Porcos podem transmitir a humanos superbactérias resistentes a antibiótico, diz estudo dinamarquês

Algumas versões de superbactérias são capazes de se espalhar de porcos para humanos através de insetos resistentes a antibióticos. 

Foram descobertas evidências de que algumas versões de superbactérias podem se espalhar de porcos para humanos através de insetos resistentes a antibióticos.

A descoberta dessa ligação foi realizada pelos pesquisadores Semeh Bejaoui e Dorte Frees da Universidade de Copenhague, e Soren Persson, do Statens Serum Institut, ambos localizados na Dinamarca. Os autores do estudo apresentaram o material no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ECCMID), em Lisboa, Portugal, no dia 24 de abril.

Neste momento, ainda não há um artigo completo, pois a pesquisa ainda não foi submetida a uma revista médica para publicação. No entanto, o comunicado para a imprensa pode ser encontrado neste link.

“A nossa descoberta indica que o C difficile é um reservatório de genes de resistência antimicrobiana que podem ser trocados entre animais e humanos. Esta descoberta alarmante sugere que a resistência aos antibióticos pode se espalhar mais amplamente do que se pensava anteriormente e confirma os elos na cadeia de resistência que leva de animais de fazenda a humanos”, disse Semeh Bejaoui em entrevista ao jornal britânico The Guardian.

porcos

Mais sobre o estudo

O estudo investigou amostras de Clostridioides difficile em 14 fazendas de porcos na Dinamarca e descobriu o compartilhamento de diversos genes de resistência a antibióticos entre porcos e pacientes humanos, fornecendo evidências de que a transmissão de animal para humano é possível.

Neste estudo, cientistas dinamarqueses investigaram a prevalência de cepas de C. difficile em gados suínos e o potencial de disseminação zoonótica de genes de resistência antimicrobiana, comparando com isolados clínicos de pacientes hospitalares dinamarqueses.

As amostras de fezes foram coletadas de 514 porcos, em dois lotes de fazendas, em toda a Dinamarca entre 2020 e 2021. O lote A incluiu 330 amostras de porcas, leitões e porcos de abate de quatorze fazendas em 2020. As 184 amostras no lote B foram coletadas durante o abate em 2021.

Das 514 amostras de porcos, 54 tinham evidência de C. difficile. Análises adicionais de 40 amostras descobriram que C. difficile era mais comum em leitões e porcas do que em porcos de abate. Os autores especulam que isso pode ser devido à diferença de idade entre leitões e porcos adultos – com os porcos mais jovens tendo uma composição de microbiota que os torna mais suscetíveis a uma colonização bem-sucedida.

No total, treze tipos de sequência encontrados em animais corresponderam aos encontrados nas amostras de fezes do paciente. ST11, uma cepa associada a animais, foi a mais comum (porco=21, humano=270). Em dezesseis casos, as cepas ST11 em humanos e animais eram idênticas.
Todos os isolados de animais foram positivos para os genes da toxina, e dez também foram hiper virulentos, com capacidade ainda maior de causar enfermidades.

No total, 38 isolados dos animais continham, pelo menos, um gene de resistência – e, no geral, a resistência foi prevista para sete classes de antibióticos, dos quais os mais comuns foram macrolídeos, ß-lactâmicos, aminoglicosídeos e vancomicina (que são importantes para o tratamento de bactérias graves infecções).

O estudo fornece mais evidências sobre a pressão evolutiva relacionada ao uso de antimicrobianos na pecuária, que seleciona patógenos humanos perigosamente resistentes. Segundo os pesquisadores, é fundamental adotar, o quanto antes, uma abordagem mais abrangente para o manejo da infecção por C. difficile para considerar todas as possíveis vias de disseminação.

Preocupação global

De acordo com a União Internacional para o Controle do Câncer, cerca de 750 mil indivíduos vêm a óbito, anualmente, em decorrência de infecções resistentes a medicamentos. E, em 2050, esse número pode chegar a 10 milhões, custando mais de US$ 100 trilhões aos serviços de saúde globais.

A comunidade científica alerta, há anos, que a prescrição excessiva de antibióticos para queixas triviais ou infecções causadas por vírus que não respondem a antibióticos ameaça a resistência a essa classe de medicamentos, extremamente importante para os humanos.

Por outro lado, as autoridades médicas apontaram que dois terços dos antibióticos são administrados como aditivos agrícolas, com o objetivo de evitar doenças e infecções em animais.
“O uso excessivo de antibióticos na medicina humana e como ferramentas de produção baratas nas fazendas está desfazendo nossa capacidade de curar infecções bacterianas. De particular preocupação é o grande reservatório de genes que conferem resistência aos aminoglicosídeos, uma classe de antibióticos aos quais o C. difficile é intrinsecamente resistente – eles não são necessários para a resistência nesta espécie. O C. difficile, portanto, desempenha um papel na disseminação desses genes para outras espécies suscetíveis”, explicou Semeh Bejaoui.

 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo

Especialidades