A dermatose terra firma-forme, também conhecida como dermatose suja de Duncan, é uma alteração cutânea benigna, idiopática, descrita em 1987, subdiagnosticada. O termo terra firma‐forme surgiu do latim e significa “terra sólida”.
É uma entidade relativamente comum, mas subestimada, caracterizada por pigmentação cutânea marrom à preta assintomática, semelhante à pele suja, todavia lavar ou friccionar a pele lesionada com água e sabão é ineficaz.
A etiopatogenia é desconhecida, mas postula-se que possa estar associada à queratinização retida e desordenada. Esse distúrbio de maturação dos queratinócitos leva à compactação dessas células, associada à melanina, sebo e micro‐organismos na epiderme, o que explica a hiperqueratose e a hiperpigmentação clinicamente observadas.
Ao exame, podemos observar placas e pápulas ligeiramente elevadas, acastanhadas ou enegrecidas, hiperceratóticas e assintomáticas. As lesões são localizadas no pescoço, face e tronco, bilaterais ou unilaterais. Acomete pessoas com hábitos de higiene adequados.
A dermatoscopia é método auxiliar e pode demonstrar escamas marrons em forma de placas poligonais dispostas em um padrão de mosaico. Estruturas lineares e curvilineares (padrão semelhante à ceratose seborreica) e hiperpigmentação perifolicular também podem ser visualizadas.
Possivelmente, o álcool 70% determina a desnaturação das proteínas celulares, interfere no metabolismo celular e dilui as membranas lipoproteicas, desfazendo as lesões.
A avaliação histológica é desnecessária, mas, se realizada, observam‐se acantose, apilomatose e hiperceratose lamelar.
Dermatose neglecta, acantose nigricans, pitiríase versicolor, papilomatose confluente e reticulada de Gougerot‐Carteaud são diagnósticos diferenciais.
É possível diferenciá‐las pela remoção das lesões com álcool na dermatose terra firma‐forme, além de alguns achados clínicos. A acantose nigricante apresenta‐se normalmente associada a distúrbios metabólicos e a dermatose neglecta é facilmente removida com água e sabão.
O tratamento consiste no uso do álcool isopropílico 70%, porém as lesões podem recidivar. Há relato do uso de ácido salicílico 5%, uma vez ao dia, com boa resposta após duas semanas.
O paciente deve ser orientado em relação à limpeza da pele em domicílio, além da aplicação de emolientes e hidratantes para prevenção de xerose pelo uso do álcool.
Referências bibliográficas:
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