O aparecimento de lesões suspeitas para Monkeypox é caracterizado com o início de lesões em mucosas associadas ou não a lesões cutâneas profundas e bem circunscritas, muitas vezes com umbilicação central, únicas ou múltiplas em qualquer parte do corpo 1. Há comprometimento sistêmico, sendo que a linfadenopatia é proeminente, as lesões costumam ser difusas, de distribuição periférica e uniformes (todas se encontram no mesmo estágio de desenvolvimento)2. No caso descrito não havia lesões em mucosas, nem a presença de umbilicação central em nenhuma das múltiplas lesões, além da ausência de sintomas sistêmicos ou linfonodomegalias.
A Varíola é uma doença causada por um vírus DNA, do gênero Orthopoxvirus, da subfamília Chordopoxvirinae da família Poxviridae2, sendo um dos vírus mais resistentes, em particular, aos agentes físicos. Trata-se de doença exclusiva dos seres humanos, erradicada (último caso registrado na Somália em 26 de outubro de 1977. Então, a menos que pensemos um ataque de bioterrorismo, a Varíola não seria nossa principal hipótese diagnóstica. Mas para conhecimento, as Varíola se manifesta com pródromos sistêmicos (febre alta, cefaleia, dores musculares, náuseas, dores abdominais internadas e alteração do nível de consciência) por dois a quatro dias e progredindo após para o aparecimento de lesões cutâneas (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e formação de crostas) em surto único, de duração média entre um e dois dias, com distribuição centrífuga predominando em face e membros. As lesões de determinadas áreas se encontram no mesmo estágio evolutivo. Se você acha que já viu uma doença que evolui desta forma está completamente certo: a evolução da Varíola é muito semelhante à Varicela3. A Varíola está erradicada no Brasil desde abril de 19713.
A Dermatite herpetiforme ou Dermatite de Duhring-Brocq ou ainda Doença de Duhring-Brocq é “uma doença cutânea papulovesicular intensamente pruriginosa que se caracteriza por lesões de distribuição simétrica nas faces extensoras (cotovelos, joelhos, região glútea, dorso, couro cabeludo e nuca)2”. A grande maioria (quase todos) os pacientes têm enteropatia sensível ao glúten, geralmente subclínica, sendo que a presença de glúten na dieta é fator precipitante para a dermatite2. O prurido que é um sintoma clássico dessa doença não aparece no caso clínico, nem a história de ingestão de glúten em que teria uma dieta rigidamente controlada anteriormente.
Herpes-zóster é a nossa principal hipótese diagnóstica, sendo caraterizada pela reativação do vírus varicela-zóster que permanecia em latência. A maioria dos doentes relata dores nevrálgicas, parestesias, ardor e prurido locais, acompanhados de febre, mal-estar e cefaleia. As lesões elementares são vesículas sobre base eritematosa que surgem em dois a quatro dias, podendo apresentar confluência e formar pequenas bolhas contendo líquido transparente ou ligeiramente amarelado, seguindo o trajeto de determinado dermátomo centrifugamente4.
Referências bibliográficas:
1. Brasil. Ministério da Saúde. Plano de contingência nacional para Monkeypox. Brasília-DF; 2022
2. Jameson JL, Kasper DL, Longo DL, Fauci AS, Hauser SL, Loscalzo J. Medicina interna de Harrison. 2020o ed. Vol. 1. Porto Alegre-RS: AMGH; 2020.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 6o ed. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2005.
4. Favarato MHS, Saad R, Ivanovic LF, Jorge MCP, de Oliveira JC, Santos VG, et al. Manual do residente de Clínica Médica. 3o ed. Santana de Parnaíba-SP: Manole; 2023.