Caso clínico: BAAR e cultura negativos, com teste rápido molecular para tuberculose detectável. O que será?

Paciente com história de tuberculose pulmonar com tratamento completo faz teste molecular. Confira o caso completo.

Paciente RRD, sexo feminino, 69 anos, HAS e dislipidemia, história de tuberculose pulmonar com tratamento completo e cura clínico-laboratorial há dois anos, comparece ao pronto-socorro com queixa de febre aferida (39,1°C), tosse produtiva e leve dispneia, de início há seis dias e com piora progressiva. Ausculta pulmonar com estertores crepitantes em base do hemitórax esquerdo, com o raio-x de tórax apresentando faixas de atelectasias e bandas fibroparenquimatosas no ápice do lobo superior direito e consolidação em 1/3 inferior do hemitórax esquerdo. Refere quadro semelhante há três meses, com melhora após uso de antibioticoterapia, momento no qual, dentre outros exames, fora solicitado BAAR, TRM-TB (Xpert® MTB/RIF Ultra) e cultura do escarro devido ao passado de tuberculose. Trouxe consigo ao pronto-socorro os resultados desses exames coletados há três meses, com os seguintes achados:  

  • BAAR (três amostras): negativo; 
  • Cultura para micobactérias: negativa; 
  • Teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB):  MTB detectado traços, com resistência à rifampicina (RIF) não avaliada (indeterminado). 
Quiz 1/

Levando-se em conta a história clínica, exame físico e resultado de exames complementares, o quadro mais provável é de:

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O desenvolvimento e implementação do teste rápido molecular para tuberculose/TRM-TB (sistema GeneXpert®) trouxe um enorme avanço no combate à tuberculose. Esse sistema consiste em um pequeno equipamento portátil, conectado a um computador e um leitor de códigos de barras, que utiliza um cartucho (onde é inoculado a amostra) que contém todos os elementos necessários para a realização do procedimento.  

O TRM-TB é um teste molecular simplificado, que utiliza a técnica de amplificacao de acidos nucleicos por meio de PCR (reação em cadeia da polimerase) em tempo real. Os processos de preparação da amostra, amplificação e detecção do material genético são totalmente integrados e automatizados, permitindo que esse sistema seja implantado até mesmo em laboratórios básicos, fora dos grandes centros, sem a necessidade de grande infraestrutura e de mão de obra especializada para a realização dos testes. 

O cartucho “Xpert® MTB/RIF Ultra” é capaz de detectar, de forma rápida (entre 65 a 77 minutos) e semiquantitativa (“alta”, “média”, “baixa”, “muito baixa” e “traços”) em uma mesma reação, o Complexo Mycobacterium tuberculosis (CMTB), bem como se estão presentes as mutações que conferem resistência à Rifampicina (droga de primeira linha do esquema terapêutico). Ademais, é importante destacar que o TRM-TB é específico para a identificação do CMTB, não sendo capaz de detectar micobactérias não tuberculosas (MNT). 

No caso clínico em questão, apesar das três amostras de BAAR quanto a da cultura (método padrão-ouro) do escarro estivessem negativas, o TRM-TB apresentou um resultado “detectado traços com resistência à Rifampicina inconclusiva” (quando o resultado do TRM-TB reportado for “traços”, a resistência à Rifampicina não pode ser avaliada por conta da baixa quantidade de DNA na amostra). A categoria “traços” corresponde a carga bacilar mais baixa detectável do CMTB. 

Por conta de sua alta sensibilidade e especificidade, esse resultado “detectado traços” do TRM-TB deve-se, provavelmente, a persistência de bacilos não viáveis na amostra, devido à história prévia de tuberculose e tratamento recentes. 

Tendo em vista notadamente à clínica da paciente, tempo de evolução, ausculta pulmonar (achado de estertores crepitantes), e resultado do raio-x de tórax apresentando uma consolidação, a hipótese diagnóstica mais provável é a de uma pneumonia bacteriana. O achado de “faixas de atelectasias e bandas fibroparenquimatosas no ápice do lobo superior direito” ao raio-x de tórax, por conta do passado de tuberculose curada, sugere uma cicatriz radiológica. 

Referência bibliográfica: 

  • Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Manual de Recomendações para o Diagnóstico Laboratorial de Tuberculose e Micobactérias não Tuberculosas de Interesse em Saúde Pública no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2022.

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