Saúde mental do homem [Novembro azul]

A saúde mental dos homens por muitos anos foi sinônimo de ausência de doença mental. Hoje se sabe que vai muito além disso. Saiba mais.

A saúde mental dos homens por muitos anos foi sinônimo de ausência de doença mental. Hoje se sabe que vai muito além disso, a saúde mental se relaciona com nível de qualidade de vida cognitiva, se relaciona com as questões emocionais, sociais, espirituais, biológicas, entre outras, relacionadas as peculiaridades do sujeito. Sabemos que historicamente o homem possui um comportamento de cuidado com corpo, que se envolve com questões sociais e culturais. Essa relação afastou o homem da busca por cuidados, uma vez que foi tratada como sinônimo de fragilidade e fraqueza.

O resultado dessa concepção de cuidado se fez em comportamento, onde o homem busca o serviço de saúde, quando já, doente. Essa questão nos faz tornar público a discussão que é evidenciada por dados sobre injúrias diversas, que poderiam ser suprimidas por práticas de cuidado presente no serviço de saúde. Saúde mental depende de vários fatores e se quisermos falar sobre elas, será necessário compreender algumas vulnerabilidades do homem que possam ser movimento para o adoecimento mental.

Estudos revelam que 29,4% dos homens de 18 a 60 anos são atendidos na atenção primária e apresentam sofrimento psíquico. Os homens solteiros e consumidores em abuso de álcool e outras drogas, lideram o número de adoecimento mental. Outro dado importante é a respeito da violência, que é um dos maiores fatores de riscos, sendo relacionado tal vulnerabilidade enquanto autor, ou como vítima.

Os óbitos, estão relacionados em primeiro lugar, a causas externas (violência), seguido de doenças do aparelho circulatório, respiratório, digestivo e, em relação aos tumores (principalmente câncer de próstata e pulmão). Um fato curioso é a relação de sofrimento psíquico, com a obesidade, fator de risco para várias doenças e com a própria vulnerabilidade psíquica, sempre relacionada aos problemas de saúde.

Vulnerabilidades psíquicas

  • As reações ao “estresse” grave e transtornos de adaptação levam milhares de homens ao serviço de saúde, se ligando a um dos maiores problemas da atualidade para os homens, os transtornos de ansiedade;
  • O transtorno mentais comuns, caracterizado por sintomas depressivos, estados de ansiedade, irritabilidade, fadiga, insônia, dificuldade de memória e concentração e queixas somáticas, está presente em muitos usuários que buscam o serviço de saúde;
  • A síndrome de burnout e outros problemas que decorrem do ambiente de trabalho, afetam grandiosamente o homem, fazendo com que afastem muitos homens do ambiente de trabalho;
  • Os episódios depressivos e a depressão tem aumentado sua incidência anualmente e tem sido ligado ao aumento do suicídio;
  • As doenças psicóticas são doenças mentais graves que mais afetam o homem, principalmente a esquizofrenia, os transtornos de personalidade, paranoide, esquizoide, de esquiva, dissocial e de obsessão e compulsão são os que mais afetam os homens;
  • O uso e abuso de álcool e outras drogas são um dos maiores problemas de saúde desta população, sendo associada com alta morbidade e mortalidade;
  • A violência e outras vulnerabilidade, ligadas a crimes, acidentes de trânsito e abuso de drogas são os problemas junto a outras causas externas como acidentes de trabalho que mais geram mortalidade nos homens;

Alguns fatores podem ser instrumento de análise para os enfermeiros, tais como:

 

Fatores

Determinantes sociais específicos

Individuais/coletivos Raça, etnia, sexualidade, escolaridade
Socioeconômicas Renda per capita, classe social, crise econômica, inflação
Ambientais Condições do território, violência, clima, tempo, governo, mídia
Culturais Consumo, tradições, religião, valores, comportamentos
Condições básicas de vida Moradia, alimentação, segurança, propriedade, provimento familiar, lazer
Condições básicas de trabalho Carga horária de trabalho, condições de trabalho, excesso de trabalho, periculosidade do trabalho, insalubridade do trabalho, realização profissional
Sociais / Comunitária Assistência a saúde, transporte, segurança (pública), justiça, educação, emprego e renda, religiosa/espiritual
Estilo de vida Comportamento alimentar, sono e descanso, uso/abuso de álcool/drogas lazer/trabalho
Biológicos Idade, sexo, hereditariedade, adoecimento físico, vulnerabilidade psíquica

Ao exame físico deve o enfermeiro:

  • Avaliação da apresentação da pessoa: Avaliar a aparência e psicomotricidade (durante a entrevista);
  • Pensamento e linguagem: Avaliar a característica da fala, forma, continuidade e o conteúdo do pensamento;
  • Linguagem e pensamento: Característica, progressão, forma e conteúdo da fala;
  • Afetividade e humor: Avaliar a intensidade emocional e a associação entre pensamento e afeto;
  • Atenção e concentração: Avaliar o foco e a desatenção seletiva;
  • Memória: Avaliar as memórias anterógrada, retrógrada e imediata;
  • Orientação: Realizar a avaliação autopsíquica e alopsíquica;
  • Consciência: Avaliar o discurso sobre a realidade e a compreensão de sua doença;
  • Capacidade intelectual: Deve-se avaliar a escolaridade e o discurso, assim como o agrupamento de ideias e reflexões;
  • Juízo crítico da realidade: Avaliar o julgamento real da pessoa;
  • Sensopercepção: Avaliar sobre a percepção que a pessoa tem de si.

Após considerar as questões multifatoriais descritas e avaliar individualmente a pessoa devemos proceder como atendimento de enfermagem que deve ser realizados por enfermeiros, que deverão compreender o estado de saúde do homem, levantando os principais problemas de saúde ou vulnerabilidades, para que possamos construir uma linha de cuidado que tomará como base o processo de enfermagem, que consiste em seis etapas: Avaliação, Diagnóstico, identificação dos resultados, planejamento, implementação e evolução.

A avaliação pode ser realizada com as informações supra citadas, mas o diagnóstico deverá sempre passar por uma construção que envolva o usuário. Os diagnóstico pode ser: déficit de auto cuidado, baixa auto estima, reações agudas de estresse ou ansiedade, sentimentos depressivos, vulnerabilidade para álcool e drogas, sentimentos de raiva ou comportamento violento. Após compreensão dos diagnósticos fazer prescrição com cuidados (autocuidado), para que se possa regredir sintomas ou comportamentos, sendo necessário que haja constantes reavaliações.

A assistência de enfermagem deve:

  • Identificar problemas;
  • Compreender as vulnerabilidades;
  • Compreender as dificuldades do usuário;
  • Construir o cuidado junto ao usuário;
  • Realizar educação em saúde;
  • Estimular que o usuário compreenda seus problemas e faça consultas regulares;
  • Educar quanto aos aspectos relacionado a violência, adoecimento, preconceito e afastamento do serviço de saúde;
  • Ser ponto de acolhimento para os homens, não promovendo barreira para o cuidado, não alimentando ideal machista de não necessidade de ser cuidado;
  • Discutir questões sociais e culturais que afastem os homens do auto cuidado e do acesso ao serviço de saúde;

Conclusão

Sabemos que o homem possui um histórico de afastamento do serviço de saúde, portanto, se faz necessário a busca ativa desses homens, inclusive nos locais de trabalho, fortalecendo o sistema de saúde, que deve atuar no território. A escola é um ambiente favorável para que possamos trabalhar a prevenção dos adoecimentos e para promover saúde mental, na medida que jovens conheçam a necessidade de cuidar da saúde mental, que passa por compreender as vulnerabilidades, poder identificar sinais de adoecimento e planejar atividades que promovam a saúde mental e afaste os riscos inerentes dos determinantes de adoecimento psíquico. O serviço de saúde deve acolher os usuários que possuem vulnerabilidades psíquicas, criando planos terapêuticos que possam , promover saúde e dessa forma afastar as pessoas do processo de adoecimento.

Leia também: Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo e a pandemia de Covid-19

Desta forma, o enfermeiro é pilar central na linha de cuidado à saúde mental de homens, devendo valorizar a consulta de enfermagem para esse público, principalmente relacionando medidas de educação em saúde. Por fim, cabe lembrar que o mês de novembro é potente para essa discussão mas devendo o profissional, trabalhar as questões durante todo o ano.

Referências bibliográficas:

  • Bezerra, Edilane Nunes Régis. Saúde mental masculina: prevalência e vulnerabilidades aos transtornos mentais comuns nos contextos rural e urbano, 2017. 325 f. Tese (Doutorado em Psicologia Social) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017. https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/9066?locale=pt_BR
  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem : princípios e diretrizes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas – Brasília : Ministério da Saúde, 2009. 92 p.
  • Townsed, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 835p.

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