Caso clínico: diagnóstico de crise tireotóxica

Paciente apresentava queixa de dispneia, dor torácica, sudorese e taquicardia. Confira o caso clínico completo.

Paciente de 54 anos com diagnóstico de hipertireoidismo por doença de Graves há dois meses, tendo iniciado uso de metimazol, com descontinuação do tratamento na última semana, chega ao pronto-socorro com queixa de dispneia, dor torácica, sudorese e taquicardia.

Ao exame físico: febre de 39,3°C, sudorese, hipotensão (PA 92/54 mmHg), taquicardia (FC 145 bpm) e taquipneia (FR 25 irpm). Eletrocardiograma (ECG) evidencia ritmo de fibrilação atrial com alta resposta ventricular (FC 140 bpm).

Quiz 1/

Qual deve ser a primeira hipótese diagnóstica a ser descartada nesse caso?

Comentários

Embora o tema do nosso caso seja a crise tireotóxica devemos nos ater sempre à epidemiologia e aos principais agravos que ameaçam a vida dos nossos pacientes. O primeiro diagnóstico a ser descartado, simultaneamente às medidas de suporte e estabilização clínicas, é uma síndrome coronariana aguda com coleta imediata de troponina ultrassensível com repetição após uma e duas horas.

O paciente foi encaminhado para a sala vermelha, sendo realizada reexpansão volêmica e iniciada noradrenalina para manutenção da PAM > 65 mmHg. ECG seriado não mostrou alterações dinâmicas e não houve alteração significante na curva de marcadores de necrose miocárdica. Nesse contexto, quais dados seriam mais úteis para determinação do diagnóstico do paciente: 

Comentários

Frente ao quadro clínico de exacerbação dos sintomas de tireotoxicose devemos solicitar exames para avaliação da função tireoidiana (TSH e T4 livre), além de outros exames que possam ajudar na elucidação diagnóstica sem expor o paciente instável a riscos desnecessários.

Embora o tromboembolismo pulmonar possa ser uma hipótese diagnóstica no quadro apresentado, na vigência de instabilidade hemodinâmica um ecocardiograma pode nos apresentar sinais indiretos, sem a necessidade de expor o paciente instável ao risco do transporte para realização de um exame de imagem. Função renal e eletrólitos complementam a avaliação inicial, mas não são os exames mais úteis nesse momento.

A radiografia de tórax, ou mesmo uma ecografia de tórax, podem sugerir um foco infeccioso como precipitador do quadro clínico.

De acordo com os critérios de Burch e Wartofsky qual é a pontuação apresentada pelo paciente em questão e qual a probabilidade de se tratar de uma crise tireotóxica? 

Comentários

Os critérios de Burch e Wartofsky são auxiliares para o diagnóstico de crise tireotóxica, que é iminentemente clínico. Eles sistematizam a apresentação clássica da crise e atribuem uma pontuação para esses sintomas correlacionando-se com a possibilidade aumentada destes na apresentação clínica característica.

No caso em questão o nosso paciente apresentava os seguintes achados: Temperatura de 39,3°C (20 pontos), ausência de efeitos no sistema nervoso central (SNC), ausência de disfunção gastrintestinal, taquicardia ≥ 140 bpm (25 pontos), ausência de sinais de insuficiência cardíaca, fibrilação atrial (10 pontos) e presença de evento precipitante (10 pontos), perfazendo um total de 65 pontos. A interpretação da pontuação se dá da seguinte maneira em relação ao diagnóstico de crise tireotóxica: ≥ 45 pontos é altamente sugestivo de crise tireotóxica; entre 25 e 44 pontos é sugestivo de crise tireotóxica iminente; e < 25 pontos é pouco provável que se trate de uma crise tireotóxica (Tabela 1).

Tabela 1. Critérios de Burch e Wartofsky (para auxílio no diagnóstico de crise tireotóxica).

Pontuação ≥ 45 pontos: altamente sugestivo de crise tireotóxica; 25-44 pontos: sugestivo de crise tireotóxica iminente; < 25 pontos: pouco provável

As condições mais frequentes que se apresentam como fatores desencadeantes da crise tireotóxica são infecção e cirurgia (independentemente da localização). Outros fatores são traumas, extrações dentárias, hipoglicemia, cetoacidose diabética, suspensão da medicação antitireoidiana, tratamento com iodo radioativo, parto, palpação vigorosa da tireoide, acidente vascular cerebral, tromboembolismo pulmonar e insuficiência cardíaca congestiva.
É de fundamental importância que conheçamos e suspeitemos da ocorrência de crise tireotóxica já que esta enfermidade é grave e necessita de tratamento direcionado, podendo alcançar taxa de mortalidade entre 30-50%, a depender da série de casos.

Referências bibliográficas:

  • Favarato MHS, Saad R, Ivanovic LF, Jorge MCP, Oliveira JC, Santos VG, et al. Manual do residente de Clínica Médica. 3ª ed. Santana de Parnaíba, SP: Editora Manole, 2023.
  • Azevedo LCP, Taniguchi LU, Ladeira JP, Besen BAMP. Medicina intensiva: abordagem prática. 5ª ed. Santana de Parnaíba, SP: Manole, 2022.
  • Burch HB, Wartofsky L. Life-threatening thyrotoxicosis. Thyroid storm. Endocrinol Metab Clin North Am. 1993 Jun;22(2):263-77.

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