Quiz: Paciente com dor de evolução gradativa nos joelhos

Relata piora da dor ao fim do dia e persistência mesmo sem repouso. Em uso de analgésicos com pouca melhora.

MCS, 67 anos, sexo feminino, aposentada, comparece ao serviço de ortopedia queixando dor em joelhos, bilateralmente, com evolução gradativa há oito anos. Relata piora da dor ao fim do dia e persistência mesmo sem repouso. Em uso de analgésicos com pouca melhora. Refere ainda episódios de aumento de volume do joelho esquerdo. Após o exame clí­nico e a análise das radiografias solicitadas (imagem) foi feito o diagnóstico de gonartrose bilateral.

Radiografia simples de joelho direito, incidência anteroposterior

 

Radiografia simples de joelho esquerdo, incidência anteroposterior

 

Radiografia simples de joelho esquerdo, incidência em perfil

 

Radiografia simples de joelho direito, incidência em perfil

 

Quiz 1/

Considerando a alteração radiológica e sua etiologia na gonartrose, qual das opções abaixo está incorreta?

Comentários
Imagem 1: destacada em vermelho a redução do espaço articular.

 

Imagem 2: destacada em azul a presença de cisto subcondral.

 

Imagem 3: destacada em amarelo a presença de osteófitos.

 

Imagem 4: destacada em verde a presença de esclerose subcondral.

Diagnóstico 

A radiografia simples, no quadro de gonartrose, é solicitada nas incidências anteroposterior, com apoio monopodálico, perfil e Rosenberg (em que há 45º de flexão do joelho, com os raios em sentido posteroanterior e inclinação de 10º). As alterações radiográficas são muito comuns de serem visualizadas desde o início do quadro de gonartrose.

Com a evolução do processo inflamatório-degenerativo, gradativamente surgem novas alterações e estas vão se tornando mais grosseiras. Os achados mais comuns são: a diminuição do espaço articular, que corresponde à perda de massa cartilaginosa; a esclerose subcondral, que ocorre devido a uma reação do organismo na tentativa de impedir a progressão do desgaste ósseo, não representando a perda óssea em si; os cistos subcondrais, que por sua vez, são formados pelo acúmulo de líquido sinovial em regiões de microfraturas; os osteófitos que surgem devido ao processo de ossificação na tentativa de aumentar a área de distribuição de carga. Outras alterações possivelmente presentes são a presença de corpos livres, como resultado de desprendimento de massa óssea ou cartilaginosa e as modificações do eixo, secundárias às deformidades ósseas. 

Discussão do caso

A osteoartrite (ou artrose) é a doença degenerativa articular mais prevalente e uma das condições mais incapacitantes para a população. É caracterizada por um processo inflamatório e degenerativo da cartilagem das articulações, devido a um desequilíbrio entre os processos anabólicos e catabólicos, que culmina no comprometimento e na deformação óssea, causando insuficiência funcional da articulação.

A gonartrose é a osteoartrite que acomete o joelho. Basicamente, é a perda da homeostasia da unidade funcional menisco-cartilagem-osso subcondral. A prevalência dessa condição em pacientes acima de 65 anos é de 60% em homens e de 75% em mulheres. 

Existem dois tipos básicos de artrose: a artrose primária, sem etiologia aparente e a artrose secundária, na qual há uma alteração de base responsável pelo seu aparecimento. As condições mais comuns que promovem artrose secundária são: patologias inflamatórias, lesões meniscoligamentares, fraturas e infecções. 

A história clínica da gonartrose é o protótipo de osteoartrite. O paciente evolui ao longo de anos com dor de caráter mecânico que apresenta períodos de exacerbação com aumento da intensidade da dor, derrame articular, diminuição da amplitude de movimento articular e crepitação articular. Nos quadros mais avançados a dor torna-se presente mesmo no repouso. 

O diagnóstico da gonartrose é realizado com base no binômio exame clínico-imagem. Quanto ao exame clínico, leva-se em consideração a anamnese e o exame físico. Na maioria dos casos a realização de uma radiografia simples da articulação acometida é suficiente para o diagnóstico. Para diagnóstico diferencial de causas secundárias são necessários outros métodos como: tomografia computadorizada, cintilografia óssea e ressonância magnética. A radiografia simples deve ser solicitada nas incidências anteroposterior, com apoio monopodálico, perfil e Rosenberg (em que há 45º de flexão do joelho).

O exame de imagem habitualmente mostra-se alterado, e os achados mais comuns são: diminuição do espaço articular, que corresponde à perda da massa cartilaginosa; esclerose subcondral, devido a uma reação do organismo para impedir a progressão do desgaste ósseo; cistos subcondrais, formados pelo acúmulo de líquido sinovial em microfraturas; e osteófitos, como processo de ossificação para tentar aumentar a área de distribuição de carga. 

Classifica-se radiologicamente a gonartrose (utilizando o sistema de classificação de Ahlback que estratifica a severidade da osteoartrite do joelho utilizando as incidências em AP, com apoio, e perfil a 30º de flexão) em grau: I) diminuição do espaço articular; II) obliteração do espaço articular; III) contato ósseo menor que 5mm; IV) contato ósseo entre 5 e 10 mm ou presença de osteófito posterior. 

O tratamento da artrose inicialmente é conservador, com perda de peso corporal, reabilitação funcional e uso de medicamentos analgésicos e “condroprotetores”. Em caso de falha terapêutica, está indicada a opção cirúrgica. Para tal, deve-se considerar a idade do paciente, a demanda física, a expectativa com os resultados do tratamento, o tipo de artrose, o peso corporal e a evolução da doença. De modo geral, pode ser realizado artroscopia, osteotomia e artroplastia de joelho parcial ou total.

Aspectos relevantes

  • A osteoartrite é uma doença articular degenerativa de elevada morbidade e impacto na saúde pública; 
  • É uma condição insidiosa, progressiva e com potencial de incapacitação funcional; 
  • Existem dois tipos básicos de artrose: a primária ou idiopática e a secundária, na qual há um fator predisponente; 
  • A radiografia simples da articulação é suficiente para visualizar as consequências do processo inflamatório-degenerativo e sugerir o diagnóstico; 
  • As alterações radiográficas mais comuns são: a redução do espaço articular, a presença de osteófitos, os cistos e a esclerose subcondrais.
  • O tratamento a princípio é conservador, com redução de peso corporal, reabilitação funcional e analgesia. Pode ser empregado condroprotetores com a intenção de retardar o processo degenerativo; 
  • A opção cirúrgica é aventada após falha da terapia conservadora.

Referências bibliográficas:

  • AHLBACK, S. Osteoarthosis of the knee: a radiographic investigation, Acta Radiol Diagn (Stockh). 1968:Suppl 277:7-72.
  • CAMANHO, G. I. Osteoartrose do joelho. In: HERNANDEZ, A. J. Ortopedia do adulto, 2004 
  • HEBERT, S. Ortopedia e traumatologia – Princípios e práticas, 2009.

Responsável 

Rafael Waldolato Silva, acadêmico do 12º período de Medicina da UFMG 

Email: [email protected] 

Orientador 

Gustavo Waldolato Silva, HUCM. 

Email: [email protected] 

Revisores

Fellype Borges, Fernanda Padilha, Cairo Mendes, Mateus Silva e Profª Viviane Parisotto

 

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