Quiz: Erupção cutânea durante QT

Foram identificadas lesões papulosas, eritematosas, assintomáticas, monomórficas no tronco. Confira o quiz e teste seus conhecimentos.

Paciente de 61 anos, com câncer colorretal metastático (fígado e pulmão), iniciou tratamento com Panitumumabe há seis semanas. Apresentou quadro dermatológico com lesões papulosas, eritematosas, assintomáticas, monomórficas no tronco, com algumas pústulas no dorso. Nega sintomas sistêmicos. Exames laboratoriais recentes sem alterações. 

Confira a imagem:

Quiz 1/

De acordo com o quadro descrito, assinale a alternativa que contempla a melhor conduta: 

Comentários

O panitumumabe é um anticorpo monoclonal totalmente humano que tem como alvo o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), que é um receptor tirosina quinase com papel fundamental no desenvolvimento e progressão de alguns tumores, como o carcinoma colorretal.

Estudos demonstraram que o panitumumab pode melhorar significativamente a sobrevida livre de progressão de doença em várias linhas de tratamento em doentes com câncer colorretal metastático.

Ao contrário da quimioterapia convencional, os inibidores de EGFR estão associados à menor hematotoxicidade e têm uma ação mais direcionada e específica sobre as células tumorais do que as drogas quimioterápicas citotóxicas convencionais. No entanto, novas reações adversas têm sido relatadas que incluem efeitos cutâneos.

Eventos adversos durante o tratamento do câncer podem ter um efeito negativo na qualidade de vida. A terapia ideal, portanto, envolve um equilíbrio entre eficácia e segurança.

Toxicidades dermatológicas, como erupção papulopustular (erupção acneiforme), eritema, paroníquia e fissuras cutâneas, são possíveis efeitos colaterais desses agentes, uma vez que o EGFR está envolvido no desenvolvimento e fisiologia normais da epiderme.

Exposição solar excessiva, radioterapia concomitante e hidratação inadequada da pele são fatores exacerbantes das toxicidades dermatológicas associadas aos inibidores do EGFR.

Tem sido relatado que o surgimento de toxicidade cutânea pode ser um marcador clínico substituto para a eficácia dos inibidores de EGFR no câncer colorretal metastático, embora isso permaneça controverso.

O manejo diagnóstico e sintomático dessas toxicidades cutâneas é de extrema importância para limitar reduções de dose ou interrupção do tratamento.

Outro objetivo é reduzir o impacto na qualidade de vida de pacientes tratados por longos períodos. Portanto, é importante descrever com precisão os sintomas cutâneos e identificar tratamentos dermatológicos adequados, a fim de garantir o bem-estar físico e psicológico dos pacientes, bem como as melhores condições de tratamento do câncer.

Geralmente, as toxicidades cutâneas associadas a esses agentes-alvo são classificadas como leves a moderadas, mas, se não tratadas, podem afetar potencialmente a qualidade de vida.

O tratamento consiste em aplicação tópica de cremes emolientes, administração de corticoide e antibioticoterapia tópica e/ou oral, evitar a exposição solar e fotoproteção para o manejo de erupções cutâneas.

As reações pápulo-pustulosas e acneiformes são observadas em 50% a 80% dos casos de acordo com a literatura e geralmente ocorrem após a primeira ou segunda infusão da droga. Desenvolve-se em áreas cosmeticamente sensíveis e afeta a maioria dos pacientes tratados.

Clinicamente observa-se pápulas e pústulas eritematosas,  que podem ser pruriginosas, mais presentes em locais com alta densidade de glândulas sebáceas (couro cabeludo, face, parte superior do tórax e dorso).

A histopatologia revela um infiltrado de células inflamatórias superficiais ao redor de infundíbulos foliculares hiperceratóticos ou ectasiados ou uma foliculite supurativa neutrofílica com ruptura do revestimento epitelial.

Quanto maior a gravidade da erupção cutânea, maior será o decréscimo na qualidade de vida.

Com base na alta frequência de erupção cutânea em pacientes tratados com inibidores de EGFR e na apresentação consistente nas primeiras duas a quatro semanas de terapia, o manejo preventivo/profilático é recomendado, a menos que haja contra indicações com base em fatores do paciente e/ou do profissional de saúde.

Hidrocortisona 1% combinada com emolientes, fotoproteção e doxiciclina 100 mg duas vezes ao dia nas primeiras seis semanas fazem parte das recomendações com base em dados randomizados.

Um estudo revelou que a minociclina profilática 100 mg ao dia é um agente eficaz na redução do número de lesões durante as primeiras oito semanas.

A doxiciclina parece ter um perfil de segurança mais favorável, especialmente em pacientes com disfunção renal, enquanto a minociclina é menos fotossensibilizante, portanto preferível em locais geográficos ou sazonais com alto índice UV.

Referências bibliográficas:

  • Chua YJ, Cunningham D. Panitumumab. Drugs Today (Barc). 2006;42(11):711-719. doi:10.1358/dot.2006.42.11.1032061
  • Hassel JC, Kripp M, Al-Batran S, Hofheinz RD. Tratamento de erupção cutânea induzida por antagonistas do fator de crescimento epidérmico: resultados de uma pesquisa entre oncologistas alemães. Onkologia. 2010; 33(3):94-98. DOI:10.1159/000277656
  • Lacouture ME, Anadkat MJ, Bensadoun RJ, Bryce J, Chan A, Epstein JB, Eaby-Sandy B, Murphy BA; MASCC Skin Toxicity Study Group. Clinical practice guidelines for the prevention and treatment of EGFR inhibitor-associated dermatologic toxicities. Support Care Cancer. 2011 Aug;19(8):1079-95. doi: 10.1007/s00520-011-1197-6. Epub 2011 Jun 1. PMID: 21630130; PMCID: PMC3128700.
  • Ocvirk J, Heeger S, McCloud P, Hofheinz RD. A review of the treatment options for skin rash induced by EGFR-targeted therapies: Evidence from randomized clinical trials and a meta-analysis. Radiol Oncol. 2013 May

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