A síndrome de Gianotti-Crosti (SGC) ou acrodermatite papular da infância é uma dermatose autolimitada, rara e subdiagnosticada, com pico de incidência entre um e seis anos de idade.
Foi descrita pela primeira vez em 1955 por Gianotti como uma erupção papulosa, monomórfica, autolimitada, simetricamente distribuída na face, região glútea e extremidades.
Em 1970, Gianotti e Crosti associaram-na à infecção pelo vírus da hepatite B. Posteriormente foram observadas erupções cutâneas idênticas à da SGC, mas sem evidência de infecção aguda pelo vírus da hepatite B. Outras associações já foram descritas, como infecções pelo Epstein-Barr (EBV), HHHV6 e SARS-COVID19, vacinação e infecção bacteriana. Atualmente, a SGC é considerada uma dermatose de padrão reacional, associada a infecções virais, bacterianas e imunizações.
Propõe-se que vírus ou complexos imunes circulantes seriam responsáveis pelos achados cutâneos, resultantes da reação de hipersensibilidade tardia celular.
Clinicamente, é caracterizada por uma erupção papular simétrica de distribuição acral. O tronco, geralmente, encontra-se poupado e as lesões podem ser assintomáticas ou pruriginosas.
O exantema começa de forma abrupta podendo haver pródromos. Os achados clássicos são múltiplas pápulas monomórficas, eritematosas ou normocrômicas, que podem ser pruriginosas e se tornar confluentes. Têm distribuição acral, simétrica, na face, superfícies extensoras das extremidades e região glútea. O tronco, palmas e plantas, geralmente, são poupados, mas, se acometidos, não excluem o diagnóstico.
O estado geral mantém-se inalterado ou ocorrem sintomas gerais como mal estar, febre, náuseas, vômitos, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia e/ou quadro de hepatite anictérica aguda. Uma linfocitose, eventualmente com presença de linfócitos atípicos no sangue periférico, pode ainda ser observada. As mucosas e unhas não são acometidas.
O diagnóstico é clínico e as alterações histopatológicas são inespecíficas e incluem paraceratose focal, espongiose, edema da derme papilar com extravasamento de eritrócitos e infiltrado inflamatório linfo-histiocitário perivascular superficial; eventualmente uma dermatite de interface superficial pode ser observada.
As lesões podem erroneamente ser diagnosticadas como um exantema viral e, provavelmente, a síndrome encontra-se subdiagnosticada.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com prurigo, escabiose e outras ectoparasitoses, granuloma anular, dermatite atópica, líquen plano, erupção liquenóide a droga, líquen estriado, líquen nítido, histiocitose de células de Langerhans, pitiríase liquenóide e varioliforme aguda (Pleva).
O curso da doença é benigno e autolimitado, com resolução em até oito semanas, sem cicatrizes e as recorrências são incomuns. Alguns casos podem deixar hipocromia ou hipercromia residual.
Na maioria dos casos, não é necessário tratamento, mas podemos lançar mão de corticoides tópicos de média potência, anti-histamínicos para controle do prurido e corticoides sistêmicos em casos mais severos.
É essencial educar o paciente e tranquilizar a família, destacando a natureza autolimitada da doença sem contraindicação à imunização infantil.
Referências bibliográficas:
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- Oboli VN, Ebong IL, Tejada Amaro O, Regis JA, Waseem M. Gianotti-Crosti Syndrome: A Benign Dermatosis. Cureus. 2023 Jun 12;15(6):e40328. doi: 10.7759/cureus.40328. PMID: 37313283; PMCID: PMC10260319.