O transtorno de escoriação (escoriação neurótica) é uma psicodermatose, ou seja, manifestação cutânea autoinfligida causada por um componente psicológico. É caracterizado pela coçadura da pele de forma compulsiva e recorrente, seja em áreas com lesão prévia ou em áreas de pele saudável, causando sofrimento significativo ao paciente.
Acomete em torno de 1 a 5% da população e pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas geralmenente inicia na puberdade e a maioria dos indivíduos são mulheres.
Os gatilhos para coçar a pele são vários: doenças dermatológicas como acne ou eczema, estresse emocional ou físico e atividades como assistir a televisão e ler. O prurido é descrito principalmente na face, mãos, braços, pernas e tronco.
O impacto psicológico do transtorno não deve ser subestimado, podendo interferir no convívio social e nas atividades do trabalho ou escola. Transtornos de humor, ansiedade, dependência de substâncias e ideação suicida podem estar associados. Pode levar a complicações como infecções, cicatrizes e desfiguração grave.
A minoria (menos de um quinto) dos pacientes procura atendimento médico, por vergonha ou por acreditar que a condição é apenas um “mau hábito”. O diagnóstico é clínico e muitos pacientes admitem a condição. Diagnósticos diferenciais incluem transtorno obsessivo compulsivo, transtorno dismórfico corporal, dermatite factícia, abuso de substâncias, escabiose e dermatite atópica. Diante da queixa de prurido é importante realizar exames laboratoriais para descartar doenças renais, hepáticas, hematológicas ou infecciosas (HIV) – essas condições podem ser causa de coceira.
O tratamento dermatológico inclui corticóides tópicos, antihistamínicos e antibióticos em caso de infecções. É essencial encaminhar o paciente para acompanhamento psicológico (terapia cognitivo-comportamental) e psiquiátrico. Opções de medicamentos incluem os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), benzodiazepínicos, naltrexona e acetilcisteína. São necessários mais estudos de longo prazo acerca da eficácia dessas medicações.
Referências bibliográficas:
- Lochner C, Roos A, Stein DJ. Excoriation (skin-picking) disorder: a systematic review of treatment options. Neuropsychiatr Dis Treat. 2017 Jul 14;13:1867-1872.
- M Šitum, M Kolić, M Buljan. Psychodermatology. Acta Med Croatica 2016;70 Suppl 1:35-8