Caso clínico: oftalmoplegia dolorosa

Teste seus conhecimentos com este caso clínico de oftalmoplegia dolorosa em um paciente de 45 anos sem comorbidades conhecidas.

Paciente de 45 anos, sem comorbidades conhecidas e em acompanhamento médico regular, vem ao pronto-socorro com queixa de dor retro-orbitária, constante e persistente, de moderada intensidade em olho esquerdo iniciada há uma semana. Refere diplopia e ptose palpebral ipsilateral iniciadas há duas horas. Ao exame físico apresentava blefaroptose parcial à esquerda, diplopia binocular vertical sem fatores atenuantes ou agravantes e desvio do olhar em olho esquerdo para baixo e lateral.

Quiz 1/

Frente ao achado de síndrome de oftalmoplegia dolorosa, defina a conduta: 

Comentários

A síndrome da oftalmoplegia dolorosa é causada por processos que exerçam efeito de massa no seio cavernoso, doenças autoimunes (como arterite de células gigantes), mononeuropatias (paralisia diabética) ou outras causas de etiologia não definida, como a enxaqueca oftalmoplégica. 

A compressão estrutural do seio cavernoso pode ser resultante de um tumor intracraniano primário, tumores metastáticos locais ou à distância, aneurisma, fístula carotídeo-cavernosa, dissecção carotídea, trombose de seio cavernoso, sarcoidose, vasculite e infecções. Dentre essas condições, os tumores e as condições vasculares são as mais comuns, podendo ser identificados por exames de neuroimagem, em especial a ressonância magnética (RM). Quando a RM sugere uma anomalia vascular, geralmente é necessário um estudo angiográfico (angiografia por ressonância magnética, angiografia por TC, angiografia por subtração digital). 

A resposta a analgésicos simples não é comum em todas as causas de oftalmoplegia dolorosa e a definição diagnóstica é fundamental para a definição da conduta a ser adotada. 

Por mais que se trate de déficit neurológico focal agudo, o quadro clínico não justifica a intervenção de urgência característica do protocolo de AVC, não exigindo uma conduta de emergência. 

Após a realização dos exames iniciais, incluindo hemograma, eletrólitos, hemoglobina glicada, testes de função renal e hepática e exames de neuroimagem (RM de crânio com angiografia) não se encontrou quaisquer alterações que justificassem o quadro clínico do paciente.

Frente ao achado de síndrome de oftalmoplegia dolorosa, defina a conduta: 

Comentários

A síndrome da oftalmoplegia dolorosa é causada por processos que exerçam efeito de massa no seio cavernoso, doenças autoimunes (como arterite de células gigantes), mononeuropatias (paralisia diabética) ou outras causas de etiologia não definida, como a enxaqueca oftalmoplégica. 

A compressão estrutural do seio cavernoso pode ser resultante de um tumor intracraniano primário, tumores metastáticos locais ou à distância, aneurisma, fístula carotídeo-cavernosa, dissecção carotídea, trombose de seio cavernoso, sarcoidose, vasculite e infecções. Dentre essas condições, os tumores e as condições vasculares são as mais comuns, podendo ser identificados por exames de neuroimagem, em especial a ressonância magnética (RM). Quando a RM sugere uma anomalia vascular, geralmente é necessário um estudo angiográfico (angiografia por ressonância magnética, angiografia por TC, angiografia por subtração digital). 

A resposta a analgésicos simples não é comum em todas as causas de oftalmoplegia dolorosa e a definição diagnóstica é fundamental para a definição da conduta a ser adotada. 

Por mais que se trate de déficit neurológico focal agudo, o quadro clínico não justifica a intervenção de urgência característica do protocolo de AVC, não exigindo uma conduta de emergência. 

Após a realização dos exames iniciais, incluindo hemograma, eletrólitos, hemoglobina glicada, testes de função renal e hepática e exames de neuroimagem (RM de crânio com angiografia) não se encontrou quaisquer alterações que justificassem o quadro clínico do paciente.

O paciente foi internado para investigação diagnóstica. Sugira exames complementares que poderiam corroborar as principais etiologias da síndrome de oftalmoplegia dolorosa:

Comentários

Em casos de investigação da síndrome de oftalmoplegia dolorosa, em que a RM é normal ou mostra alterações consistentes com a inflamação do seio cavernoso, procedemos com uma avaliação adicional sérico e do líquido cefalorraquidiano para excluir outras possíveis causas de inflamação orbital. 

A avaliação do líquor inclui: proteínas, glicose, celularidade com contagem diferencial, citologia, sorologia para sífilis, ECA (para investigação de sarcoidose) e culturas para bactérias, fungos e micobactérias. 

Segue uma tabela com as principais causas de oftalmoplegia dolorosa: 

Trauma 

Vascular 

  • Aneurisma intracavernoso de artéria carótida 
  • Aneurisma da artéria cerebral posterior 
  • Fístula carotídeo-cavernosa 
  • Trombose carotídeo-cavernosa 
  • Aneurisma de artéria comunicante posterior 
  • Dissecção da artéria carótida interna 

Neoplasia 

  • Tumor intracraniano primário (adenoma hipofisário, meningioma, craniofaringioma) 
  • Tumor craniano primário (cordoma, tumor de células gigantes) 
  • Metástase locais (tumor nasofaríngeo, carcinoma de células escamosas) 
  • Metástases à distância (linfoma, mieloma múltiplo, metástases carcinomatosas) 

Inflamação/Infecção 

  • Bacteriana (rinossinusite contígua, mucocele no seio esfenoidal, periostite, abscesso) 
  • Viral (herpes zóster) 
  • Fúngica (Mucormicose, Actinomicose) 
  • Espiroqueta (Treponema pallidum) 
  • Micobacteriana (Mycobacterium tuberculosis) 
  • Outras (sarcoidose, granulomatose com poliangeíte, granuloma eosinofílico, síndrome de Tolosa-Hunt, pseudotumor orbitário) 

Miscelânia 

  • Oftalmoplegia diabética 
  • Enxaqueca oftalmoplégica 
  • Arterite de células gigantes 

 Tabela 1. Causas de oftalmoplegia dolorosa 

O paciente foi internado para investigação diagnóstica. Sugira exames complementares que poderiam corroborar as principais etiologias da síndrome de oftalmoplegia dolorosa:

Comentários

Em casos de investigação da síndrome de oftalmoplegia dolorosa, em que a RM é normal ou mostra alterações consistentes com a inflamação do seio cavernoso, procedemos com uma avaliação adicional sérico e do líquido cefalorraquidiano para excluir outras possíveis causas de inflamação orbital. 

A avaliação do líquor inclui: proteínas, glicose, celularidade com contagem diferencial, citologia, sorologia para sífilis, ECA (para investigação de sarcoidose) e culturas para bactérias, fungos e micobactérias. 

Segue um sistema com as principais causas de oftalmoplegia dolorosa: 

Trauma 

Vascular 

  • Aneurisma intracavernoso de artéria carótida 
  • Aneurisma da artéria cerebral posterior 
  • Fístula carotídeo-cavernosa 
  • Trombose carotídeo-cavernosa 
  • Aneurisma de artéria comunicante posterior 
  • Dissecção da artéria carótida interna 

Neoplasia 

  • Tumor intracraniano primário (adenoma hipofisário, meningioma, craniofaringioma) 
  • Tumor craniano primário (cordoma, tumor de células gigantes) 
  • Metástase locais (tumor nasofaríngeo, carcinoma de células escamosas) 
  • Metástases à distância (linfoma, mieloma múltiplo, metástases carcinomatosas) 

Inflamação/Infecção 

  • Bacteriana (rinossinusite contígua, mucocele no seio esfenoidal, periostite, abscesso) 
  • Viral (herpes zóster) 
  • Fúngica (Mucormicose, Actinomicose) 
  • Espiroqueta (Treponema pallidum) 
  • Micobacteriana (Mycobacterium tuberculosis) 
  • Outras (sarcoidose, granulomatose com poliangeíte, granuloma eosinofílico, síndrome de Tolosa-Hunt, pseudotumor orbitário) 

Miscelânia 

  • Oftalmoplegia diabética 
  • Enxaqueca oftalmoplégica 
  • Arterite de células gigantes 

 Tabela 1. Causas de oftalmoplegia dolorosa 

Após realização de todos os exames laboratoriais solicitados, com tempo decorrido de 48h desde a admissão do paciente até o momento, não houve nenhuma achado que indicasse algum diagnóstico em específico. Associando os dados clínicos apresentados e ausência de achados laboratoriais e de imagem, qual entidade clínica é a melhor hipótese diagnóstica: 

Comentários

A enxaqueca oftalmoplégica é uma entidade clínica extremamente rara, sem etiologia definida, caracterizada por crises recorrentes de cefaleia unilateral fixa associada à paresia ipsilateral de um ou mais nervos oculomotores. Os critérios diagnósticos para essa entidade incluem crise enxaquecosa acompanhada ou seguida (em até quatro dias a contar do seu início) de paresia do III, IV e/ou VI par craniano. 

A síndrome de Tolosa-Hunt (STH) é uma síndrome rara caracteriza por oftalmoplegia dolorosa (dor orbital episódica associada à paralisia de um ou mais pares cranianos [III, IV e VI], que geralmente se resolve espontaneamente, com recidivas e remissões), sendo causada por uma inflamação granulomatosa idiopática do seio cavernoso. O diagnóstico é baseado na apresentação clínica em conjunto com resultados de neuroimagem e uma resposta clínica dramática aos corticosteroides.  

Os critérios diagnósticos para a STH incluem: cefaleia unilateral e inflamação granulomatosa do seio cavernoso, fissura orbital superior ou órbita, demonstrada por RM ou biópsia e paresia de um ou mais pares cranianos oculomotores (III, IV ou VI) ipsilaterais, evidência de causalidade (cefaleia precedendo a paresia oculomotora em semanas ou desenvolvimento sincrônico e cefaleia ipsilateral à inflamação granulomatosa), desde que todo o quadro clínico não seja explicado por um diagnóstico alternativo. Apresenta resposta dramática à corticoterapia. 

O pseudotumor orbitário é uma condição relacionada à inflamação idiopática da órbita, cursando com oftalmoplegia dolorosa e sinais orbitários (proptose, injeção conjuntival e quemose). 

A oftalmoplegia diabética geralmente resulta de uma mononeuropatia, porém como foi evidenciado em investigação diagnóstica inicial, o paciente não é diabético. 

Conclusão

Frente às possibilidades diagnósticas de enxaqueca oftalmoplégica e síndrome de Tolosa-Hunt, sendo que ambas as entidades não preencheram adequadamente os critérios diagnósticos, optamos por realizar uma prova terapêutica com Prednisona 1 mg/kg/dia. Após 24h o paciente apresentou remissão total da dor, recebendo alta hospitalar após o primeiro dia sem dor. Optamos por descalonamento da corticoterapia com redução de 50% da dose a cada duas semanas. Por volta da sexta semana houve reversão completa da ptose palpebral e da diplopia. 

A resposta à corticoterapia no caso de STH é rápida, sendo que o mesmo não ocorre na enxaqueca oftalmoplégica, porém não confirma definitivamente o diagnóstico, sendo necessário o acompanhamento radiológico ao longo do tempo. O paciente foi encaminhado ao ambulatório de neurologia para seguimento. 

Agradecimento especial ao Dr. Vinícius Moreira Lima, Neurologista vascular de Brasília-DF. 

Referências bibliográficas:

  • Tolosa E. Periarteritic lesions of the carotid siphon with the clinical features of a carotid infraclinoidal aneurysm. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1954; 17:300.
  • Hunt WE, Meagher JN, Lefever HE, Zeman W. Painful opthalmoplegia. Its relation to indolent inflammation of the carvernous sinus. Neurology 1961; 11:56. 
  • Smith JL, Taxdal DS. Painful ophthalmoplegia. The Tolosa-Hunt syndrome. Am J Ophthalmol 1966; 61:1466. 
  • Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition. Cephalalgia 2018; 38:1. 
  • Shindler KS. Tolosa-Hunt syndrome [Internet]. Brazis PW, Wilterdink JL, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. (Accesso em 30 de outubro, 2022). 
  • Buscacio ES, Yamane Y, Nogueira R. Síndrome de Tolosa-Hunt. Rev Bras Oftalmol.2016; 75 (1): 64-6 
  • Monzillo PH, Saab VM, Protti GG, Sanvito WL. Enxaqueca oftalmoplégica: relato de caso. Arq Bras Oftalmol, 2006; 69(5):737-739. 

Após realização de todos os exames laboratoriais solicitados, com tempo decorrido de 48h desde a admissão do paciente até o momento, não houve nenhuma achado que indicasse algum diagnóstico em específico. Associando os dados clínicos apresentados e ausência de achados laboratoriais e de imagem, qual entidade clínica é a melhor hipótese diagnóstica: 

Comentários

A enxaqueca oftalmoplégica é uma entidade clínica extremamente rara, sem etiologia definida, caracterizada por crises recorrentes de cefaleia unilateral fixa associada à paresia ipsilateral de um ou mais nervos oculomotores. Os critérios diagnósticos para essa entidade incluem crise enxaquecosa acompanhada ou seguida (em até quatro dias a contar do seu início) de paresia do III, IV e/ou VI par craniano. 

A síndrome de Tolosa-Hunt (STH) é uma síndrome rara caracteriza por oftalmoplegia dolorosa (dor orbital episódica associada à paralisia de um ou mais pares cranianos [III, IV e VI], que geralmente se resolve espontaneamente, com recidivas e remissões), sendo causada por uma inflamação granulomatosa idiopática do seio cavernoso. O diagnóstico é baseado na apresentação clínica em conjunto com resultados de neuroimagem e uma resposta clínica dramática aos corticosteroides.  

Os critérios diagnósticos para a STH incluem: cefaleia unilateral e inflamação granulomatosa do seio cavernoso, fissura orbital superior ou órbita, demonstrada por RM ou biópsia e paresia de um ou mais pares cranianos oculomotores (III, IV ou VI) ipsilaterais, evidência de causalidade (cefaleia precedendo a paresia oculomotora em semanas ou desenvolvimento sincrônico e cefaleia ipsilateral à inflamação granulomatosa), desde que todo o quadro clínico não seja explicado por um diagnóstico alternativo. Apresenta resposta dramática à corticoterapia. 

O pseudotumor orbitário é uma condição relacionada à inflamação idiopática da órbita, cursando com oftalmoplegia dolorosa e sinais orbitários (proptose, injeção conjuntival e quemose). 

A oftalmoplegia diabética geralmente resulta de uma mononeuropatia, porém como foi evidenciado em investigação diagnóstica inicial, o paciente não é diabético. 

Conclusão

Frente às possibilidades diagnósticas de enxaqueca oftalmoplégica e síndrome de Tolosa-Hunt, sendo que ambas as entidades não preencheram adequadamente os critérios diagnósticos, optamos por realizar uma prova terapêutica com Prednisona 1 mg/kg/dia. Após 24h o paciente apresentou remissão total da dor, recebendo alta hospitalar após o primeiro dia sem dor. Optamos por descalonamento da corticoterapia com redução de 50% da dose a cada duas semanas. Por volta da sexta semana houve reversão completa da ptose palpebral e da diplopia. 

A resposta à corticoterapia no caso de STH é rápida, sendo que o mesmo não ocorre na enxaqueca oftalmoplégica, porém não confirma definitivamente o diagnóstico, sendo necessário o acompanhamento radiológico ao longo do tempo. O paciente foi encaminhado ao ambulatório de neurologia para seguimento. 

Agradecimento especial ao Dr. Vinícius Moreira Lima, Neurologista vascular de Brasília-DF. 

Referências bibliográficas:

  • Tolosa E. Periarteritic lesions of the carotid siphon with the clinical features of a carotid infraclinoidal aneurysm. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1954; 17:300.
  • Hunt WE, Meagher JN, Lefever HE, Zeman W. Painful opthalmoplegia. Its relation to indolent inflammation of the carvernous sinus. Neurology 1961; 11:56. 
  • Smith JL, Taxdal DS. Painful ophthalmoplegia. The Tolosa-Hunt syndrome. Am J Ophthalmol 1966; 61:1466. 
  • Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition. Cephalalgia 2018; 38:1. 
  • Shindler KS. Tolosa-Hunt syndrome [Internet]. Brazis PW, Wilterdink JL, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. (Accesso em 30 de outubro, 2022). 
  • Buscacio ES, Yamane Y, Nogueira R. Síndrome de Tolosa-Hunt. Rev Bras Oftalmol.2016; 75 (1): 64-6 
  • Monzillo PH, Saab VM, Protti GG, Sanvito WL. Enxaqueca oftalmoplégica: relato de caso. Arq Bras Oftalmol, 2006; 69(5):737-739. 

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