Quiz: Paciente com lesões de pele recorrentes. Qual o diagnóstico?

Inicialmente, as lesões acometiam regiões de dobras dos braços e pernas mas, há cinco anos, passaram a ocorrer de forma disseminada no corpo.

Paciente do sexo feminino, 20 anos, comparece ao Centro de Saúde com queixa de lesões de pele recorrentes (imagens 1 a 3) desde os quatro anos de idade. Inicialmente, as lesões acometiam regiões de dobras dos braços e pernas mas, há cinco anos, passaram a ocorrer de forma disseminada pelo corpo, concentrando-se no dorso. As lesões são pruriginosas, aparecem cerca de duas vezes por mês e pioram em momentos de estresse ou com uso de roupas de lã. Há melhora parcial com uso de corticoide tópico.

Fotografia das regiões cervical e dorsal da paciente.
Fotografia da face medial da coxa direita.
Fotografia dos membros inferiores.
Quiz 1/

Considerando as imagens apresentadas e o caso descrito, qual o diagnóstico mais provável para essa paciente? 

Comentários
Imagem 1: Fotografia das regiões cervical e dorsal da paciente mostrando eczema crônico (contorno em vermelho), com presença de eritema (mácula avermelhada que ocorre por vasodilatação), espessamento cutâneo e áreas liquenificadas (áreas de espessamento com acentuação dos sulcos e da cor da pele).
Imagem 2: Fotografia da face medial da coxa direita. Visibiliza-se eczema crônico difuso (contornos em vermelho), com presença de eritema, espessamento cutâneo e ressecamento da pele.
Imagem 3: Fotografia de membros inferiores. Nota-se eczema difuso em ambas as pernas e coxas (contorno vermelho). Na região do joelho esquerdo, é possível observar uma área edemaciada e eritematosa (elipse amarela), sem orifício central, dolorosa e sem eliminação de secreções, sugestiva de infecção bacteriana secundária.

Diagnóstico

A dermatite atópica (DA), ou eczema atópico, é uma doença de diagnóstico essencialmente clínico. O critério de Hanifin e Rajka é o mais utilizado, devendo o paciente apresentar 3 critérios maiores e 3 menores para o diagnóstico da doença. A paciente do caso apresenta 3 critérios maiores – prurido, dermatite crônica e recidivante e morfologia e distribuição típica das lesões – e 3 menores – xerose, curso influenciado por fatores ambientais e curso influenciado por fatores emocionais. 

A dermatite seborreica é uma inflamação de pele que cursa com descamação e eritema, principalmente nas regiões mais oleosas da face, como sobrancelhas, couro cabeludo e orelhas. Há placas brancas e amareladas que descamam e geram prurido. 

A dermatite de contato é uma reação inflamatória em resposta à exposição a um agente, podendo ser irritativa ou alérgica. Na dermatite irritativa, as lesões são geralmente restritas à região do contato e cursam com prurido, eritema, ressecamento da pele e até fissuras.  

Por fim, a psoríase é uma doença de pele crônica e não contagiosa, caracterizada pela formação de placas secas e espessas, bem delimitadas, avermelhadas e com escamas esbranquiçadas, quadro não compatível com o da paciente do caso. 

Discussão do caso 

A dermatite atópica (DA), ou eczema atópico, é uma doença inflamatória cutânea crônica, multifatorial e associada à atopia, na qual o paciente apresenta episódios recorrentes de eczema pruriginoso. A patogênese da DA é complexa, envolvendo alterações genéticas da barreira cutânea (imagem 4) e uma predisposição do sistema imune a estabelecer reações de hipersensibilidade mediada por IgE a antígenos indolentes a outras pessoas. Ela está muitas vezes associada a outras atopias, como asma e rinite alérgica, caracterizando a chamada “tríade atópica”. Cerca de 60% dos casos de DA manifestam-se no primeiro ano de vida. A doença tem forma leve em 80% das crianças e melhora gradualmente até o fim da infância em cerca de 70% dos casos.

Tabela 1: Critérios de Hanifin e Rajka para diagnóstico de dermatite atópica.

As lesões da dermatite atópica podem ser localizadas ou disseminadas, crônicas ou recidivantes, e variam de acordo com a idade. Suas características estão resumidas na tabela 2 e imagens 5, 6 e 7. 

Tabela 2: Distribuição e características das lesões eczematosas de acordo com a faixa etária.

Imagem 5: Padrão de distribuição do eczema da dermatite atópica, de acordo com a idade: (A) lactentes; (B) crianças; (C) adolescentes e adultos. [Fonte: Weidinger S, Novak N. Atopic dermatitis, 2016. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(15)00149-X/fulltext]

Imagem 6: Dermatite atópica de padrão agudo/subagudo em  lactente, acometendo região da face, principalmente bochechas e mento, e poupando as regiões perioral e paranasal. [Fonte: Stanway A. Atopic dermatitis, 2004. Disponível em:  https://www.dermnetnz.org/topics/atopic-dermatitis/?utm_source=DermNet+NZ+Newsletter&utm_campaign=66ca750a85-EMAIL_CAMPAIGN_2018_04_20&utm_medium=email&utm_term=0_cbb5cd52f2-66ca750a85-70595583&mc_cid=66ca750a85&mc_eid=995d59defd] 

Imagem 7: Dermatite atópica de padrão crônico no adulto, acometendo dorso do pé, com eczema descamativo, liquenificação e escoriação. [Fonte: Peterson JD, Chan LS. A Comprehensive Management Guide for Atopic Dermatitis, 2006. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/551352_3]
A principal complicação da dermatite atópica é a infecção secundária, principalmente devido à alteração da barreira cutânea típica da doença e à contaminação bacteriana por Staphylococcus aureus com o prurido. O manejo da dermatite atópica consiste em cuidados gerais e tratamento medicamentoso, e varia de acordo com a gravidade da doença (tabela 3).  

Tabela 3: Manejo da dermatite atópica. 

Aspectos relevantes

  • A dermatite atópica é uma doença inflamatória cutânea crônica e multifatorial; 
  • A DA está muitas vezes associada a outras atopias, como a asma e a rinite alérgica; 
  • O diagnóstico da dermatite atópica é clínico, e o critério de Hanifin e Rajka é o mais utilizado;  
  • O padrão do eczema da dermatite atópica varia de acordo com a faixa etária do paciente acometido; 
  • O tratamento da dermatite atópica é individualizado e envolve cuidados gerais, tratamento tópico e sistêmico. 

Referências: 

  • Leite RMS, Leite AAC, Costa IMC. Dermatite atópica: uma doença cutânea ou uma doença sistêmica? A procura de respostas na história da dermatologia. An Bras Dermatol. 2007;82(1):71-8. 
  • Carvalho VO, Sole D, Antunes AA, Bau AEK, Kuschnir FC, Mallozzi MC, et al. Guia Prático de atualizaçao em dermatite atópica Parte II: abordagem terapêutica. Arq Asma Alerg Imunol. 2017;1:157-82. 
  • Castro APM, Sole D, Filho NAR et al (2006) Guia prático para manejo da dermatite atópica. Opinião conjunta de especialistas em alergologia da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia e da Sociedade Brasileira de Pediatria. Rev Bras Alerg Imunopatol 6:267–282
  • Wollenberg A et al. “Consensus-based European guidelines for treatment of atopic eczema (atopic dermatitis) in adults and children: part I.” Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology : JEADV vol. 32,5 (2018): 657-682. 

Responsável 

Rafaela de Souza Furtado, acadêmica do oitavo período da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: rafaelasouza.furtado[arroba]gmail.com 

Orientador 

Dra. Raquel Ferreira Queiroz, médica residente em Dermatologia no Hospital das Clínicas da UFMG. E-mail: raquelq21[arroba]gmail.com  

Agradecimento 

Agradecemos ao instagram @dermatopicos pela parceria com o projeto para realização deste caso clínico. 

Revisores 

André Luís Drumond, Leandra Diniz, Rafael Arantes, Melina Araújo, Larissa Rezende e Prof. Júlio Guerra Domingues. 

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