Quiz: Paciente chega ao pronto socorro com hematêmese franca. O que será?

Teste seus conhecimentos com o Quiz PEBMED e este caso de uma paciente com hematêmese franca e sem história de doenças prévias.

Paciente feminina, 52 anos, admitida em pronto socorro com hematêmese franca sem história de doenças prévias. Após ressuscitação volêmica, apresentou melhora dos níveis pressóricos, FC de 100 bpm e mucosas hipocoradas. Hepatoesplenomegalia à palpação do abdome. Foram realizadas Angiotomografia (Figura 1) e Endoscopia Digestiva Alta (EDA), que evidenciaram varizes de fundo gástrico com sinais de sangramento recente. Optou-se pelo tratamento com injeção de N-Butil-cianoacrilato por via endoscópica.

Imagem 1: Angiotomografia com contraste venoso 

 

Quiz 1/

São achados radiológicos presentes na imagem ao lado e que corroboram o diagnóstico de hipertensão porta, exceto:

Comentários

Imagem 2: Angiotomografia realizada evidenciando sinais de hipertensão porta. Observa-se veia porta pérvia, exibindo diâmetro de 14,0mm (seta amarela). O baço encontra-se aumentado, medindo 200mm em seu maior eixo e com densidade usual (seta verde). Nota-se, também, presença de varizes calibrosas no fundo gástrico (seta vermelha).

Diagnóstico 

 A hipertensão porta é caracterizada por níveis pressóricos na veia porta acima de 10 mmHg. Na prática clínica, no entanto, a confirmação dessa afecção é feita de forma indireta, através da identificação de uma ou mais de suas complicações, em especial varizes de esôfago, esplenomegalia, colaterais abdominais e ascite. 

Os elementos clínicos presentes e que corroboram o diagnóstico são: hematêmese franca, queda dos níveis pressóricos arteriais sistêmicos e hepatoesplenomegalia. Somam-se a isso os elementos presentes na angiotomografia: dilatação de veia porta, presença de circulação colateral exuberante em fundo gástrico e a confirmação imagética da hepatoesplenomegalia. 

A trombose de veia porta é a causa mais comum de hipertensão porta pré-hepática, responsável por metade dos casos de hipertensão porta em crianças, no entanto, não é observada na angiotomografia apresentada, que mostra a perviedade e dilatação do referido vaso.

Discussão do caso

Hemorragia digestiva alta (HDA) é o sangramento que se origina de um sítio localizado entre a boca e o ângulo de Treitz, podendo se manifestar como hematêmese, vômitos ou aspirado de aspecto borráceo na sonda gástrica, melena e enterorragia. A HDA é caracterizada em varicosa ou associada à hipertensão portal e não-varicosa. 

É importante verificar sinais e sintomas de hipovolemia que deverão nortear a estratégia de ressuscita­cão, caracterizar a hemorragia em varicosa e não varicosa, identificar o sítio de sangramento por métodos endoscópicos, bem como o reconhecimento de variáveis clínicas associadas a uma maior mortalidade e risco de recidiva hemorrágica. 

O tratamento tem como meta primária manter a perfusão tecidual, devendo ser feito de forma conservadora e almejando níveis de hemoglobina entre 7 e 8 g/dL. À suspeita de sangramento de varizes, deve-se iniciar o uso de drogas vasoativas (somatostatina, terlipressina, octreotide, vapreotide) o mais precocemente possível, precedendo, inclusive, a EDA. Antibioticoprofilaxia é parte crucial do tratamento de pacientes cirróticos que apresentam sangramento gastrointestinal alto, devendo ser instituída à admissão do paciente, tendo como escolhas, por exemplo, as quinolonas e, em casos avançados, a ceftriaxona. 

O tratamento endoscópico é indicado a qualquer paciente com sangramento gastrointestinal documentado, cujas causas sejam varizes gastroesofágicas. Para varizes esofágicas, adota-se a ligadura elástica, e para sangramento de varizes gástricas isoladas e de varizes gastroesofágicas tipo 2 e que estendem além da cárdia opta-se pelo tratamento com colas teciduais, em especial N-butil-cianoacrilato. 

Outros métodos de tratamento incluem as derivações porto-sistêmicas, exemplificadas pela Derivação Porto-Sistêmica Transjugular Intra-hepática (TIPS) e as derivações porto-cava que descomprimem toda a hipertensão porta e são eficazes no controle do sangramento varicoso.

Imagem 3: TIPS (derivação porto-sistêmica transjugular intra-hepática) realizada por via endoscópica através de punção da veia jugular interna. Imagem disponível em http://www.hepcentro.com.br/tips.htm – Acesso em 22/11/2012. 

Imagem 4: A: Shunt porto-cava látero-lateral e B: Shunt porto-cava término-lateral. O shunt látero-lateral com prótese de politetrafluoretileno é o mais indicado para situações eletivas, pois controla as varizes e a ascite, mantendo o fluxo sanguíneo portal, com consequente menor risco de encefalopatia e disfunção hepática. Imagem disponível em http://www.misodor.com/HIPERTENSAO%20PORTAL.php – Acesso em 22/11/2012. 

Aspectos relevantes

  • A hipertensão porta é caracterizada por níveis pressóricos na veia porta acima de 10mmHg; 
  • Na prática clínica a confirmação dessa afecção é feita de forma indireta; 
  • Elementos como dilatação de veia porta, presença de circulação colateral exuberante em fundo gástrico e hepatoesplenomegalia corroboram o diagnóstico; 
  • Hemorragia digestiva alta (HDA) é o sangramento que se origina de um sítio localizado entre a boca e o ângulo de Treitz;
  • O tratamento tem como meta primária manter a perfusão tecidual, devendo ser feito de forma conservadora e almejando níveis de hemoglobina entre 7 e 8 g/dL; 
  • O tratamento endoscópico é indicado a qualquer paciente com sangramento gastrointestinal documentado, exemplificado pela ligadura elástica e a cola tecidual N-butil-cianoacrilato;

Referências bibliográficas:

  • de Franchis R. Revising consensus in portal hypertension report of the baveno V consensus workshop on methodology of diagnosis and therapy in portal hypertension. J Hepatol2010; 53: 762–768; 
  • Bittencourt PL, Farias AQ, Strauss E. Variceal bleeding consensus meeting report from the Brazilian Society of Hepatology.ArqGastroenterol. 2010; 47: 202-216;
  • Bittencourt PL, Zollinger CC. Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia. 1ª ed. Nycomed, 2009: 53-57 

Responsável 

Fernando Henrique Teodoro Lemos, acadêmico do 9º período de medicina da FM-UFMG. E-mail: [email protected] 

Orientadores 

Prof. Cristiano Xavier Lima, Professor do Departamento de Cirurgia da FM-UFMG. E-mail: [email protected] 

Prof. Tarcizo Afonso Nunes, Professor do Departamento de Cirurgia da FM-UFMG. E-mail: [email protected] 

Revisores 

Juan Bernard, Juliana da Cunha Pimentel Ulhoa e Profª Viviane Parisotto 

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