Caso clínico: Paciente com palpitações e intrigante alteração radiográfica. O que será?

A queixa era de fortes batimentos cardíacos estivessem em seu pescoço, principalmente em atividade de esforço moderado.

Mulher, 85 anos, hipertensa e diabética com tratamento regular, procura atendimento médico referindo queixa de “palpitações” no pescoço. Foi encaminhada por médico da policlínica regional após ter notado alteração em radiografia de tórax recente. 

Detalhando a queixa clínica, ela sentia como se fortes batimentos cardíacos estivessem em seu pescoço, principalmente em atividade de esforço moderado.   

Negava dor torácica, equivalentes anginosos, dispneia ou edema de membros inferiores. Também não referia emagrecimento, febre ou outros sinais sistêmicos. Nega tabagismo. 

Ao exame físico: Pressão arterial 148 x 92 mmHg, frequência cardíaca 81 bpm, frequência respiratória 14 irpm, saturação de O2 97%. Normocorada, anictérica, hidratada e eupneica.  

ACV: Ritmo cardíaco regular em 3T (B3), bulhas normofonéticas. Presença de sopro sistólico 3+/6+ em focos da base, porém com maior intensidade em fúrcula e região clavicular esquerda. Sem turgência jugular. 

Região cervical: Notada pulsação em laringe e traqueia, brusca e ritmada com a frequência cardíaca, sem massas locais ou alterações linfonodais associadas. Tireóide palpável, sem nódulos ou alterações morfológicas. 

Ausculta respiratória: MVUA sem ruídos adventícios. 

Abdômen atípico e indolor, sem massas ou visceromegalias. 

Membros inferiores com pulsos palpáveis e amplos, sem edema local. 

Apresentou o seguinte RX de tórax, que motivou o atendimento: 

Quiz 1/

Qual hipótese diagnóstica ganha relevância no caso?

Comentários

O aneurisma de aorta é uma patologia desafiadora, uma vez que pode apresentar evolução gradual e com poucos sintomas, sendo às vezes um diagnóstico incidental, e outras vezes um quadro agudo como um aneurisma dissecante, onde a mortalidade é considerável. 

Os aneurismas de aorta torácica são mais comuns na aorta ascendente e raiz da aorta, sendo sua maioria fusiforme, onde ocorre dilatação circunferencial da artéria. Normalmente ocorre como um processo degenerativo, onde a parede vascular sofre estresse crônico associado aos fatores comuns como tabagismo, hipertensão arterial, dislipidemia e a própria idade do paciente. 

Importante ressaltar que independente de sintomas ou outras peculiaridades, a presença de um aneurisma com diâmetro maior que 5,5 cm implica diretamente em maior risco de ruptura e dissecção arterial. 

O contexto de sinais e sintomas pode ser o mais diverso possível, embora na maioria das vezes seja assintomático, podendo ser encontrado desde disfagia e dispneia por compressão do esôfago ou vias aéreas, assim como dor torácica por compressão local e erosão óssea. Em casos raros, o aneurisma pode deformar a parede torácica, gerando abaulamentos pulsáteis. 

Na ausculta, um sopro diastólico aspirativo pode ser audível quando o aneurisma na raiz da aorta gera uma insuficiência aórtica secundária, assim como sopro sistólico na topografia do aneurisma pelo turbilhonamento sanguíneo. Também pode ser percebida a presença de pulsações em laringe e traqueia, principalmente com a mobilização dessas estruturas lateralmente para a esquerda, podendo configurar o sinal de Oliver-Cardarelli. 

A paciente em questão teve seu diagnóstico ao acaso por um exame radiológico, onde é percebida grande hipotransparência em topografia aórtica, gerando desvio contralateral de traqueia. De forma que pode explicar sua queixa principal, ocasionada pela transmissão de pulsações nas estruturas de via aérea e pescoço. 

Diagnóstico de aneurisma de aorta torácica foi confirmado com exame angiotomográfico, mostrando grande aneurisma sacular com mais de 7 cm e sem sinais de hematomas ou dissecções. Realizada interconsulta com serviço de cardiologia para seguimento terapêutico, porém sem probabilidade cirúrgica pela idade e comorbidades da paciente. 

Referências bibliográficas: 

  • Senser EM, Misra S, Henkin S. Thoracic Aortic Aneurysm: A Clinical Review. Cardiol Clin. 2021 Nov;39(4):505-515. 
  • Salameh MJ, Black JH 3rd, Ratchford EV. Thoracic aortic aneurysm. Vasc Med. 2018 Dec;23(6):573-578. 

Qual hipótese diagnóstica ganha relevância no caso?

Comentários

O aneurisma de aorta é uma patologia desafiadora, uma vez que pode apresentar evolução gradual e com poucos sintomas, sendo às vezes um diagnóstico incidental, e outras vezes um quadro agudo como um aneurisma dissecante, onde a mortalidade é considerável. 

Os aneurismas de aorta torácica são mais comuns na aorta ascendente e raiz da aorta, sendo sua maioria fusiforme, onde ocorre dilatação circunferencial da artéria. Normalmente ocorre como um processo degenerativo, onde a parede vascular sofre estresse crônico associado aos fatores comuns como tabagismo, hipertensão arterial, dislipidemia e a própria idade do paciente. 

Importante ressaltar que independente de sintomas ou outras peculiaridades, a presença de um aneurisma com diâmetro maior que 5,5 cm implica diretamente em maior risco de ruptura e dissecção arterial. 

O contexto de sinais e sintomas pode ser o mais diverso possível, embora na maioria das vezes seja assintomático, podendo ser encontrado desde disfagia e dispneia por compressão do esôfago ou vias aéreas, assim como dor torácica por compressão local e erosão óssea. Em casos raros, o aneurisma pode deformar a parede torácica, gerando abaulamentos pulsáteis. 

Na ausculta, um sopro diastólico aspirativo pode ser audível quando o aneurisma na raiz da aorta gera uma insuficiência aórtica secundária, assim como sopro sistólico na topografia do aneurisma pelo turbilhonamento sanguíneo. Também pode ser percebida a presença de pulsações em laringe e traqueia, principalmente com a mobilização dessas estruturas lateralmente para a esquerda, podendo configurar o sinal de Oliver-Cardarelli. 

A paciente em questão teve seu diagnóstico ao acaso por um exame radiológico, onde é percebida grande hipotransparência em topografia aórtica, gerando desvio contralateral de traqueia. De forma que pode explicar sua queixa principal, ocasionada pela transmissão de pulsações nas estruturas de via aérea e pescoço. 

Diagnóstico de aneurisma de aorta torácica foi confirmado com exame angiotomográfico, mostrando grande aneurisma sacular com mais de 7 cm e sem sinais de hematomas ou dissecções. Realizada interconsulta com serviço de cardiologia para seguimento terapêutico, porém sem probabilidade cirúrgica pela idade e comorbidades da paciente. 

Referências bibliográficas: 

  • Senser EM, Misra S, Henkin S. Thoracic Aortic Aneurysm: A Clinical Review. Cardiol Clin. 2021 Nov;39(4):505-515. 
  • Salameh MJ, Black JH 3rd, Ratchford EV. Thoracic aortic aneurysm. Vasc Med. 2018 Dec;23(6):573-578. 

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