótica pode ser considerada em receptores de transplante de coração. (Recomendação IIb/C) 

  • Recomendações para prevenção de EI em pacientes de alto risco: 

– A profilaxia antibiótica sistêmica pode ser considerada para pacientes de alto risco submetidos a um diagnóstico invasivo ou procedimento terapêutico dos tratos respiratório, gastrointestinal, geniturinário, da pele ou do sistema musculoesquelético. (Recomendação IIb/C). 

  • Recomendações para prevenção de EI em procedimentos cardíacos: 

– Medidas assépticas ideais pré-procedimento do local da implantação é recomendada para prevenir infecções de dispositivos eletrônicos cardiovasculares. (Recomendação I/B) 

– Medidas assépticas cirúrgicas padrão são recomendadas durante a inserção e manipulação de cateteres em ambiente do laboratório de cateterismo. (Recomendação I/C) 

– Profilaxia antibiótica que cobre a flora cutânea comum, incluindo Enterococcus spp. e S. aureus, deve ser considerada antes da TAVI e outros procedimentos valvares transcateter. (Recomendação IIa/C) 

  • Recomendações para o papel da ecocardiografia na EI: 

– Ecocardiograma transesofágico é recomendado quando o paciente está estável antes da mudança de antibioticoterapia intravenosa para oral. (Recomendação I/B) 

  • Recomendações para o papel da tomografia computadorizada, da imagem nuclear e da ressonância magnética na EI: 

– A angiotomografia computadorizada (ATC) cardíaca é recomendada em pacientes com possível endocardite de valva nativa para detectar lesões valvares e confirmar a diagnóstico de EI. (Recomendação I/B) 

– [18F]FDG-PET/TC e ATC cardíaca são recomendadas em possível endocardite de valva protética para detectar lesões valvares e confirmar o diagnóstico de EI. (Recomendação I/B) 

– [18F]FDG-PET/TC pode ser considerada em possível EI relacionada a dispositivos eletrônicos cardiovasculares para confirmar o diagnóstico de EI. (Recomendação IIa/B) 

– A ATC cardíaca é recomendada em endocardite de valva nativa e endocardite de valva protética para diagnosticar complicações paravalvares ou periprotéticas se a ecocardiografia for inconclusiva. (Recomendação I/B) 

– Imagens do cérebro e do corpo inteiro (TC, [18F]FDG-PET/TC e/ou ressonância magnética) são recomendadas em pacientes sintomáticos com endocardite de valva nativa ou protética para detectar lesões periféricas ou adicionar critérios menores de diagnóstico. (Recomendação I/B) 

– SPECT de leucócitos/TC deve ser considerada em pacientes com alta suspeita clínica de endocardite de valva protética quando a ecocardiografia for negativa ou inconclusiva e quando o PET/CT for indisponível. (Recomendação IIa/C) 

– Imagens do cérebro e do corpo inteiro (TC, [18F]FDG-PET/TC e ressonância magnética) podem ser consideradas em endocardite de valva nativa ou protética para triagem de lesões periféricas em pacientes assintomáticos. (Recomendação IIb/B)

  • Recomendação para o tratamento antibiótico ambulatorial de pacientes com EI: 

– O tratamento ambulatorial com antibióticos parenterais deve ser considerado em pacientes com EI do lado esquerdo causada por Streptococcus spp., E. faecalis, S. aureus ou Staphylococcus coagulase-negativo que estavam recebendo tratamento adequado com antibióticos endovenosos por pelo menos 10 dias (ou pelo menos 7 dias após a cirurgia cardíaca), que estejam clinicamente estáveis ​​e que não apresentem sinais de formação de abscesso ou anormalidades valvares que requerem cirurgia pelo ecocardiograma transesofágico. (Recomendação IIa/A) 

– O tratamento antibiótico parenteral ambulatorial não é recomendado para pacientes com EI causada por microorganismos altamente difíceis de tratar, em caso de cirrose hepática (Child-Pugh B ou C), embolia grave para o sistema nervoso cerebral, grandes abscessos extracardíacos não tratados, complicações valvares (ou outras condições graves que exijam cirurgia), complicações pós-cirúrgicas graves e em EI relacionada ao uso de drogas injetáveis. (Recomendação III/C)

  • Recomendações para tratamento de complicações neurológicas de EI: 

– No acidente vascular cerebral embólico, a trombectomia mecânica pode ser considerada se estiver disponível em tempo hábil e com equipe experiente. (Recomendação IIb/C) 

– A terapia trombolítica não é recomendada em casos acidente vascular cerebral embólico devido a EI. (Recomendação III/C) 

  • Recomendações para implante de marca-passo cardíaco em pacientes com bloqueio atrioventricular total (BAVT) e EI: 

– O implante imediato de marca-passo epicárdico deve ser considerado em pacientes que serão submetidos à cirurgia valvar por EI e BAVTse um dos seguintes preditores de BAV persistente estiver presente: condução pré-operatória anormal, infecção por S. aureus, abscesso da raiz da aorta, envolvimento da valva tricúspide ou cirurgia valvar prévia. (Recomendação IIa/C) 

  • Recomendações para pacientes com manifestações musculoesqueléticas de EI: 

– A ressonância magnética ou o PET/CT são recomendados em pacientes com suspeita de espondilodiscite e osteomielite vertebral como complicação de EI. (Recomendação I/C) 

– O ecocardiograma transtorácico ou transesofágico são recomendados para descartar EI em pacientes com espondilodiscite e/ou artrite séptica com hemoculturas positivas para microrganismos típicos da EI. (Recomendação I/C) 

– A antibioticoterapia por mais de 6 semanas deve ser considerada em pacientes com lesões osteoarticulares relacionadas a EI causadas por microrganismos difíceis de tratar, como S. aureus ou Candida spp., e/ou complicações com destruição vertebral grave ou abscessos. (Recomendação IIa/C) 

  • Recomendações para avaliação da anatomia coronariana pré-operatória em pacientes que necessitam de cirurgia para EI: 

– Em pacientes hemodinamicamente estáveis ​​com vegetações na valva aórtica que necessitam de cirurgia cardíaca e são de alto risco de doença arterial coronariana (DAC), é recomendada uma ATC coronária multislice de alta resolução. (Recomendação I/B) 

– A angiografia coronária invasiva é recomendada em pacientes que necessitam de cirurgia cardíaca e que apresentam alto risco de DAC, na ausência de vegetações valvares aórticas. (Recomendação I/C) 

– Em situações de emergência, cirurgia valvar sem avaliação da anatomia coronária pré-operatória deve ser considerada independentemente do risco de DAC. (Recomendação IIa/C) 

– A angiografia coronária invasiva pode ser considerada a despeito da presença de vegetações valvares aórticas em pacientes selecionados com DAC conhecida ou com alto risco de DAC com obstrução significativa. (Recomendação IIb/C) 

  • Indicações e tempo para cirurgia cardíaca após complicações neurológicas em pacientes com EI ativa: 

– Em pacientes com hemorragia intracraniana e instabilidade clínica devido a insuficiência cardíaca (IC), infecção não controlada ou alto risco embólico persistente, cirurgias de urgência ou de emergência devem ser consideradas pesando a probabilidade de um desfecho neurológico negativo significativo. (Recomendação IIa/C) 

  • Recomendações para acompanhamento pós-alta: 

– É recomendada, durante o acompanhamento, a educação do paciente sobre o risco de recorrência e medidas preventivas de EI, com ênfase na saúde bucal, e com base no perfil de risco individual. (Recomendação I/C) 

– É recomendado o tratamento de dependência para pacientes usuários de drogas injetáveis após EI associada a essa prática. (Recomendação I/C) 

– Reabilitação cardíaca incluindo treinamento físico deve ser considerado em pacientes clinicamente estáveis com base em uma avaliação individual. (Recomendação IIa/C) 

– Pode ser incluído nos cuidados de acompanhamento o apoio psicossocial, incluindo triagem para ansiedade e depressão, e encaminhamento para tratamento psicológico. (Recomendação IIb/C) 

  • Recomendações para endocardite de valva protética: 

– A cirurgia é recomendada para endocardite de valva protética precoce (dentro de 6 meses da cirurgia valvar) com nova troca valvar e desbridamento completo. (Recomendação I/C) 

  • Recomendações para EI relacionada a dispositivos eletrônicos implantados cardiovasculares: 

– A extração completa do sistema é recomendada, sem demora, em pacientes com EI definitivamente relacionada aos dispositivos e sob antibioticoterapia empírica inicial. (Recomendação I/B) 

– A extensão do tratamento antibiótico para EI relacionada aos dispositivos para até (4–) 6 semanas após a extração dos mesmos deve ser considerada na presença de êmbolos sépticos ou valvas protéticas. (Recomendação IIa/C) 

– O uso de um envelope antibiótico pode ser considerado em pacientes de alto risco submetidos a reimplante de dispositivos cardíacos para reduzir o risco de infecção. (Recomendação IIb/B).

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