DST – Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis
Profilaxia pré-exposição (PrEP) é mais exposição?
Andrea Menezes Gonçalves
Vol 30 N2, 2018 – DOI: 10.5533/DST-2177-8264-201830102
EDITORIAL
Durante a última Conferência de Prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC – USA) ficou bem claro o estabelecido advento de novos tempos no combate à infecção pelo HIV.
A profilaxia pré-exposição (PrEP) através da prescrição profilática de entricitabina e fumarato de tenofovir está claramente bem estabelecida e implantada (aprovada em 2012 nos Estados Unidos), estando a conversação a respeito já na fase de avaliação de resultado e ajuste de protocolos.
Muitos profissionais ainda são reticentes à normatização do uso da PrEP, mesmo ele tendo sua eficácia comprovada.
Dentre as críticas, há um medo de um grande aumento na incidência de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), pois os usuários deixariam de usar preservativos.
No caso dos Estados Unidos, o protocolo que estabelece critérios para prescrição da PrEP de acordo com o risco para infecção pelo HIV, também recomenda o controle de outras IST efetuando o rastreio a cada seis meses (a cada três meses se já tiver diagnóstico prévio de sífilis, gonorreia ou clamídia).
Porém, dados de diversos trabalhos apontam para taxas de seguimento abaixo de 50% após seis meses de prescrição, o que inviabilizaria este controle através do rastreio.
A maioria perde contato com o serviço de saúde antes de quatro meses de prescrição, não realizando o primeiro retorno.
Sem esta garantia de acompanhamento a longo prazo, há uma preocupação mundial quanto ao impacto real no aumento destas doenças e se apenas a educação ao usuário (medida recomendada no protocolo brasileiro) associada ao rastreio laboratorial seriam suficientes para conter o aumento das IST com a popularização do uso da PrEP.
O aumento no comportamento de risco após a prescrição foi descrito em diversos trabalhos na Conferência do CDC, em agosto de 2018.
Homens que fazem sexo com homens (HSH) no estado de Washington declararam aumento em alguns comportamentos de risco como: sexo sem preservativo, sexo com pessoas de status HIV discordante ou desconhecido, sexo anônimo, aumento no número de parceiros sexuais, aumento no número de episódios de sexo anal e sexo anal receptivo.
Estes dados apresentados na Conferência do CDC estão em concordância com os apresentados na literatura, que mostram aumento nos comportamentos de risco associados a aumento de incidência de IST em usuários de PrEP.
Esse é trecho do editorial publicado no Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Para acessar gratuitamente a versão completa, clique aqui.