Quiz: lesões eritematosas e vesiculares localizadas em dorso

Paciente com presença de múltiplas lesões, vesículas sobre base eritematosa, com tendência à confluência predominando.

Paciente de 46 anos, previamente hígido, vem ao pronto-socorro com queixa de surgimento de lesões de pele em dorso, ombro e região superior do peitoral maior, todas em dimídio direito há dois dias, com dor associada, e eliminação de secreção hialina pelas vesículas. Ao exame físico: presença de múltiplas lesões, vesículas sobre base eritematosa, com tendência à confluência predominando na lateral da região cervical, se estendendo até o ombro lateralmente e pouco acima do ângulo da escápula inferiormente, chegando até a borda superior do músculo peitoral maior anteriormente. AS lesões respeitam a linha média do tórax e região cervical. Sem outros achados dignos de nota. 

Quiz 1/

Diante da apresentação clínica característica qual é a principal hipótese diagnóstica?

Comentários

O aparecimento de lesões suspeitas para Monkeypox é caracterizado com o início de lesões em mucosas associadas ou não a lesões cutâneas profundas e bem circunscritas, muitas vezes com umbilicação central, únicas ou múltiplas em qualquer parte do corpo 1. Há comprometimento sistêmico, sendo que a linfadenopatia é proeminente, as lesões costumam ser difusas, de distribuição periférica e uniformes (todas se encontram no mesmo estágio de desenvolvimento)2. No caso descrito não havia lesões em mucosas, nem a presença de umbilicação central em nenhuma das múltiplas lesões, além da ausência de sintomas sistêmicos ou linfonodomegalias. 

A Varíola é uma doença causada por um vírus DNA, do gênero Orthopoxvirus, da subfamília Chordopoxvirinae da família Poxviridae2, sendo um dos vírus mais resistentes, em particular, aos agentes físicos. Trata-se de doença exclusiva dos seres humanos, erradicada (último caso registrado na Somália em 26 de outubro de 1977. Então, a menos que pensemos um ataque de bioterrorismo, a Varíola não seria nossa principal hipótese diagnóstica. Mas para conhecimento, as Varíola se manifesta com pródromos sistêmicos (febre alta, cefaleia, dores musculares, náuseas, dores abdominais internadas e alteração do nível de consciência) por dois a quatro dias e progredindo após para o aparecimento de lesões cutâneas (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e formação de crostas) em surto único, de duração média entre um e dois dias, com distribuição centrífuga predominando em face e membros. As lesões de determinadas áreas se encontram no mesmo estágio evolutivo. Se você acha que já viu uma doença que evolui desta forma está completamente certo: a evolução da Varíola é muito semelhante à Varicela3. A Varíola está erradicada no Brasil desde abril de 19713. 

A Dermatite herpetiforme ou Dermatite de Duhring-Brocq ou ainda Doença de Duhring-Brocq é “uma doença cutânea papulovesicular intensamente pruriginosa que se caracteriza por lesões de distribuição simétrica nas faces extensoras (cotovelos, joelhos, região glútea, dorso, couro cabeludo e nuca)2”. A grande maioria (quase todos) os pacientes têm enteropatia sensível ao glúten, geralmente subclínica, sendo que a presença de glúten na dieta é fator precipitante para a dermatite2. O prurido que é um sintoma clássico dessa doença não aparece no caso clínico, nem a história de ingestão de glúten em que teria uma dieta rigidamente controlada anteriormente. 

Herpes-zóster é a nossa principal hipótese diagnóstica, sendo caraterizada pela reativação do vírus varicela-zóster que permanecia em latência. A maioria dos doentes relata dores nevrálgicas, parestesias, ardor e prurido locais, acompanhados de febre, mal-estar e cefaleia. As lesões elementares são vesículas sobre base eritematosa que surgem em dois a quatro dias, podendo apresentar confluência e formar pequenas bolhas contendo líquido transparente ou ligeiramente amarelado, seguindo o trajeto de determinado dermátomo centrifugamente4. 

Referências bibliográficas:

1. Brasil. Ministério da Saúde. Plano de contingência nacional para Monkeypox. Brasília-DF; 2022

2. Jameson JL, Kasper DL, Longo DL, Fauci AS, Hauser SL, Loscalzo J. Medicina interna de Harrison. 2020o ed. Vol. 1. Porto Alegre-RS: AMGH; 2020.  

3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 6o ed. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2005.  

4. Favarato MHS, Saad R, Ivanovic LF, Jorge MCP, de Oliveira JC, Santos VG, et al. Manual do residente de Clínica Médica. 3o ed. Santana de Parnaíba-SP: Manole; 2023.  

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.