Prevalência de alergia ao caju e sensibilização ao teste cutâneo em bebês de 1 ano

Estudo em uma amostra populacional de crianças na Austrália descreveu a prevalência de sensibilização e alergia ao caju em bebês de 1 ano de idade.

As nozes estão entre as causas mais corriqueiras de alergia alimentar na infância, com estimativas de prevalência variando de 2 a 10%. Além disso, também estão entre as causas mais frequentes de anafilaxia alimentar, podendo ser fatal. Mesmo assim, a alergia a nozes é comparativamente menos estudada do que a alergia a amendoim. Na Austrália, o caju é considerado o gatilho mais comum de alergia a nozes, todavia, sua prevalência em lactentes e fatores de risco associados a esse tipo de alergia não haviam sido documentados. Diante dessa escassez de dados, um recente estudo publicado no Journal of Allergy and Clinical Immunology: In Practice foi descrever a prevalência de sensibilização e alergia ao caju em bebês de 1 ano de idade, identificando os fatores de risco.

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Prevalência de alergia ao caju e sensibilização ao teste cutâneo em bebês de 1 ano

Metodologia

O objetivo principal do estudo Cashew Allergy Prevalence and Sensitization in 1-Year-Old Infants foi descrever a prevalência da alergia e da sensibilização ao caju em crianças de 1 ano de idade. Já o objetivo secundário foi relatar o momento da introdução do caju e os fatores de risco para o desenvolvimento de alergia, observando especificamente a alergia concomitante ao amendoim, o momento da introdução do caju na alimentação complementar, a presença de eczema, o país de nascimento dos pais ou da criança e o história de irmão com alergia alimentar.

O estudo foi feito com base em dados provenientes de uma coorte prévia denominada EarlyNuts, uma amostra populacional de crianças recrutadas em Melbourne, Austrália. As famílias preencheram um questionário contendo dados demográficos e fatores de risco para alergias. Os bebês foram submetidos a um teste cutâneo de puntura (skin prick test – SPT) para checar a reação ao caju. Quando o SPT era positivo, testes de provocação oral (TPO) eram feitos. Os desfechos de alergia foram determinados pelos resultados do TPO ou por uma história convincente de reação alérgica.

Definições

Os participantes foram classificados como “alérgicos” ou “tolerantes”, com subclasses de “definitivamente alérgicos” e “provavelmente alérgicos” ou “tolerantes” de acordo com os critérios descritos abaixo.

1 Alergia definitiva ao caju Exigência de reação alérgica mediada por IgE comprovada por TPO ao caju OU história clínica recente convincente de reação alérgica (equivalente aos critérios de parada do TPO) ao caju nos últimos 2 meses, além de evidência de sensibilização ao caju (resultado de SPT ≥ 3 mm).
2 Provável alergia ao caju Sem exigência de histórico clínico de exposição OU nenhum resultado de TPO (o participante recusou ou não conseguiu completá-lo) E um resultado de SPT de caju > 8 mm.
3 Tolerante definido ao caju Exigência de um SPT negativo (< 3 mm) OU tolerância (definida por um TPO negativo OU uma história clínica convincente). Isto inclui uma resposta ao questionário sobre o consumo de caju em > 4 ocasiões OU 2 a 4 vezes por semana desde a introdução E nenhuma reação relatada.
4 Provável tolerância ao caju Exigência de um resultado de SPT de caju ≥ 3 mm E uma resposta ao questionário superior à exposição ao caju em mais de uma ocasião a uma pequena quantidade, uma grande quantidade, ou uma mordida ou saboreada.
5 Sensibilizados ao caju Exigência de um resultado de SPT de caju ≥ 3 mm que o controle negativo, independentemente do histórico de exposição clínica ou resultado de TPO. Também foi avaliada em 2 mm (um SPT negativo < 2 mm ou um SPT positivo ≥ 2 mm), de acordo com estudos de coorte anteriores que descrevem a prevalência de alergia alimentar em crianças de 1 ano de idade.

Para desfechos que não atendiam aos critérios, dois alergologistas revisaram os dados dos participantes de forma independente para determinar um resultado, e as discrepâncias foram resolvidas por consenso. Para aqueles para quem foi acordado que um resultado não poderia ser determinado (normalmente devido a dados insuficientes), o desfecho permaneceu desconhecido.

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Resultados

Prevalência e sensibilização de alergia

Foram recrutados 1.933 participantes, mas 1.414 fizeram SPT. Destes 1414:

  • 1.395 (98,6%) crianças eram tolerantes ao caju;
  • 19 (1,34%) tinham alergia ao caju;

Aos 12 meses de idade (SPT ≥ 3 mm):

  • Prevalência de sensibilização ao caju: 1,96% (intervalo de confiança de 95% [IC 95%], 1,28-2,99);
  • Prevalência de alergia ao caju: 1,49% (IC 95% 0,91-2,44).

Considerando um ponto de corte de SPT ≥ 2 mm, 3,71% (IC 95%, 2,72-5,07) dos lactentes foram sensibilizados ao caju. Nenhum SPT foi > 8 mm.

Fatores de risco

  • Alergia concomitante ao amendoim

Tanto a sensibilização quanto a alergia ao caju foram mais comuns entre crianças com alergia ao amendoim em comparação com aquelas sem alergia. 

  • Momento da introdução do caju na alimentação complementar

Os pesquisadores notaram que tinham maior probabilidade de serem alérgicos ao caju no primeiro ano de vida:

  • Bebês com eczema: odds ratio ajustado (aOR) 5,75; IC 95% 2,08-15,88; P = 0,01;
  • Bebês com alergia a amendoim: aOR 19,30; IC 95% 5,44-68,43; P < 0,001.

Um total de 25% (n = 302) dos participantes introduziu o caju antes de completar 1 ano de idade. No entanto, os pesquisadores descreveram que não houve associação entre o momento da introdução do caju e a alergia a ele.

  • País de nascimento dos pais

Houve evidência de uma associação entre o país de nascimento dos pais (qualquer país asiático) e a sensibilização ao caju (aOR = 4,35; IC 95%, 1,75-10,78; P = 0,002), mas não entre o país de nascimento dos pais e alergia ao caju.

  • Outros fatores de risco

Houve pouca evidência de associação entre ter um irmão com alergia alimentar, um pai com alergia alimentar, um histórico familiar ou parental de atopia, o país de nascimento da criança, a posse de um animal de estimação ou o sexo do participante e qualquer sensibilização ou alergia ao caju.

Conclusão

O estudo mostra que eczema e alergia ao amendoim foram associados a um risco aumentado de alergia ao caju. Além disso, poucas crianças foram introduzidas ao caju antes dos 12 meses de idade, entretanto, diretrizes atuais sobre alimentação infantil recomendam a introdução mais precoce de todos os alimentos possivelmente alergênicos.

Comentários

Estudo pioneiro (conforme descrito pelos autores) em descrever a prevalência da alergia ao caju e seus fatores de risco em crianças. De fato, a pesquisa acerca da temática vem crescendo ao longo dos anos e esse estudo auxiliará os profissionais de saúde na compreensão da alergia alimentar em pediatria, especialmente na orientação dos pais. Todavia, reflete dados da população australiana, sendo bastante interessante futuras replicações em outras populações.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Brettig T, et al. Cashew Allergy Prevalence and Sensitization in 1-Year-Old Infants. J Allergy Clin Immunol Pract. 2023;S2213-2198(23):00789-4. DOI: 10.1016/j.jaip.2023.07.019