Imagem 1: RM de crânio ponderada em “ FLAIR ”. Trata-se de ponderação semelhante a T2 em que o sinal da água livre, como o líquor , é apagado, aparecendo hipointenso /preto. A água ligada a proteínas ou decorrente de processos inflamatórios permanece com hipersinal/branco. Imagem em corte sagital, evidenciando lesão hiperintensa (branca) localizada na substância branca periventricular, com maior eixo perpendicular ao corpo caloso, de aspecto ovóide . Tais lesões, denominadas “dedos de Dawson”, correspondem às placas de desmielinização, relacionadas a alterações inflamatórias ao redor das veias medulares. É também possível visualizar lesão hiperintensa no cerebelo.
Imagem 2: RM de crânio ponderada em T1. Trata-se de ponderação onde a água e o líquor aparecem hipointensos (pretos) e a substância cinzenta mais escura que a substância branca. Imagem em corte axial, evidenciando pequenas lesões ovoides hiperintensas (brancas) na região periventricular, correspondentes às áreas de desmielinização (áreas circuladas).
Imagem 3: RM de crânio ponderada em T2, onde a água e o líquor aparecem hiperintensos (brancos), a substância cinzenta é mais clara e a substância branca tende a ser mais escura. Imagem em corte axial, evidenciando lesões ovoides periventriculares hiperintensas, características de demielinização, e discreta atrofia cerebral.
Diagnóstico
A e sclerose múltipla é uma doença desmielinizante progressiva de caráter autoimune. Os sinais e sintomas apresentados pelo paciente exposto relacionam-se com as consequências da desmielinização, sendo encontradas lesões características nos exames de imagem, principalmente na RM, que levam a alterações motoras, visuais, sensitivas e de fala.
A doença de Wilson é um distúrbio genético do metabolismo do cobre, em que há depósito anômalo dessa substância em diferentes órgãos e tecidos. Essa condição cursa com graus variáveis de envolvimento neurológico, psiquiátrico, hematológico e hepático. (Imagem 4)
A e sclerose lateral amiotrófica é uma doença degenerativa que afeta os neurônios do trato corticoespinhal e do corno anterior da medula espinhal, produzindo sinais e sintomas tanto de comprometimento de neurônio motor superior, quanto de neurônio motor inferior. A doença afeta, preferencialmente, pacientes do sexo masculino, em geral após os 40 anos de idade. (Imagem 5)
A doença de Machado-Joseph, também conhecida como ataxia espinocerebelar tipo 3, é uma doença neurodegenerativa autossômica dominante que causa ataxia cerebelar progressiva, resultando em perda da coordenação muscular das extremidades superiores e inferiores, além de sinais de comprometimento de neurônio motor superior e déficit cognitivo. (Imagem 6)
Imagem 4: doença de Wilson: a imagem característica à RM é a típica “face de panda gigante” (circulada em vermelho) vista no mesencéfalo e a hiperintensidade bilateral em núcleos da base, em substância branca, em tálamo e/ou em tronco encefálico, em T2. Shyamal K Das and Kunal Ray, 2006.
Imagem 5: Esclerose Lateral Amiotrófica: à RM visualiza-se hiperintensidade bilateral simétrica do trato piramidal, formando imagens semiovais/triangulares. A) RM em “FLAIR” mostrando hiperintensidade dos tratos piramidais. B) RM em T1 evidenciando hiperintensidade dos tratos piramidais (setas), mais evidente que em “FLAIR”. ROCHA A.J. et al. 1999.
Imagem 6: doença de Machado-Joseph: estudos de imagem cerebral geralmente revelam atrofia pontocerebelar e alargamento do quarto ventrículo (setas). Hiperintensidade linear anormal no globo pálido interno em T2 e em “FLAIR” também pode ser encontrada. Onodera O et al., 1998.
Discussão do caso
A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória imunomediada, desmielinizante e degenerativa do sistema nervoso central (SNC). Os surtos ocorrem aleatoriamente, variando em número e em frequência de pessoa para pessoa. É tipicamente diagnosticada entre 20 e 50 anos de idade, sendo mais comum em mulheres (2-3:1) Pode apresentar-se de diversas formas clínicas: recorrente-remitente, secundariamente progressiva, primariamente progressiva e primária progressiva com surtos.
A etiologia da EM é desconhecida, mas há dados que sugerem que a genética, o ambiente e até mesmo algumas infecções virais podem desencadear essa afecção. Como resultado do processo inflamatório no SNC, os principais sintomas apresentados pelos pacientes são: fadiga, distúrbios visuais (como neurite óptica), espasticidade (rigidez), fraqueza, desequilíbrio, alterações sensoriais, disfunção vesical e/ou intestinal, além de piora dos sintomas com aumento de temperatura (fenômeno de Uhthoff), entre outros.
O diagnóstico da EM pode ser difícil, por haver uma grande variedade de sintomas. Atualmente, os critérios de McDonald (Tabela) buscam padronizar e facilitar o diagnóstico. São levados em consideração o tempo de progressão, achados à RM, disseminação das lesões no espaço (periventricular, justacordial ou infratentorial) e características do líquido cefalorraquidiano. O paciente em questão apresentava um caso de EM primariamente progressiva, ou seja, aquele em que a doença evolui progressivamente, sem remissões ou surtos.
Critérios de McDonald. Polman CH, 2011.
Como propedêutica, o hemograma é solicitado para o diagnóstico diferencial de doenças infecciosas ou inflamatórias. A punção lombar exclui infecções virais e outras condições que possam causar sintomas neurológicos semelhantes. A RM é importante no diagnóstico diferencial, uma vez que pode revelar lesões desmielinizantes do cerébro e da medula espinhal.
A EM não tem cura, mas pode ser controlada. O tratamento se concentra em manejar as crises e controlar os sintomas. Pulsoterapia com metilprednisolona é o tratamento de escolha para o manejo dos surtos. Para a prevenção dos mesmos, é utilizado terapia com interferon e imunossupressores. Além disso, novos medicamentos estão sendo lançados no mercado, como os anticorpos monoclonais.
Aspectos relevantes
A EM é uma doença inflamatória imunomediada, desmielinizante e degenerativa do sistema nervoso central;
Pode apresentar-se em diversas formas clínicas: recorrente-remitente, secundariamente progressiva, primariamente progressiva ou primária progressiva com surtos;
Os principais sintomas são: fadiga, distúrbios visuais, como neurite óptica, espasticidade, fraqueza, desequilíbrio, alterações sensoriais, disfunção vesical e/ou intestinal, entre outros;
O principal achado na RM é o sinal dos “dedos de Dawson”, correspondente às placas de desmielinização, comumente situadas na região periventricular;
A EM não tem cura, mas pode ser controlada. O tratamento se concentra em manejar as crises e controlar os sintomas.
Referências bibliográficas:
Polman CH, et al. Diagnostic Criteria for Multiple Sclerosis: 2010 Revisions to the McDonald Criteria. Ann Neurol. 2011 Feb;69(2):292-302.
Miller DH, et al. Differential diagnosis of suspected multiple sclerosis: a consensus approach. MultScler. 2008 Nov;14(9):1157-74.
Das SK, Ray K. Wilson’s disease: an update. NatClinPractNeurol. 2006 Sep;2(9):482-93.
da Rocha AJ, Maia AC Jr, Nogueira RG, Lederman HM.Magnetic resonance findings in amyotrophic lateral sclerosis using a spin echo magnetization transfer sequence. Preliminary report. ArqNeuropsiquiatr. 1999 Dec;57(4):912-5
Bürk K, et al. Autosomal dominant cerebellar ataxia type I clinical features and MRI in families with SCA1, SCA2 and SCA3. Brain. 1996 Oct;119 ( Pt 5):1497-505.
Centro de Investigação em Esclerose Múltipla de Minas Gerais. [acesso em 30/09/2015]. Disponível em: http://www.ciem.com.br/
Responsáveis
Vinícius de Moraes Palma, acadêmico do 8º período da Faculdade de Medicina da UFMG. e mail: [email protected]
Lívia Pires Calastri, acadêmica do 8º período da Faculdade de Medicina da UFMG. email: [email protected]
Laura Defensor Ribeiro, acadêmica do 8º período da Faculdade de Medicina da UFMG. email: [email protected]
Raíra Cezar, acadêmica do 10º período da Faculdade de Medicina da UFMG. email: [email protected]
Orientador
Ravi Félix de Melo Gajo, médico neurologista pela Santa Casa. e mail: [email protected]
Revisores
Fabio M. Satake, Débora Faria Nogueira, Daniela Braga, Cairo Mendes e Prof a . Viviane Parisotto.