Uma pesquisa coordenada pelo Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais ((Nupad/UFMG), em parceria com Universidade Federal de Uberlândia (UFU), está acompanhando 560 bebês nascidos durante a pandemia de Covid-19 para identificar e avaliar possíveis atrasos no seu desenvolvimento infantil.
A primeira triagem, realizada aos seis meses de vida, indica que 22% dos bebês apresentaram suspeita de atraso no desenvolvimento global, e 52% registraram algum tipo de problema de comportamento, como irritabilidade e inflexibilidade.
Mais sobre a pesquisa
Os bebês participantes da pesquisa nasceram no início de 2021 em cinco cidades mineiras: Contagem, Ipatinga, Itabirito, Uberlândia e Nova Lima, escolhidas pela prevalência da Covid-19, com a testagem inicial de 4 mil mães e bebês.
Desse total de voluntários, 1.917 foram elegíveis para o estudo, com 279 crianças (15%) apresentando anticorpos contra o novo coronavírus.
A pesquisa de anticorpos contra o novo coronavírus foi realizada na primeira semana após o parto. As crianças foram separadas em dois grupos: o primeiro com 196 mães com sorologia positiva para Covid-19 e o segundo com 364 mães que testaram negativo para a enfermidade.
Os pesquisadores não identificaram diferença no desenvolvimento dos bebês entre os dois grupos. “Nossa hipótese é que os riscos ambientais se sobrepõem aos efeitos diretos da infecção pelo novo coronavírus nos bebês durante a gestação, com os problemas de desenvolvimento e de comportamento estando mais relacionados com o estresse psicossocial vivido pelas famílias durante a pandemia”, observou a professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Cláudia Lindgren.
Avaliações
Os pesquisadores estão avaliando o grau de desenvolvimento dos bebês através das escalas Bayley e ADL (Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem), mediante a realização de brincadeiras e atividades lúdicas.
Segundo a professora do curso de Fisioterapia da UFU e responsável pela coleta de dados em Uberlândia, Vivian Azevedo, as informações iniciais apontam que o ambiente familiar é o maior responsável por possíveis comprometimentos no desenvolvimento e na linguagem dos bebês acompanhados.
Através do SWYC (questionário de triagem realizado pelo telefone) a equipe de investigadores descobriu que 52% dos bebês apresentavam suspeita de algum tipo de problema de comportamento, como irritabilidade e inflexibilidade.
Já os índices de uso abusivo de álcool e drogas (32%), insegurança alimentar (29%) e depressão materna (16%), se apresentam maiores quando comparados com estudos realizados antes da pandemia de Covid-19.
Esses fatores são os principais suspeitos apontados para os possíveis atrasos de desenvolvimento das crianças participantes do levantamento. A previsão da equipe de pesquisadores é acompanhá-las até os dois anos de idade, quando os testes serão repetidos aos 18 e 24 meses de vida.